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Publicada em 21 de Agosto de 2025 às 17:26

Plantio de soja avança em novas fronteiras gaúchas

Até mesmo em regiões onde não havia a prática de cultivar a cultura, o plantio de soja também cresce

Até mesmo em regiões onde não havia a prática de cultivar a cultura, o plantio de soja também cresce

Roberto Kazuhiko Zito/Embrapa Soja/Divulgação/JC
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Ana Stobbe
Ana Stobbe Repórter
A área plantada de soja no Rio Grande do Sul vem crescendo gradativamente nos últimos anos. Entre as safras de 2020/2021 e 2024/2025, a extensão territorial da cultura avançou sucessivamente em todos os ciclos, chegando a mais de 6,7 milhões hectares plantados, segundo os dados mais recentes divulgados pela Emater-RS.
A área plantada de soja no Rio Grande do Sul vem crescendo gradativamente nos últimos anos. Entre as safras de 2020/2021 e 2024/2025, a extensão territorial da cultura avançou sucessivamente em todos os ciclos, chegando a mais de 6,7 milhões hectares plantados, segundo os dados mais recentes divulgados pela Emater-RS.
Embora a produção mais tradicional esteja no Norte gaúcho, onde há importantes iniciativas de beneficiamento da oleaginosa, a soja tem ganhado espaço em outras partes do Rio Grande do Sul. É o caso da Região da Campanha, onde está a cidade com a maior área plantada no Estado: Dom Pedrito, com cerca de 160 mil hectares. Na faixa central do Estado também há avanços: além da verticalização em Cachoeira do Sul, o município de Tupanciretã se destaca com 147,9 mil hectares cultivados de soja. 
Até mesmo em regiões onde não havia a prática de cultivar a cultura, o plantio de soja também cresce. É o caso da Região das Hortênsias, onde foi criada uma nova fronteira agrícola, apesar da falta de atratividade climática para o cultivo. Até 2014, São Francisco de Paula, por exemplo, não possuía nenhum hectare registrado como área plantada de soja pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano seguinte, os pioneiros no cultivo da oleaginosa suas atividades e, hoje, já são quase 8 mil hectares em área plantada no município.
Um deles foi o produtor Alexandre Fais, que cultiva batata-inglesa no município e estava em busca de uma nova espécie para realizar a rotação da cultura. Até então, a escolha era pelo milho, mas os agricultores esperavam resultados melhores: "era muito complicada a armazenagem e para plantar também tinha um custo muito alto", avalia a sucessora da propriedade, Andressa Fais, filha de Alexandre.
Família Fais foi uma das pioneiras na produção de soja em São Francisco de Paula | Acervo Pessoal/Agro Fais/Divulgação/JC
Família Fais foi uma das pioneiras na produção de soja em São Francisco de Paula Acervo Pessoal/Agro Fais/Divulgação/JC
 
Na tentativa e erro, as primeiras safras, iniciadas em 2016, foram mais difíceis, com o desafio de encontrar os melhores cultivares para o clima frio da região e o enfrentamento ao chamado mofo branco, uma doença fúngica agressiva para as plantas. Entretanto, foi possível contornar a situação e crescer.
Enquanto no primeiro ano foram cultivados entre 350 e 400 hectares, na safra mais recente a área plantada chegou a 1.865, gerando 8,1 mil toneladas de soja. O sucesso da lavoura teve como pano de fundo um investimento em pesquisa. "A gente faz um estudo para conhecer melhor as cultivares em feiras e eventos promovidos por empresas (do ramo da agropecuária), para encontrar os que melhor se encaixam para o nosso período de maturação", explica Andressa.
As características climáticas, agrárias e geográficas dos Campos de Cima da Serra e das Hortênsias possuem particularidades em relação às demais áreas do Estado. Com uma altitude elevada, essa porção do território gaúcho conta com temperaturas negativas, geadas, neblina e, às vezes, até neve.
"É uma região que produz soja em uma janela de plantio curto. Porque se plantar demais corre o risco de perder por geada tardia. Se plantar tarde demais, corre o risco de não conseguir colher por dificuldades no processo de colheita quando começa a ficar mais úmido", destaca o técnico da Emater-RS João Villa.
Apesar dos empecilhos pelo frio, a distribuição de chuvas é um diferencial. Especialmente, considerando os impactos dos eventos climáticos extremos dos últimos anos, como estiagens e precipitações intensas. "Eu posso dizer que é um lugar muito abençoado, uma terra realmente diferenciada", destaca Andressa, se referindo ao clima de "São Chico", apelido pelo qual a cidade é carinhosamente chamada.
A perspectiva é complementada por Villa: "As chuvas são bem distribuídas, apesar do último ano ter sido problemático em parte dos municípios. Por outro lado, as temperaturas não são tão altas como nos outros lugares, mesmo que falte chuva. Então, a seca causa menos danos", acrescenta o técnico.

