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Publicada em 19 de Agosto de 2025 às 20:28

Professores celebram um semestre sem celulares nas escolas

Profissionais da educação indicam "mudança significativa"

Profissionais da educação indicam "mudança significativa"

TÂNIA MEINERZ/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
Oito meses após a entrada em vigor da lei que proibiu o uso de celulares em escolas públicas e privadas do País, os relatos de gestores e professores apontam para uma mudança significativa no ambiente escolar gaúcho. A medida, sancionada em janeiro, vem sendo aplicada em diferentes formatos e o balanço parcial é de mais atenção em sala de aula, maior interação nos intervalos e até um aumento na procura por livros nas bibliotecas.
Oito meses após a entrada em vigor da lei que proibiu o uso de celulares em escolas públicas e privadas do País, os relatos de gestores e professores apontam para uma mudança significativa no ambiente escolar gaúcho. A medida, sancionada em janeiro, vem sendo aplicada em diferentes formatos e o balanço parcial é de mais atenção em sala de aula, maior interação nos intervalos e até um aumento na procura por livros nas bibliotecas.
O presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS), Oswaldo Dalpiaz, resume o sentimento: “No início parecia que haveria muitos problemas, mas a lei foi bem comunicada e teve aceitação ampla dos pais. Hoje os relatos indicam um ambiente mais sereno. O professor não precisa insistir para que os alunos guardem o celular, e isso trouxe mais tranquilidade para a sala de aula”, diz.
Segundo Dalpiaz, o impacto não se restringe às aulas. “Nos intervalos, os estudantes passaram a correr mais, conversar mais, inventar brincadeiras. É natural surgirem pequenos atritos, mas são situações mais fáceis de administrar do que os problemas gerados pelo mau uso do celular.” Ele também destaca a procura crescente por bibliotecas: “Muitos trocaram o tempo no WhatsApp pela leitura, especialmente onde houve parceria entre pais, direção e coordenação”.
As estratégias variam de acordo com cada colégio. Alguns recolhem os aparelhos na entrada, outros adotam caixas nas salas ou orientam para que alunos dos anos iniciais sequer levem o celular. “Não fizemos pesquisa formal, mas em encontros mensais com diretores era comum ouvir relatos positivos. A aceitação foi muito maior do que se imaginava”, completa Dalpiaz.
No Colégio Marista Rosário, em Porto Alegre, o professor de Geografia Diego Brandão percebeu mudanças visíveis. “Nós nos surpreendemos com a eficiência da medida. Antes, havia restrições, mas não estavam formalizadas. A lei trouxe segurança jurídica e uma intolerância saudável ao uso do celular em aula”. Ele relata que até os próprios alunos reconhecem os benefícios: “Muitos entendem que a restrição é educativa. Sem a dopamina imediata das telas, eles precisam se autorregular, encontrar outros interesses e engajar-se mais nas aulas”, continua.
Na prática, isso se refletiu até nos intervalos. “Voltei a ver estudantes jogando bafo, interagindo em grupo, lendo nos intervalos. Claro que surge mais agitação em alguns momentos, mas isso nos obriga a repensar metodologias e tornar as aulas mais participativas”, avalia.
No Interior do Estado, a experiência também tem sido positiva. O diretor da Escola Estadual Miguel Fernandez, em Bossoroca, Joner Alencar, afirma que a medida trouxe um avanço já esperado. “Antes, cada professor lidava com o celular de um jeito, o que criava confusão. Agora, a regra é clara. Houve resistência inicial, mas os alunos compreenderam que se trata de algo geral. A mudança foi fundamental, celebra.
Segundo ele, que até o ano passado atuava como professor de História, havia uma dificuldade muito grande de fazer os alunos se desprenderem das telas e participarem das aulas. "Nas Ciências Humanas, há muitos temas ligados à sociedade, ao meio ambiente, à forma como os alunos vivem. Mas era difícil obter deles uma noção crítica. Levávamos debates para a sala, mas o retorno era muito vago, o que mudou", cita.
Em São Luiz Gonzaga, a professora Lucilene Cassemiro, da Escola Estadual Professora Terezinha Medeiros Schneider, conta que os aparelhos são recolhidos em caixas logo no início do dia. No ensino médio em tempo integral, há uma exceção no horário do almoço. “Percebemos que sem o celular os alunos participam mais das aulas, interagem mais no recreio e até inventam novas atividades. No começo, alguns estavam tão perdidos que chegaram a molhar as plantas dentro da escola para passar o tempo”, lembra.
O primeiro semestre mostrou que a adaptação não se deu sem estranhamentos, mas o saldo é amplamente positivo. Para gestores e professores, o desafio agora é consolidar esse processo e avançar para além dos muros da escola. Como alerta Diego Brandão, “não adianta o estudante ficar desconectado durante o turno e passar a noite inteira no celular. A parceria com as famílias será decisiva para equilibrar a relação dos jovens com a tecnologia”.

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