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Publicada em 04 de Agosto de 2025 às 19:07

Falta de ônibus compromete cursos noturnos da Ufrgs em Porto Alegre

Alunos dos cursos noturnos, em grande parte estudantes trabalhadores, enfrentam dificuldades com a oferta de transporte público

Alunos dos cursos noturnos, em grande parte estudantes trabalhadores, enfrentam dificuldades com a oferta de transporte público

PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
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Nico Costamilan
Nico Costamilan
O transporte público tem impacto significativo no acesso dos estudantes à universidade. O tempo de espera, de viagem e quantidade de baldeações facilitam ou atrapalham o dia a dia de quem depende dos ônibus da cidades. Em Porto Alegre, alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) continuam a relatar problemas de acesso aos campi, principalmente aos mais distantes da região central, como o Campus do Vale no bairro Agronomia.
O transporte público tem impacto significativo no acesso dos estudantes à universidade. O tempo de espera, de viagem e quantidade de baldeações facilitam ou atrapalham o dia a dia de quem depende dos ônibus da cidades. Em Porto Alegre, alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) continuam a relatar problemas de acesso aos campi, principalmente aos mais distantes da região central, como o Campus do Vale no bairro Agronomia.
Para Mônica Leitão, professora e mestranda no programa de pós-graduação em História na Ufrgs, o transporte público de qualidade deveria ser um direito fundamental do aluno e do professor. “A precarização e o preço alto dos ônibus tornam a permanência dos estudantes na Universidade ainda mais difícil e cansativa”, explica.

Desde a graduação, ela utiliza dois ônibus para ir e voltar ao Campus do Vale. Com a maior parte das aulas no turno da noite, ela conta que gasta muito tempo no deslocamento, e se sente insegura em paradas com pouca segurança.“No período diurno é um processo bem mais tranquilo, mas de noite o Campus do Vale fica assustador. Se acontece o infortúnio de perdermos o horário em que a parada fica mais cheia de noite, cerca de 21h, temos que esperar mais de uma hora em uma parada vazia e escura”.

O tempo de espera entre ônibus nas paradas dos campi também é uma preocupação para a pró-reitora de graduação da Ufrgs, Nadya Pesce da Silveira. Ela relata dificuldades enfrentadas pela comunidade acadêmica com o transporte após o retorno presencial das aulas da pandemia de Covid-19, especialmente com a extinção da linha universitária D43 em 2022. A linha atendia uma grande quantidade de estudantes das universidades Ufrgs e Pucrs localizadas ao longo da avenida Ipiranga. Segundo Nádya, sua ausência causou sobrecarga e longos tempos de espera nas linhas remanescentes, principalmente à noite.

A Ufrgs tem dialogado com a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (SMMU), a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). De acordo com a pró-reitora, a SMMU está produzindo um estudo sobre melhorias das vias que circulam as linhas que atendem à Ufrgs e a Pucrs, mas ainda não apresentou soluções concretas para as universidades.

A Secretaria indicou que a linha direta D43 - PUC/UFRGS deixou de operar em 2022 quando foi implantada a faixa exclusiva ao longo da avenida Ipiranga, com o objetivo de atingir maior agilidade, regularidade e menor tempo de deslocamento para as linhas de ônibus que fazem o atendimento dos estudantes da Ufrgs (Agronomia) e da Pucrs. Segundo a pasta, houve uma otimização na oferta de viagens e os usuários passaram a ser atendidos pelas linhas 343 e 353 com maior oferta de viagens.
Para Nádya, a mudança não supriu a demanda de pessoas que a utilizam, entre elas estudantes, professores e técnicos. “A 353 faz um trajeto bem maior [que a D43] porque entra no bairro. Ficamos basicamente só com a 343, que tem um trajeto direto, sendo que para em todas as paradas da avenida Ipiranga”, diz. “O nosso problema não é só à noite, é também nos horários de maior fluxo. Essas linhas atendem não só o Vale, elas passam pela Pucrs, pelo campus da Educação Física e Dança, de Saúde e vão até o centro. E ali os estudantes ainda precisam pegar, muitos deles, o Trensurb, que à noite também é um problema pelo número de linhas e quantidade de horários disponíveis”.
As limitações no número e nos horários dos ônibus dificultam o deslocamento de milhares de estudantes. Segundo Nádya, o problema afeta diretamente a evasão das disciplinas e dos cursos da Universidade, que ela acredita significar um desperdício de recursos públicos e prejuízo entre os universitários. “É preocupante, não só pela ocupação de vaga, mas também pela perspectiva do estudante ou da estudante que acaba se frustrando, não tendo condições de retomar ou esperando muito tempo para retomar o estudo. Procuramos atender [muitas] demandas, mas a questão do transporte é fundamental. Ela impacta diretamente a vida do estudante. E é muito preocupante que a gente não tenha solucionado a contento.”