Cultivo da soja chega à Região dos Campos de Cima da Serra

Próximo às Hortênsias, na região de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, diferentemente do caso de São Francisco de Paula, o plantio é mais antigo e já está estabelecido há mais de uma década. Nesse caso, o pioneirismo é explicado por fatores ligados ao solo, mais atrativo para o grão devido à sua profundidade.
A área plantada de soja segue crescendo aos poucos. Entretanto, há pouca possibilidade de expansão para os próximos anos na região devido à necessidade de preservação da Mata Atlântica. "Praticamente não sobraram campos nativos por Vacaria, Esmeralda e Muitos Capões. Então, tem muita restrição em abrir novas áreas. A tendência é que, se houver alguma expansão, seja pequena", conjectura Villa.

Herbicidas hormonais preocupam outras culturas

Nos Campos de Cima da Serra, a lavoura de soja coexiste com outras culturas já tradicionais dos principais municípios da região. Principalmente, as árvores frutíferas, como as macieiras bastante cultivadas em Vacaria. Entretanto, a simbiose é prejudicada pelo uso de defensivos hormonais no ciclo da leguminosa.
O principal deles, o ácido diclorofenóxiacético, conhecido como 2,4-D, tem prejudicado os pomares. "Por ser um hormônio vegetal, se ele deriva para uma planta sensível, mesmo em pequena quantidade, ele acaba gerando um grande prejuízo por gerar um desequilíbrio hormonal", explica Villa. O problema também é observado em outras regiões do Estado onde a soja coexiste com outras plantas, como os parreirais e os olivais da Região da Campanha.
Desde o mês de abril, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul tem discutido em uma subcomissão a possibilidade de suspensão do defensivo. Entretanto, já existem normativas técnicas instituídas em 2022 pela Secretaria Estadual da Agricultura que regulamentam tanto a venda quanto o uso dessas substâncias.

Maiores produtores de soja nas Regiões da Serra, Campos de Cima da Serra e Hortênsias

  1. Vacaria (59 mil hectares)
  2. Muitos Capões (50 mil hectares)
  3. Esmeralda (30 mil hectares)
  4. Campestre da Serra (12 mil hectares)
  5. Bom Jesus (9 mil hectares)
  6. São Francisco de Paula (7,9 mil hectares)
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal (2023)

Evolução da área de soja plantada em São Francisco de Paula

Ano Área plantada
2014 0 ha
2015 1500 ha
2016 1500 ha
2017 3000 ha
2018 6200 ha
2019 7500 ha
2020 7500 ha
2021 7500 ha
2022 7900 ha
Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal (2023)

Evolução do plantio de soja nas Regiões da Serra, Campos de Cima da Serra e Hortênsias

Safra Área plantada
2020/2021 237.075 hectares
2021/2022 237.718 hectares
2022/2023 251.439 hectares
2023/2024 248.999 hectares
2024/2025 256.612 hectares
Fonte: Emater-RS

Crescimento da área plantada de soja no RS nos últimos anos

 
Safra Área plantada
2020/2021 6.075.024 hectares
2021/2022 6.314.490 hectares
2022/2023 6.513.891 hectares
2023/2024 6.681.716 hectares
2024/2025 6.770.405 hectares
Fonte: Emater-RS
 

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