Do Rio de Janeiro
O Brasil sediou nesta quarta-feira, 16 de julho, a 7ª edição do Fórum de Mídia e Think Tanks do Brics – sigla em inglês para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, países "fundadores" (o termo foi criado pelo economista britânico Jim O'Neill no início dos anos 2000 para designar o grupo dos então países emergentes). Nos últimos anos, o bloco recebeu a adesão de novos membros oficiais associados, além de nações parceiras.
Assim, o evento realizado no Rio de Janeiro teve a participação de 250 executivos e representantes de 150 organizações: meios de comunicação, centros de pesquisa, além de acadêmicos. O encontro reuniu participantes de 36 países, tendo tradução simultânea em português, espanhol, inglês, russo, chinês (mandarim) e árabe.
O foco foi em parcerias na área de comunicação, além da discussão de cooperação no uso da Inteligência Artificial. A tônica dos discursos foi de trabalho conjunto entre os países do chamado Sul global, com painelistas reiteradamente destacando a força dos países do Brics em termos representatividade no Produto Interno Bruto (PIB) mundial, na população do planeta e no comércio internacional.
Organizado pela agência de notícias estatal chinesa Xinhua, o evento, embora diverso em termos de nacionalidades, teve presença predominante de chineses. O presidente da Xinha, Fu Hua, na fala de abertura do encontro, observou que a realização da 17ª Cúpula do Brics no início do mês no Brasil consolidou ainda mais essa plataforma de cooperação de países emergentes. E estimulou que meios de comunicação e think tanks (organizações de pesquisa e análise de conjuntura) divulguem os países do Brics e promovam inciativas de cooperação e intercâmbio de informações e conteúdo.
Presidente da Xinha, Fu Hua, observou que a Cúpula do Brics no início do mês consolidou a plataforma de cooperação de países emergentes
Guilherme Kolling/Especial/JC
A ideia é permitir que órgãos de mídia tenham acesso a informações além das tradicionais agências de notícia globais, que têm sede principalmente nos Estados Unidos e na Europa. A Xinhua, que já tem parceria com veículos de comunicação de dezenas de países, lançou durante o evento o Plano de parceria de comunicação com mídias e think tanks do Sul global.
O diretor de cooperação internacional da agência de notícias Sputnik, da Rússia, Vasily Puschkov, destacou a importância do encontro, que permitiu a ele encaminhar oito parcerias com veículos de outros países. Na mesma linha, o editor-chefe do The Jakarta Post, da Indonésia, Mohamad Taufqurrohman, celebrou a oportunidade de ter mais histórias do sul global disponíveis para publicação.
Diretor-geral do diário La República, do Uruguai, Juan Carlos Blanco Sommaruga, observou que acordos com agências da China e da Rússia permitiram ao veículo ampliar seu noticiário.
Defesa do livre comércio e críticas aos EUA
Os discursos de representantes de diversos países foram além do tema da comunicação e também tiveram caráter político, com muitas citações ao governo do presidente chinês Xi Jinping. Em resumo, houve a defesa da união do Sul global, da prosperidade com livre comércio internacional, da cooperação multilateral e de uma nova governança internacional, com um papel mais relevante aos países do Brics.
Também houve críticas veladas e diretas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por anunciar tarifas a outros países. Representante do México, Yeidckol Gurwitz observou que o país tem acordo de livre comércio com os EUA, e ainda assim não escapou "da ameaça de ter seus produtos taxados em 30%".
Fórum de Mídia reuniu representantes de nações do bloco para evento no Rio de Janeiro
Guilherme Kolling/Especial/JC
Inteligência Artificial na comunicação e nos negócios
Diretor da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Gustavo Raposo foi o representante do governo federal do Brasil e celebrou o fato de o País ter recebido na semana passada a Cúpula do Brics, que agora tem 11 membros plenos (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, além de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Irã, Etiópia e Indonésia), e também a participação de 10 países parceiros e outros 8 nações convidadas.
Raposo mostrou alinhamento aos discursos, lembrando que a reunião do Brics foi marcada pela defesa do multilateralismo, pelo questionamento a tarifas no comércio internacional, bem como à preparação para a conferência do clima COP 30, que acontecerá em novembro em Belém do Pará.
O dirigente da Secom ainda defendeu que se organize uma arquitetura para a Inteligência Artificial para seu uso justo e equitativo entre as nações, dizendo que a IA "não pode ser um instrumento de manipulação na mão de bilionários".
O tema da Inteligência Artificial permeou outras falas que manifestaram preocupação com o bom uso da ferramenta. A novidade no Fórum de Mídia do Brics deste ano foi a participação de executivos de empresas de tecnologia chinesa, que também abordaram o tema da IA.
Para a televisão, por exemplo, foi citado o uso da ferramenta para a criação de novos conteúdos. Mas o tema foi além e incluiu ainda redes sociais e uso da IA na saúde. Liane Xiaodan, executiva da Guangzhou Kingmed Diagnostics Group, contou que a Inteligência Artificial já está sendo utilizada em exames médicos e na organização do atendimento, para potencializar o uso de recursos na área da saúde.
O vice-presidente da Kuaishou Technology e CEO de negócios internacionais da empresa – conhecida no Brasil pela rede social Kwai –, Ma Hongbin, observou que já são 60 milhões de usuários no Brasil, que podem criar e compartilhar vídeos de forma online, o que ganhou ainda mais força com o uso de Inteligência Artificial generativa. O executivo destacou o impulso dado a negócios com o lançamento da plataforma de e-commerce Kwai Shop.
Vice-presidente global de produto e e-commerce da Kuaishou, Ricky Xu apontou que a Inteligência Artificial pode transformar modelos de negócios, redesenhando a forma como conteúdos são desenvolvidos e entregues ao público. "Muda o jeito de criar. A Inteligência Artificial generativa tem novas ferramentas para a criação do conteúdo", salientou, citando o uso crescente de IA.