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Publicada em 16 de Julho de 2025 às 19:51

Alistamento militar feminino estreia com mais de 2 mil inscritas no Rio Grande do Sul

Estado é o 6º do País em número de candidatas; Brasil soma 33.721 inscrições

Estado é o 6º do País em número de candidatas; Brasil soma 33.721 inscrições

Divulgação/Exército Brasileiro/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
Pela primeira vez na história do Brasil, mulheres puderam se alistar voluntariamente para o serviço militar obrigatório. O período de inscrições, encerrado no último dia 30 de junho, registrou 33.721 candidatas em todo o País. O Rio Grande do Sul foi o sexto estado com mais inscritas, somando 2.163 inscrições — mais do que Paraná e Santa Catarina, por exemplo, juntos.
Pela primeira vez na história do Brasil, mulheres puderam se alistar voluntariamente para o serviço militar obrigatório. O período de inscrições, encerrado no último dia 30 de junho, registrou 33.721 candidatas em todo o País. O Rio Grande do Sul foi o sexto estado com mais inscritas, somando 2.163 inscrições — mais do que Paraná e Santa Catarina, por exemplo, juntos.
A abertura do alistamento feminino foi oficializada pelo Decreto nº 12.154, de 27 de agosto de 2024, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Anunciada durante a celebração dos 25 anos do Ministério da Defesa, a medida tem caráter voluntário e marca uma mudança histórica. Até então, o ingresso de mulheres nas Forças Armadas era restrito a concursos públicos específicos, geralmente voltados às áreas de saúde, educação e logística.
Neste primeiro ano, foram ofertadas 1.465 vagas em organizações da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, distribuídas entre 28 municípios de 13 estados, e o Distrito Federal. O estado com maior número de inscrições foi o Rio de Janeiro, com mais de 8 mil candidatas. A expectativa do Ministério da Defesa é ampliar gradualmente o número de vagas nos próximos anos.
No Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Santa Maria e Canoas foram as três cidades contempladas com turmas exclusivamente femininas. Na Capital, 518 mulheres se alistaram para 67 vagas. Em Santa Maria, 254 disputam 59 postos (sendo 20 na Força Aérea). Em Canoas, 185 concorrem a 15 vagas, todas da Aeronáutica.
Uma das jovens inscritas é Dâmaris Braga, 17 anos, moradora de Porto Alegre. A convocação para apresentação está marcada para 24 de outubro, e ela diz ter recebido com entusiasmo a notícia do alistamento. "Sempre fui muito ativa, pratiquei vários esportes. Quando vi que as mulheres poderiam se alistar, minha mãe mandou a matéria e disse: 'Dâmaris, é a tua cara'. Isso mexeu comigo, principalmente pelo lado do empoderamento feminino", conta.
Dâmaris afirma que o desejo de romper com uma tradição historicamente masculina também pesou na decisão. "Depois que me alistei, várias pessoas vieram me contar que tinham esse sonho. A minha tia, por exemplo, disse que sempre quis servir, mas nunca teve a chance". Apesar de ainda não ter planos definidos sobre seguir carreira militar, ela diz estar empolgada com a ideia de aprender técnicas e desenvolver o condicionamento físico. "Quero me testar, ver até onde posso ir", conta.
Ela reconhece, no entanto, que a cultura militar pode apresentar resistências, mas prefere manter o foco na experiência. "Talvez exista algum machismo maior de quem olha de fora, mas dentro do Exército acho que não vai ser tanto assim. Prefiro focar no que vem pela frente e ir com o coração aberto."
Um sargento do Exército em Porto Alegre, que pediu para não ser identificado, afirmou à reportagem que a estrutura das unidades passou por adaptações para receber as novas recrutas, incluindo reformas em alojamentos e banheiros. "O Exército já atua com mulheres há anos. Estávamos preparados, o número de alistadas não surpreendeu. Vamos seguir conforme o planejado. A principal função do Exército é estar pronto e assim estamos", disse.
Agora, quem for aprovada, será incorporada no 1º ou 2º semestre de 2026 (de 2 a 6 de março ou de 3 a 7 de agosto), ocupando a graduação de soldado (Exército e Aeronáutica) ou marinheiro-recruta. As etapas do serviço militar serão iguais para homens e mulheres: período básico, qualificação, possibilidade de reengajamento, além de salários e benefícios equiparados. A única distinção será nos testes físicos, que já seguem parâmetros específicos para cada gênero.

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