Durante a edição de Lajeado do Mapa Econômico do RS, realizada pelo Jornal do Comércio nesta quinta-feira (10), o presidente do Conselho de Administração da Docile Alimentos, Alexandre Heineck, destacou a importância de avanços na infraestrutura, a fim de melhorar a competitividade do Rio Grande do Sul. Os desafios enfrentados pela indústria gaúcha de alimentos estão em boa parte na logística.
Neste aspecto, um dos fatores que poderiam melhorar a situação do Estado seria a instalação do Porto de Arroio do Sal, no Litoral Norte. Segundo Heineck, 90% das exportações da Docile ocorrem por portos de Santa Catarina, mesmo com a empresa tendo sede e unidade fabril no Rio Grande do Sul.
"Temos um porto no estado, mas a maior parte da nossa produção exportada sai por Santa Catarina. Isso é um custo que vai direto nos resultados da empresa", afirmou Heineck durante o painel, que reuniu lideranças empresariais das Regiões Central, Vale do Taquari, Vale do Rio Pardo, Vale do Jaguari e Jacuí Centro, no auditório da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil).
“E infraestrutura não é apenas transporte. Precisamos de vias para escoamento da energia, para comunicação e para logística. Isso tudo impacta no desenvolvimento”, completou. Ele lembrou que o Rio Taquari já foi navegável até Muçum e que hoje enfrenta limitações de calado que impedem o transporte hidroviário. “Há décadas o transporte fluvial regrediu. Se no passado havia barcos a vapor trazendo açúcar de Pernambuco até Lajeado, hoje não conseguimos chegar a Estrela pela via fluvial”, comparou.
A Docile é a maior exportadora de doces do Brasil e atua há quase um século nesta produção. A empresa mantém unidades em Lajeado (RS) e em Vitória de Santo Antão (PE), somando cerca de 1.700 funcionários. De acordo com Heineck, investimentos recentes nas duas fábricas totalizam R$ 100 milhões e permitirão um crescimento de até 50% na capacidade produtiva.
Oportunidade com novas parceiras
A fabricante de doces tem buscado ampliar parcerias com empresas brasileiras para diversificar produtos e mercados. Heineck citou a colaboração recente com a Grendene, fabricante da marca Melissa, para o lançamento de uma bala licenciada, como exemplo de ações que buscam agregar valor e ampliar o alcance da marca.
O dirigente ainda defendeu mais ações voltadas à indústria. "Nunca se arrecadou tanto como agora. O recurso existe. O que falta é gente honesta e competente para canalizar isso para as infraestruturas que estão carentes”, disse. A crítica se estende às mudanças no financiamento à inovação. Segundo o empresário, o Sul e o Sudeste perderam acesso a linhas como o Finep, redirecionadas para o Norte e Nordeste do Brasil. “São questões estruturais que nos provocam, mas não nos estimulam. Se o governo não atrapalhar, já é muito. Se ajudar, melhor ainda”, avaliou.
O executivo também abordou os impactos da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros nos EUA, anunciada por Donald Trump na quarta-feira (9), e pregou por empenho nas mesas de negociação.
Outro ponto que preocupa o executivo é o esvaziamento populacional e produtivo do Rio Grande do Sul. “Nos anos 1970, o estado era conhecido como o celeiro do Brasil. Hoje, esse papel é exercido pelo Centro-Oeste. Nós perdemos essa posição”, disse.
Foco na educação
Para o presidente do Conselho da Docile, é necessário repensar a formação de mão de obra, com foco na educação de base. “Estimular apenas o ensino superior não resolve. Precisamos de educação fundamental e média de qualidade.”
Heineck defendeu que o estado adote planos de longo prazo que resistam às mudanças de governo. “Sem estabilidade nas diretrizes, o investidor recua. Mudanças frequentes de regras afugentam os recursos. Precisamos de planos estruturados, com metas realistas, para garantir previsibilidade.”
Além da estrutura logística e da educação, ele citou a perda de competitividade do Rio Grande do Sul em comparação a estados vizinhos. “Santa Catarina está em crescimento. O Paraná também se posiciona como centro de transformação de produtos. Perdemos protagonismo. Hoje, importamos mão de obra de outros estados e discutimos a necessidade de instalar unidades fora do RS.”
Ao final de sua intervenção, Heineck defendeu maior articulação entre os setores público e privado e a união de esforços para garantir um ambiente propício ao desenvolvimento. “O setor empresarial precisa se envolver mais. Não podemos deixar tudo nas mãos do setor público. É preciso compromisso coletivo para transformar a realidade regional e estadual”, concluiu.