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Publicada em 01 de Agosto de 2025 às 16:33

Pequenos produtores são aposta da silvicultura nos Vales do Rio Pardo e do Taquari

Afubra tem projetos para incentivar plantio de eucaliptos há décadas

Afubra tem projetos para incentivar plantio de eucaliptos há décadas

Arquivo Afubra/Divulgação/JC
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Ana Stobbe
Ana Stobbe Repórter
Se a produção de tabaco movimenta a economia da Região dos Vales, associada a ela está a plantação de eucaliptos e acácia negra, buscando a geração de energia para a própria atividade fumageira. Afinal, o processo da cura do tabaco do tipo Virgínia exige a secagem em estufas de lenha, com temperatura e umidade controladas. Mas, além da autossuficiência energética, os pequenos produtores têm utilizado os excedentes para complementação de renda.
Se a produção de tabaco movimenta a economia da Região dos Vales, associada a ela está a plantação de eucaliptos e acácia negra, buscando a geração de energia para a própria atividade fumageira. Afinal, o processo da cura do tabaco do tipo Virgínia exige a secagem em estufas de lenha, com temperatura e umidade controladas. Mas, além da autossuficiência energética, os pequenos produtores têm utilizado os excedentes para complementação de renda.
A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) iniciou há cerca de 40 anos um programa para incentivar os produtores de tabaco a realizarem o plantio florestal para obterem sua própria madeira. Aliado a isso, somam-se iniciativas do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco), que começaram em meados de 1970.
"Isso é algo que os produtores de tabaco procuraram, porque também é uma forma de garantir a continuidade da sua atividade, não dependendo do mercado, por exemplo. E também para poder contar com madeira quando ele precisar. E isso começou a se aculturar. Veja, são 40 anos, 4 décadas dessa história, e isso só foi se aprimorando ao longo dos anos", avalia o gerente de Produção Agroflorestal da Afubra, Juarez Pedroso.
Dessa forma, hoje, a cobertura vegetal média dos produtores de tabaco é superior à do Rio Grande do Sul. Enquanto os agricultores possuem florestas em 27% do solo, o Estado tem a média de 15%, conforme apresentou o presidente do Sinditabaco, Valmor Thesing, durante o evento do Mapa Econômico do RS realizado pelo Jornal do Comércio, em Lajeado, no dia 10 de julho.
Os programas, inicialmente, forneciam mudas e informações para o melhor plantio das espécies. Hoje, melhorias genéticas estão associadas, tornando as árvores mais adequadas para seus objetivos: geração de energia e abastecimento de indústrias e serrarias. "Os clones entraram nesse universo com o melhoramento genético das espécies, entregando mais produtividade e uniformidade na floresta", acrescenta Pedroso.
Além da necessidade de autossuficiência energética, produtores de outras culturas têm apostado no cultivo de eucaliptos ou de acácia negra em áreas não utilizadas para plantio agrícola. Parte disso, pode ser explicado pelas características geográficas das regiões, localizadas ao centro do Estado e contando com relevos acidentados.
A isso, soma-se a redução das famílias de pequenos agricultores, que, consequentemente, possuem menos mão de obra e diminuem as áreas plantadas em suas propriedades. "Eles começam a concentrar as suas ações nas lavouras principais e para o resto da área eles não têm perna. Aí vai virando capoeira, que é o estágio inicial de regeneração. Quando chega no estágio médio, a área não pode mais ser reconvertida e o produtor acaba literalmente perdendo ela", explica o professor Jorge Farias, vinculado ao programa de pós-graduação em Engenharia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria.

Agricultura familiar fornece madeira para indústrias na região

Como forma de reverter a perda de áreas, Farias defende uma economia agroflorestal, associando atividades agropecuárias a uma silvicultura voltada ao abastecimento de empresas de pequeno a grande porte. Principalmente, ao considerar que o plantio de árvores para extração de madeira exige menos mão de obra.
 
Entre as empresas que já aderiram a esse circuito econômico está a Haas Madeiras, de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. Segundo o diretor da empresa, Junior Haas, a maior parte da matéria-prima utilizada pela madeireira é oriunda de pequenos produtores associados, a partir de um programa de fomento florestal que já está funcionando há cinco anos. Hoje, são pelo menos 200 famílias que contribuem com a oferta de eucaliptos e é possível que o número se expanda para até 2 mil famílias.
 
"Estamos vendo uma sistemática bastante interessante na região, que é o desenvolvimento de um hub florestal baseado em oferta e demanda, que eu entendo que é o modelo mais favorável do ponto de vista socioeconômico, porque o mercado se autorregula de forma saudável. É diferente do que acontece com empresas grandes que possuem um poder econômico muito grande e geram uma dependência", avalia Haas.
Por outro lado, há a presença da Dexco, que possui uma unidade florestal em Taquari, no Vale homônimo, e que conta com abastecimento de pequenos produtores de madeira da Região. "É uma empresa verticalizada associada à Ageflor e que mostra que é possível, sim, termos hoje um programa de fomento integrando agricultura familiar a grandes projetos industriais", comenta o professor Farias.
 
De acordo com o Plano de Manejo Florestal para 2025, a Dexco mantém cerca de 13 mil hectares de plantio em parcerias de fomento florestal com pequenos produtores localizados no Estado do Rio Grande do Sul. As áreas também são utilizadas para o ecoturismo, com a Trilha Ecológica do Rio Taquari, que apresenta florestas nativas e comerciais aos visitantes.
 

Atualização do Zoneamento Ambiental da Silvicultura permite ampliação dos plantios

O Conselho Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (Consema) aprovou no dia 10 de julho uma atualização no Zoneamento Ambiental da Silvicultura (ZAS), que regula os plantios florestais para fins comerciais no Estado. Assim, foi quadruplicada a quantidade de hectares de plantio permitidas para cada unidade de paisagem natural por bacia hidrográfica.
 
Os critérios levam em consideração o solo, a vegetação, a fauna e a disponibilidade de água. Além disso, o objetivo do ZAS passou a objetivar a garantia de que os plantios não interrompam os corredores ecológicos — áreas naturais que permitem o deslocamento de animais e a troca genética entre espécies, conforme informa a Secretaria Estadual do Meio Ambiente. 
 
"Com a atualização, o Estado busca conciliar desenvolvimento econômico com responsabilidade ambiental, garantindo que o crescimento do setor florestal ocorra de forma sustentável e planejada", informa o material disponibilizado no site da Secretaria.
 
A mudança foi comemorada pela Associação Gaúcha de Produtores de Florestas Plantadas (Agaflor). "Isso aí abre uma oportunidade muito boa, porque o Rio Grande do Sul acho que era, se não o único, um dos poucos estados que ainda tinha um zonamento tão restritivo", afirmou o presidente da entidade, Mathias Almeida.
 
Ele estima que, nas regiões contempladas por este capítulo do Mapa Econômico do RS, o cultivo possa crescer entre 200 e 300 mil hectares.
 
A aprovação do novo ZAS gerou críticas de ambientalistas que reclamam de um incentivo a monoculturas florestais de plantas exógenas no Estado que, conforme defendem, degradam os biomas gaúchos. Entretanto, o setor defende que a plantação de espécies como eucalipto, acácia negra e pinus oferecem cobertura do solo, auxiliam na fixação de estoques de carbono no solo e contribuem para a resiliência climática.
 

Maiores áreas plantadas nas regiões Central, Jacuí Centro e Vales do Rio Pardo, Jaguari e Taquari

  1. Encruzilhada do Sul
  2. Cachoeira do Sul
  3. Pantano Grande
  4. Taquari
  5. Cacequi

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