O aplicativo de transporte privado Uber completa 10 anos de atuação em Porto Alegre neste mês de novembro de 2025 e está definitivamente incorporado ao cotidiano da cidade ao longo desta década. A chegada da plataforma resultou em uma transformação no sistema de transporte público da capital gaúcha e caiu nas graças do público.
Em diversos bairros de Porto Alegre, é possível presenciar moradores que optaram pelo serviço em relação a outros meios de transporte. Com isso, lotações, ônibus e táxis viram seus passageiros migrarem para o novo serviço.
Com mais de 20 anos de experiência como motoristas, Diego Velho Fonseca, 51 anos, e Márcio Leoni, 38 anos, são profissionais pioneiros no aplicativo na capital gaúcha. Eles começaram a trabalhar exatamente há 10 anos com a Uber em Porto Alegre, em novembro de 2015.
Leoni, que gosta de dirigir, lembra o começo da sua trajetória profissional na plataforma. Empresário, proprietário de uma locadora de DVDs junto com a esposa, ele viu o negócio apresentar queda com a chegada da Netflix. "Os clientes começaram a sumir e o negócio ficou inviável", recorda.
Antes de se tornar motorista de aplicativo, Leoni atuava como motoboy. "Acabei utilizando o conhecimento adquirido com a motocicleta na cidade para pôr em prática na Uber", acrescenta. O motorista recorda que em novembro de 2015 foi um dos primeiros a se cadastrar na Uber de forma presencial em um escritório montado pela empresa na avenida Loureiro da Silva. Além de atuar como motorista, Leoni comercializa perfumes.
Diego Velho Fonseca, 51 anos, e a sua mãe, Maria Antônia Soveral Velho, 71 anos, a "Toninha", moradores de Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre, compartilham suas experiências na plataforma. Fonseca diz que a sua trajetória na Uber começou com o cadastro em 2015, que era presencial e também por e-mail.
Fonseca destaca as estratégias para manter a nota máxima de cinco estrelas na plataforma, incluindo a sua disposição alegre e o hábito de oferecer doces aos passageiros. "Antes da atividade na Uber, o meu trabalho como professor de autoescola era mais estressante", acrescenta.
Na plataforma, ele afirma que seus horários de trabalho são mais flexíveis. Com relação aos ganhos que passam de R$ 2 mil por mês, o condutor menciona o peso dos custos com combustível e manutenção. No entanto, ele aprecia a flexibilidade e o prazer de dirigir e interagir com as pessoas.
Antônia explica que decidiu se tornar motorista de aplicativo após se afastar do seu trabalho como técnica de enfermagem em um hospital de Gravataí devido a problemas de coluna, preferindo o Uber a voltar para o ambiente hospitalar. No aplicativo, "Toninha" diz que trabalha de forma flexível, escolhendo seus horários, e que tanto ela quanto o filho utilizam veículos próprios (Nissan March e um Fiat Mobi) para o trabalho, sendo a renda suficiente para manterem uma vida confortável e sem grandes preocupações financeiras, pois o seu carro e o apartamento dela estão pagos.
Com relação à segurança, Antônia relata ter sido assaltada uma vez no início da carreira em Cachoeirinha. Por isso, ela e o filho Diego, que trabalha de madrugada em áreas consideradas de risco, compartilham a localização um do outro para maior segurança.
Diego Velho Fonseca (filho) e Maria Antônia Soveral Fonseca (mãe) atuam em Porto Alegre e nas cidades da Região Metropolitana
DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC
Lucro menor para motoristas ao longo dos anos
Nessa década de atuação da plataforma, a qualidade do serviço prestado aos usuários apresenta elogios e críticas. As manifestações favoráveis são para os motoristas educados, atenciosos e caprichosos com o veículo. A parte negativa apontada pelos clientes fica por conta de carros em mau estado de conservação e profissionais que não são cuidadosos no trânsito.
Leoni destaca que, embora a segurança tenha melhorado no transporte por aplicativo com mais informações disponíveis sobre passageiros, a remuneração dos motoristas caiu drasticamente ao longo da década. Ele explica que precisa trabalhar o dobro de horas (cerca de 14h a 15h por dia) para obter o mesmo faturamento que conseguia em oito horas no passado.
Para mitigar o aumento dos custos operacionais, especialmente o do combustível, o motorista que mora no bairro Glória, em Porto Alegre, investiu em um veículo elétrico BYD Dolphin, que ele afirma ter aumentado seu lucro líquido mensal, estimado em cerca de R$ 8 mil. "A compra do carro elétrico me proporcionou um maior lucro", comemora o condutor que teve cinco carros antes do elétrico.
Prefeito de Porto Alegre avalia que aplicativo melhorou a vida das pessoas
O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, destaca que a mobilidade humana é crucial para o acesso e a vida da cidade, o que abrange desde patinetes até aplicativos como o Uber. "A plataforma veio para ficar e veio para melhorar a vida das pessoas", destaca.
O chefe do Executivo municipal afirma que tem muito carinho pelos taxistas e uma relação espetacular com os profissionais dos aplicativos. "Existe uma concorrência leal entre esses modais e o consumidor é que vai tomar a sua decisão dentro da liberdade econômica", acrescenta.
Para Melo, uma cidade boa para se viver é aquela que tem diversos modais e que haja integração. "O Brasil está longe disso ainda. O caso de Porto Alegre, por exemplo, não tem integração do transporte interno com a Região Metropolitana. Então esse é um desafio para a nossa gestão", ressalta.
Hoje, o passageiro, conforme o prefeito, que vai numa distância menor, praticamente não usa mais ônibus. "Os passageiros usam aplicativo ou táxi. Ele quer ter segurança e chegar onde quer de forma confortável, com ar-condicionado ligado, quando for necessário ou não, e com o preço que cabe no bolso. E isso os aplicativos oferecem", acrescenta.
Até o fechamento desta matéria, a Uber não havia se manifestado sobre os 10 anos de atuação da empresa em Porto Alegre.