Atualizado às 19h
Mesmo com o tempo nublado, os sepulcrários de Porto Alegre amanheceram movimentados neste domingo (2) por conta da celebração do Dia dos Finados. O feriado católico dedicado a homenagear os mortos atraiu milhares de visitantes em diversos cemitérios da Capital, que, por sua vez, prepararam programações especiais para comemorar a data.
A equipe de reportagem do Jornal do Comércio visitou o Cemitério Santa Casa e conversou com funcionários e visitantes para entender a importância da celebração.
Segundo a administração do local, foi preparada uma série de atividades para atrair o público neste feriado, que começaram às 8h e seguiram até 19h, com destaque para a tradicional Missa Campal, celebrada às 10h pelo Arcebispo Dom Jaime Spengler. Além disso, o espaço recebeu atrações musicais e um espetáculo teatral chamado “A Voz da Ninfa”, um drama histórico apresentado entre os jazigos do Cemitério da Santa Casa.
Segundo a administração do espaço, o movimento ao longo do final de semana deve chegar a cerca de 4,5 mil visitantes.
“É um dia de homenagem, de celebração, de reflexão e de amor. Aquele amor que não é material, é aquele amor a quem está em um outro plano. Claro, dentro da crença de cada um. Então é um dia extremamente importante. Todos os colaboradores do cemitério, se preparam para esse dia. Eles investem nesse dia no sentido de fazer as coisas, de melhorar a pintura, de melhorar a estrutura, de receber as pessoas da melhor maneira possível. Levamos isso muito a sério”, destacou Jorge Ramires, responsável pelo cerimonial do cemitério.
Experiente no ramo, Ramires trabalha em cemitérios há cerca de 20 anos. Além do Cemitério Santa Casa, ele afirma já ter trabalhado em outras instituições de Porto Alegre, como o crematório Cortel e o Cemitério Ecumênico João XXIII. Assim, o responsável pelo cerimonial explica que a grande procura do público por cemitérios no Dia dos Finados está relacionada a diversos fatores.
Segundo ele, mesmo que o amor e a ligação emocional permaneçam "sempre no coração", a rotina corrida do dia a dia impede que as pessoas visitem os jazigos com mais frequência. A data de Finados permite, então, que a população reserve seu dia para cuidar de seus entes queridos.
"A ligação de quem perde um familiar que realmente ama está sempre no coração. Mas, nessa data, as pessoas se sensibilizam e vão fazer aquela ligação física. Vão lá, vão rever o seu jazigo, vão limpar a sua unidade, vão botar uma flor, dando carinho. É a memória da família que é preservada”, explica Ramires.
Um exemplo disso é o de Clarisse Ohlweiler, que foi com seus dois filhos visitar o túmulo de seus pais. Ela conta que ir ao cemitério no Dia dos Finados já é uma tradição anual, utilizando a data para expressar agradecimento e carinho por seus familiares.
“Venho para fazer um agradecimento pelo que eles fizeram, pela criação que eles me deram, pelo que eles deixaram para mim. Então, faço questão de vir aqui para fazer essa oração e encomendar uma missa para eles também. Para mim é muito importante”, destacou Clarisse.
Clarisse Ohlweiler foi visitar o túmulo de seus pais. Ela conta que ir ao cemitério no Dia dos Finados já é uma tradição anual
TÂNIA MEINERZ/JC
Um dos diferenciais do Cemitério Santa Casa é a grande variedade de celebridades que descansam por ali. Segundo a historiadora do Centro Histórico-Cultural Santa Casa, Gabriela Portela Moreira, inúmeras famílias importantes na história da Capital contam com jazigos no local, como os Chaves Barcelos e os Mostardeiros. Além deles, os túmulos do ex-governante do Rio Grande do Sul Julio de Castilhos, o político Otávio Rocha e o músico Teixeirinha, também chamam a atenção dos visitantes, que aproveitam o Dia dos Finados para prestar homenagens.
“Esse é um dia que os túmulos famosos ganham ainda mais evidência do que já têm. Então, o túmulo do Teixeirinha, principalmente por ser um artista bem popular, é muito visitado. Nossa alameda principal que tem muitos túmulos históricos, obras de arte, narrativas históricas, então ganham muita visibilidade”, destacou Gabriela.
Esse é o caso de Jorge Vieira, visitante que, junto de sua esposa Fátima Vieira, separou sua manhã para prestar homenagem a Teixeirinha. Vieira explica que possui uma conexão pessoal e profunda com o cemitério, pois ele se criou no local, tendo morado na chácara que pertencia à Santa Casa, onde seu pai trabalhava como pedreiro e coveiro.
Ele saiu do cemitério aos 15 anos, quando seu pai faleceu, mas costuma vir seguidamente, pois considera o local a sua casa. Assim, ele explica que a visita é um resgate da lembrança de sua infância, visitando o túmulo de Teixeirinha, cujas músicas ele escutava desde criança.
“Ele fez parte da minha infância. Eram as músicas da época. Ele tinha música, tinha filme e isso me remete à época que eu era criança. Até hoje vejo os filmes dele”, relembrou Vieira.
Jorge e Fátima visitaram o jazigo do músico Teixeirinha
TÂNIA MEINERZ/JC