Uma transição pacífica e a formação de um governo de transição verdadeiramente representativo do conjunto de forças na Síria são a condição para que os rebeldes que derrubaram a ditadura de Bashar Al-Assad deixem de ser classificados como terroristas.
O recado foi dado ontem pela ONU, que raramente designa grupos como terroristas, e pelos EUA, que são criticados por ter um critério bastante amplo na hora de usar a denominação. Em 2015, a resolução 2245 do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a guerra civil síria iniciada em 2011 dizia que a Frente Nusra, guarda-chuva da rede Al Qaeda no país árabe, era uma organização terrorista.
Em 2016, a HTS (Organização para a Libertação do Levante), que comandou a ofensiva que tomou Damasco após meros 12 dias de combates, deixou a Nusra para depois comandar o governo da região rebelde de Idlib. Em nenhum momento, contudo houve renúncia a princípios jihadistas da organização. Seu líder, Ahmed al-Sharaa, tem insistido em vender uma versão moderada, tanto que passou a adotar seu nome real em postagens no Telegram.
Antes, ele se autodenominava Abu Mohammed al-Jolani, ou al-Golani, numa referência à guerra santa para retomar as Colinas de Golã, anexadas por Israel em 1967. Além disso, a transição de poder tem mostrado sinais positivos, ainda que com várias interrogações, acerca do futuro do governo sírio.
A Rússia, por sua vez, não falou em mudar a classificação, mas disse que deverá conversar com quem estiver no poder em Damasco acerca da sensível questão de suas bases na Síria. Vladimir Putin salvou a governo de Assad com uma intervenção militar em 2015, ao lado do Irã, e Moscou foi o destino anunciado do exílio do ditador. A movimentação mostra cautela natural, dada o histórico da HTS e dos grupos beligerantes na Síria em geral.