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Publicada em 10 de Novembro de 2025 às 14:09

Há 10 anos em Porto Alegre, Uber impacta mobilidade e força modernização da concorrência

Hoje o táxi sobrevive diante de concorrência predatória, aponta presidente do Sintáxi

Hoje o táxi sobrevive diante de concorrência predatória, aponta presidente do Sintáxi

BRENO BAUER/ARQUIVO/JC
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Cássio Fonseca
Cássio Fonseca
Dez anos atrás, a Uber chegava a Porto Alegre como opção moderna ao táxi, defasado em preços e frota, e se consolidou como um dos principais meios de transporte da cidade, coletivo ou individual. O aplicativo se destaca pela praticidade e, mesmo com um aumento recente nos preços, segue crescendo em condutores e passageiros. A ascensão trouxe urgência à modernização do transporte público na Capital, que também estava precarizado e precisou se atualizar para seguir competitivo.
Dez anos atrás, a Uber chegava a Porto Alegre como opção moderna ao táxi, defasado em preços e frota, e se consolidou como um dos principais meios de transporte da cidade, coletivo ou individual. O aplicativo se destaca pela praticidade e, mesmo com um aumento recente nos preços, segue crescendo em condutores e passageiros. A ascensão trouxe urgência à modernização do transporte público na Capital, que também estava precarizado e precisou se atualizar para seguir competitivo.
É o que aponta o secretário de Mobilidade Urbana, Adão de Castro Júnior, que vê um cenário mais competitivo na atualidade e entende que a principal função do poder público é deixar à disposição do cidadão a escolha pelo meio que julgar mais adequado. “A concorrência fez isso de forma natural, porque ela entra e força, evidentemente, os gestores do transporte coletivo a investirem mais, assim como o grupo do táxi”, analisa. “É claro que o serviço porta-a-porta sempre traz mais atratividade. É mais agradável do que você sair de casa, caminhar um pouco e ir até um ponto de embarque pré-estabelecido”, completa.
Por outro lado, aponta impacto na mobilidade pelo aumento de carros em circulação, sobrecarregando vias com uma capacidade limitada de fluxo, o que ocasiona os engarrafamentos e o aumento do tempo de percurso, além das emissões de gases do efeito estufa e poluição do ar.
Castro Júnior frisa que a precarização do transporte coletivo piorou com a pandemia, forçando o município a investir na modernização dos ônibus. Ele relata que a frota passou de 800 para 1.200 ônibus com ar-condicionado e se investiu em novas paradas e novos abrigos. As lotações também sofrem uma crise pela queda na demanda e um projeto da SMMU de outubro — Serviço de Transporte Público Coletivo Complementar de Passageiros — destinou parte da frota para suprir lacunas deixadas pelos ônibus convencionais. A iniciativa tem duração de 12 meses.
“O que nos preocupa hoje é que esse sistema de aplicativo vem se precarizando ao longo do tempo. Fizemos uma fiscalização pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) sobre documentação, conservação do veículo, habilitação, e notamos que os veículos estão mais precarizados do que inicialmente, em 2015”, ressalta o secretário.
Ele cita que uma estimativa de cerca de 50 mil motoristas do aplicativo no ano passado, mas que não há uma regulamentação e nem um controle do órgão gestor do trânsito, já que se trata dos números de uma empresa privada que opta por não divulgá-los. Já os dados de novembro deste ano da prefeitura registram que o táxi possui 2.976 prefixos e 3.748 condutores ativos. Destes, 168 são novos condutores que entraram em 2025.
Questionado sobre o diálogo entre poder público e a Uber, Castro Júnior entende que poderia ser melhor. “Uma das dificuldades que temos com eles é exatamente para obter mais dados precisos para que possamos elaborar políticas públicas. Eles entendem que esses números são do negócio e são receosos de que eles cheguem ao concorrente”, conta. Porém, ressalta que quando o diálogo acontece, é sempre muito positivo.
Concorrente direto do transporte por aplicativo, o táxi se viu abalado em 2015 com a chegada desta opção. O presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi), Adão Ferreira, revela que o impacto não foi imediato, mas sim contínuo. “Previmos que, ao longo dos anos, ia causar um impacto não só no táxi, mas também em lotação, ônibus escolar e ônibus interestadual, e acertamos”, destaca. Segundo ele, sua classe “sobrevive”.
“É meio predador, porque não tem uma tarifa adequada ao sistema e com um número desproporcional de veículos circulando, o que causa um desequilíbrio no sistema dos transportes”, opina. O presidente também alerta para a necessidade do poder público tomar uma atitude e que, futuramente, o táxi pode ser extinto diante da crescente do aplicativo. O secretário Castro Júnior afirma que o único meio de regulamentação é através do CTB, como já ocorre hoje.
Sobre os episódios de agressão de taxistas a motoristas de Uber logo na chegada do aplicativo e uma possível mancha na reputação geral, Ferreira entende que o movimento à época pode ter sido impactado, mas não vê esse reflexo ao longo dos anos e afirma que a orientação sempre foi competir através da melhora do serviço.
Uma frente para competir com a Uber é o aplicativo do Sintaxi, que faz a mesma função, criado em 2016, mas que ainda carece de popularidade. As frotas discrepantes em quantidade são “combatidas” em qualidade. O presidente do sindicato exalta os carros zero quilômetro e as vistorias do veículo que são feitas pela Empresa Pública de Transporte e Circulação para que o condutor seja aprovado para ingressar na profissão.
Contatada pela reportagem, a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) optou por não se manifestar, enquanto o presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros por Lotação de Porto Alegre (ATL-POA) não retornou até o fechamento da matéria.

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