Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 20 de Junho de 2025 às 00:25

Porto de Pelotas se prepara para novo protagonismo

Avanço da Hidrovia do Mercosul deve ampliar potencial do complexo

Avanço da Hidrovia do Mercosul deve ampliar potencial do complexo

/Michel Corvello/Divulgação/JC
Compartilhe:
Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
Com importância estratégica na logística da produção florestal e de celulose, o Porto de Pelotas aponta para um protagonismo regional a partir do avanço no projeto de criação da Hidrovia do Mercosul. No início do ano, foi autorizada pelo governo federal a abertura da tomada de subsídios, com previsão de investimentos de R$ 43,5 milhões, para a concessão da hidrovia da Lagoa Mirim, que tem como objetivo unificar a logística hidroviária entre Brasil e Uruguai.
Com importância estratégica na logística da produção florestal e de celulose, o Porto de Pelotas aponta para um protagonismo regional a partir do avanço no projeto de criação da Hidrovia do Mercosul. No início do ano, foi autorizada pelo governo federal a abertura da tomada de subsídios, com previsão de investimentos de R$ 43,5 milhões, para a concessão da hidrovia da Lagoa Mirim, que tem como objetivo unificar a logística hidroviária entre Brasil e Uruguai.
O trecho a ser concedido inclui a Lagoa Mirim - atualmente sem navegação comercial - e o Canal do São Gonçalo, com 140 quilômetros de extensão. A ideia é que a concessão da nova hidrovia seja feita entre os dois países, com prazo de 15 anos.
No Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) do projeto, o cronograma de construção do terminal portuário está previsto para junho de 2026.
"O Porto de Pelotas já tem uma vocação muito importante na operação de toras de madeira, mas é um porto que olhamos como um grande potencial de crescimento e de diversidade de cargas. Quando falamos em uma hidrovia binacional, por exemplo, o papel de Pelotas é central", aponta o diretor-presidente da Portos RS Cristiano Klinger.
Gino Salvador, um dos sócios da Freedom, especializada na produção de veículos elétricos e automação especialmente na área da saúde, percebeu este potencial. Desde o final do ano passado, a partir de um contrato assinado junto à Portos RS, opera, por um período inicial de quatro anos, um terminal para recebimento e armazenamento de contêineres no Porto de Pelotas. A princípio, para beneficiar a sua expansão de produção e exportações, mas também com vistas ao avanço das operações portuárias em Pelotas.
"Hoje, já temos uma capacidade para operar mais de 20 contêineres por dia, mas podemos dobrar essa capacidade. Estamos trabalhando a abertura dessa operação a terceiros, inclusive com boas tratativas com indústrias do setor metalmecânico da Serra, por exemplo", aponta Salvador.
A operação da Freedom abre portas no País e no mundo para o polo da indústria da saúde de Pelotas. A cidade concentra um arranjo produtivo das empresas de saúde e biotecnologia. "O nosso negócio surgiu da necessidade do meu filho. Para solucionar a dificuldade de mobilidade dele, desenvolvemos há quase 40 anos uma cadeira de rodas motorizada. Era uma atividade secundária na empresa, mas depois de cinco anos, a demanda só aumentava. Então, passamos a desenvolver tecnologia própria e, depois de 10 anos, já atuávamos também com equipamentos de logística, mas a nossa prioridade é a saúde. Somos a única indústria deste setor, no mundo, a desenvolver a tecnologia própria e fabricar os equipamentos em um mesmo complexo", resume Gino Salvador.
Entre os equipamentos desenvolvidos pela empresa estão sistemas de automação no movimento de pacientes dentro de UTIs, por exemplo.
O parque industrial da Freedom tem 7,5 mil metros quadrados a apenas 500 metros da área portuária, com outros 4 mil metros quadrados. A empresa emprega 140 pessoas e investe R$ 6 milhões em expansão. Daí a importância da operação portuária. Além do controle do escoamento da produção para todos os estados do Brasil, o plano é internacionalizar a produção. Neste segundo semestre, haverá exportação para o Paraguai. Com o porto, a intenção é integrar pelo menos Uruguai e Argentina nesta rota.
A operação portuária, porém, tem duas vias. Mais de 40% da matéria-prima utilizada pela empresa é importada.
"É um armazém alfandegado ou entreposto para recebimento de produtos, saindo do gargalo dos grandes portos", aponta.
 

