Rebeldes sírios incendiaram o mausoléu de Hafez al-Assad, o ditador que iniciou a dinastia encerrada no domingo passado com a fuga de seu filho e sucessor, Bashar, para a Rússia. Segundo a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos, baseada no Reino Unido, o ataque ocorreu nesta quarta-feira (11) na cidade de Qardaha, onde o ditador nasceu. Imagens obtidas pela agência France Presse mostram combatentes não identificados no prédio com pontos de incêndio, em torno do túmulo de Hafez (1930-2000).
Ele fica no centro de um grande salão que evoca uma mesquita. Além dele, está enterrado no local seu filho Bassel, o primogênito de Hafez que era considerado seu sucessor natural, mas que morreu em um acidente de carro em 1994, aos 32 anos.
Bassel dá nome ao aeroporto que, a 10 km dali, tornou-se a principal base aérea de Vladimir Putin fora da Rússia, em Hmeimim. A manutenção do local e do porto de Tartus, a 60 km dali, é a preocupação central de Moscou na esteira da queda de seu aliado.
Não está claro se os rebeldes são da HTS (Organização para a Libertação do Levante), grupo que liderou a ofensiva de 12 dias que pôs fim à ditadura. Hafez governou com mão de ferro de 1971, quando deu um golpe militar e consolidou-se como único líder do país, até 2000, quando morreu de um ataque cardíaco.
Personalista, ele estimulou um culto à sua figura que foi seguido pelo filho, que aos 34 anos assumiu o poder de forma inconstitucional até para o padrão da ditadura, que exigia ao menos 40 anos para o cargo nominal de presidente.
Qardaha é uma das cidades de maior concentração de alauitas, o ramo do islamismo ao qual à família Assad é ligado, na região de Latakia. Os alauitas são minoritários, compondo entre 10% e 13% da população síria, mas dominam o Exército e as estruturas de poder deixadas por Assad.
Isso agora vai mudar com a transição anunciada como pacífica, mas imersa em diversas dúvidas. Também nesta quarta, o líder da HTS, Ahmed al-Sharaa, disse que a anistia anunciada aos militares do regime anterior não será estendida àqueles envolvidos em torturas e crimes de guerra. No centro das atenções está a Turquia, que bancou a ofensiva da HTS e de grupos rebeldes seculares baseados no norte sírio. A vitoriosa Ancara, que é membro da aliança militar ocidental, a Otan, será cobrada pelo comportamento de seus aliados.
Por ora, o poder foi entregue a um premiê interino de confiança dos rebeldes, Mohammed al-Bashir, sem grandes incidentes. Mas pontos de tensão tendem a se multiplicar, como a queima do túmulo de Hafez mostra, além do risco sempre presente de fragmentação das frágeis alianças entre rebeldes.