Alunos dos cursos noturnos são em grande parte estudantes trabalhadores, que chegam na Universidade após o horário comercial. Segundo Mônica, esses universitários têm uma dinâmica específica: começam as aulas às 18h30min, com alguns alunos atrasados por conta da dificuldade de chegar aos campi em horário de pico. Esperam também que o professor da disciplina permita uma aula mais curta, porque após as 21h são poucos ônibus para a saída.

“O transporte dos alunos do noturno é um processo extremamente desgastante, demorado e perigoso. Especialmente aqueles que moram em bairros distantes do centro de Porto Alegre e na região metropolitana, que pegam dois ou até três ônibus diferentes. A pouca frequência de ônibus fora do horário de pico contrasta com o valor altíssimo das passagens, que aumenta cada vez mais”, indica Mônica.
Para a mestranda, a falta de acesso aos espaços da Ufrgs no horário da noite mostra uma dispensa na consideração da Universidade com os alunos trabalhadores. “Não só a precarização no transporte, mas também a falta de acesso à Restaurantes Universitários, bibliotecas e espaços de estudo no horário da noite. A Universidade dá pouca importância para a permanência dos alunos do noturno”, desabafa.

Segundo a pró-reitora da graduação, uma linha de ônibus direta que atendesse ao setor universitário da Capital por inteiro poderia minimizar essa problemática. “[A linha] a poderia ter um trajeto alternativo, com menos pontos de paradas, ela poderia passar em horários diferenciados. Entre 7h e 9h, 12h e 14h, 18h e 22h. Se rodasse nesse período, já seria muito importante, quase que suficiente para resolver talvez 95%, 98% dos problemas de transporte.”

Confira a restruturação de oferta de ônibus em 2025

  • Oferta de 244 viagens por dia no conjunto de linhas, sendo 122 por sentido (bairro ao Centro e Centro ao bairro); 
  • A linha 343 passou a atender os estudantes na avenida Osvaldo Aranha em ambos os sentidos;
  • A linha 353 passou a atender os estudantes na avenida João Pessoa em ambos os sentidos;
  • Com a unificação do atendimento, todos os pontos de paradas são contemplados com a linha 343, já que a linha D43 atendida somente os pontos de parada rápidas, com isso, beneficiando um maior número de clientes;
  • Com a implantação da faixa exclusiva para ônibus na avenida Ipiranga, os tempos de viagens das linhas radiais 343 e 353 ficaram semelhantes aos da antiga linha Direta D43, visto que os veículos circulam em comboio dentro da faixa exclusiva, sem congestionamento;
  • Com a reestruturação do atendimento, o Campus da UFRGS passou a contar com viagens pela linha 343 até as 22h30, com partida a partir do próprio Campus e pela linha 353 até às 23h30, atendendo também o bairro Intercap;
  • Ambas as linhas tiveram acréscimo de viagens no período noturno, ampliando o horário de funcionamento também com partidas a partir do Centro. O último horário da linha 343 é às 23h, enquanto o da 353 é depois da meia-noite, às 00h05, com saída na avenida Borges de Medeiros, esquina com a avenida Mauá, junto à estação da Trensurb.
  • Primeiro horário da linha 343 às 5h40 saindo do Campus da UFRGS, e a partir do Centro às 5h35 da manhã.
  • Primeiro horário da linha 353 às 4h50 saindo do Campus da UFRGS, atendendo o Intercap, e a partir do Centro às 6h da manhã.

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