Um terminal com vida na Região Sul

Otroporto, Mapa Econômico do RS 2025

Otroporto, Mapa Econômico do RS 2025

/Valder Valeirão/Divulgação/JC
Sempre que algum novo visitante chega ali, a expressão de surpresa se repete: "bah, eu nem sabia que existia isso no porto". 
Fazer com que a cidade de Pelotas se reencontre com o seu porto é encarado como um passo fundamental para que o local assuma um novo protagonismo. E este é o papel da Otroporto, que, a partir de um armazém, que pertencia à autarquia portuária e estava degradado, tem tornado o local uma referência cultural e educacional na cidade.
Não há um número exato, mas a estimativa é de que, desde 2019, quando a Associação Otroporto foi formalizada, mais de 100 mil pessoas tenham sido beneficiadas de alguma maneira - e tiveram contato com o porto.
"Enquanto estamos falando, por exemplo, temos 80 crianças aqui na sede, que funciona como um polvo, com vários tentáculos. Temos diversos projetos sendo desenvolvidos simultaneamente, da cultura à ciência. No ano passado, por exemplo, iniciamos a nossa incubadora para novas iniciativas na indústria cultural. No Faber Sapiens, os jovens vão para o laboratório e têm iniciação científica com uma estrutura que não têm na escola pública, já foram 4 mil jovens formados. Além de projetos de economia solidária e reciclagem com capacitação de pessoas", conta o diretor de projetos da Otroporto, Duda Keiber.
A partir dos apoios da CMPC e da Sagres, que hoje operam no Porto de Pelotas, o Otroporto foi potencializado. Justamente para conectar os elos dessa redescoberta da região portuária.
"Este local já foi uma chave do desenvolvimento econômico do Estado e, por muito tempo, a cidade virou as costas para o porto. A Otroporto surge como uma reativação desse potencial. Por muito tempo, após o final do ciclo da Anglo, que produzia conservas, a região ficou degradada, com galpões e prédios desocupados. A universidade retomou as instalações da Anglo e iniciou um pouco dessa recuperação do território que tem uma identidade e cultura própria", resume Keiber.
Atualmente são 24 funcionários atuando na Otroporto, que fica no cais mais antigo e, em breve, deve expandir sua estrutura para um segundo armazém. Entre os resultados mais reconhecidos na cidade está o projeto Porto-Memória, que começou como uma coluna em um jornal local, recuperando histórias e a memória da cidade relacionada ao porto, se transformou em um livro e até em um álbum de figurinhas de Pelotas.
 

A movimentação do Porto de Pelotas

Até o final de março, o Porto de Pelotas não movimentou contêineres
 No 1º trimestre de 2025, o porto, em recuperação após a cheia, movimentou 277,4 mil toneladas, uma redução de 7,4% em relação a 2024
 96% da carga em toras de madeira e 4% em clínquer
FONTE: PORTOS RS

Exportações das Regiões Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste

São 7 municípios das regiões entre os 50 maiores exportadores gaúchos entre janeiro e abril deste ano. Santa Vitória do Palmar, Capão do Leão e São Gabriel são novidades. Somados os
7 municípios movimentaram US$ 992,4 milhões
 Rio Grande (1º do RS entre janeiro e abril) movimentou
US$ 781,2 milhões, redução de 5,8% em relação ao mesmo período de 2024: 53,4% em soja, tortas e resíduos de óleo de soja
 Pelotas (16º do RS entre janeiro e abril) movimentou
US$ 53,8 milhões, redução de 2,7% em relação a 2024: 42% em arroz; 31% em boi vivo
 Capão do Leão (17º do RS entre janeiro e abril) movimentou
US$ 52,7 milhões, com alta de 154% em relação a 2024: 90% em boi vivo
 Santa Vitória do Palmar (24º do RS entre janeiro e abril) movimentou US$ 38,4 milhões, com alta de 347,5% em relação a 2024: 78% em trigo e mistura de trigo com centeio
 Bagé (39º do RS entre janeiro e abril) movimentou
US$ 24,7 milhões, com redução de 13,3% em relação a 2024: 53,2% em carne bovina
 Charqueadas (42º do RS entre janeiro e abril) movimentou
US$ 23,9 milhões, com alta de 15,5% em relação a 2024: 98,6% em barras perfis de aço e ferro
 São Gabriel (47º do RS entre janeiro e abril) movimentou
US$ 17,7 milhões, com alta de 55,9% em relação a 2024: 74% em carne bovina
FONTE: MINISTÉRIO DO COMÉRCIO EXTERIOR

Notícias relacionadas