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Publicada em 27 de Junho de 2025 às 21:33

Baixa adesão por vacinas contribui para hospitalizações em Porto Alegre

Vacina contra a doença está disponível de graça no SUS

Vacina contra a doença está disponível de graça no SUS

Paulo Pinto/Agência Brasil/JC
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Nico Costamilan
Nico Costamilan
Nas últimas semanas, os hospitais da Capital enfrentam superlotação, especialmente nas emergências gerais e pediátricas. O aumento significativo de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) tem levado muitas pessoas aos hospitais, que, em grande parte, não tomaram a vacina contra a gripe (Influenza), disponível desde 7 de abril. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado (SES), O Rio Grande do Sul registrou em maio o maior número de hospitalizações por gripe dos últimos três anos. 
Nas últimas semanas, os hospitais da Capital enfrentam superlotação, especialmente nas emergências gerais e pediátricas. O aumento significativo de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) tem levado muitas pessoas aos hospitais, que, em grande parte, não tomaram a vacina contra a gripe (Influenza), disponível desde 7 de abril. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado (SES), O Rio Grande do Sul registrou em maio o maior número de hospitalizações por gripe dos últimos três anos
No total acumulado deste ano, no momento da publicação desta reportagem, já são 9.331 hospitalizações e 791 óbitos pela SRAG, e 2.281 internações e 327 óbitos no Estado por complicações da gripe. Também segundo os dados da SES, dos hospitalizados por Influenza, 1.920 (84,17%) e 268 dos óbitos (81,96%) foram pessoas não vacinadas. Na Capital, até o momento 1156 pessoas foram internadas por SRAG, com 77 óbitos, e 152 por Influenza, com 23 óbitos. A maior parte das mortes acontece entre os idosos, um dos grupos prioritários da vacina. 
Segundo o painel do Ministério da Saúde Estratégia de Vacinação Contra a Influenza, o Rio Grande do Sul registra total de  46,06% de vacinados, sendo que no grupo prioritário o porcentual é de 47,40 %. Para Fernando Ritter, secretário de saúde de Porto Alegre, a baixa procura pela vacina tem impacto direto no aumento das hospitalizações e gravidade dos casos. "Tem um estudo nosso da Vigilância [Sanitária] de Porto Alegre, que mostra que, sempre que tem um caso de óbito por síndrome respiratório aguda grave, são de pessoas que não tomaram a vacina ou que não estavam com ela em dia. Então, com certeza, impacta diretamente."
Na Capital, a taxa de vacinação é de apenas 52,62%, o que, segundo Ritter, é muito abaixo da meta esperada. "Se a gente vacinar 85% a 90% das pessoas, tá muito abaixo. Apesar de estar mais alto do que a média do Estado, temos baixa procura: as pessoas deixam para amanhã, depois de amanhã, e também, há todo aquele movimento antivacina que aconteceu nos últimos anos, que prejudica muito".
Para o secretário, o descrédito na vacinação cresceu nos últimos anos, em parte por conta de notícias falsas e a atuação de falsos especialistas: profissionais sem expertise em imunologia, mesmo sendo da área da saúde, muitas vezes propagam informações equivocadas sobre vacinas. "Nesse período, vimos muitos especialistas sem conhecimento de causa, dialogando sobre vacina, ou mesmo grupos de WhatsApp, contando mensagens sem assinatura, sem referência científica, dialogando com pessoas que, às vezes, ficam inseguras e acabam não levando as suas famílias para vacinar."

Segundo Ritter, entre as estratégias para incentivar a imunização, a secretaria disponibilizou canais de atendimento, inclusive via WhatsApp, para esclarecimento de dúvidas, e orienta as unidades de saúde a oferecer a vacina, verificar os cartões de vacinação e reforçar a sua importância. Também, cita medidas como Dia D e Rolê da Vacina.
De acordo com o presidente da Sociedade Gaúcha de Infectologia, Alessandro Pasqualotto, destaca que a gripe ainda é uma doença letal e que sua prevenção por meio da vacina é essencial, já que ela é atualizada anualmente para cobrir as cepas virais em circulação. Segundo Pasqualotto, a diminuição na taxa de vacinados se deve a uma falsa sensação de normalidade pós-pandemia de COVID-19, e a influência de movimentos antivacina. "[A vacina] previne as consequências da gripe, que é a pneumonia que o vírus pode causar, levando à necessidade de ir para um hospital, necessidade de oxigênio, necessidade de uma UTI, hospitalização. O objetivo não é que as pessoas não fiquem resfriadas, é que elas não adoeçam de modo grave", explica o infectologista.
Para Ritter, o aumento de caos de Influenza graves e que necessitam de internação pesam ainda mais em um sistema hospitalar sobrecarregado. "[A vacina] evita que eu tenha que procurar uma emergência por  de uma pneumonia ou outro problema grave que possa gerar a necessidade de ocupação de um leito. Então, o fato de vacinar reduz a gravidade de [uma gripe], de um nível de complexidade maior, porque a gente sabe que a vacina é eficaz para esses casos", explica o secretário. 
Muitas internações por síndrome respiratória aguda grave poderiam ser evitadas com as vacinas disponíveis. Para o infectologista, a diminuição na taxa de vacinados impacta todo o sistema de saúde de Porto Alegre. "Mesmo na ausência de uma nova doença como foi a Covid, vemos que muitas pessoas hoje tem buscado as emergências por doenças respiratórias que se agravam. E muitos dos professores são idosos, são diabéticos, são transplantados, são pessoas que se tivessem tomado a vacina teriam sim um quadro mais brando e talvez não precisassem chegar ao hospital. Isso treme toda a estrutura hospitalar da rede metropolitana", indica Pasqualotto.
Também segundo Ritter, a expectativa é que a pressão sobre os hospitais comece a diminuir apenas no final de julho para crianças, e em agosto para adultos. Paralelamente, a prefeitura está ampliando a rede hospitalar: serão abertos 10 novos leitos de UTI pediátrica no Hospital de Cardiologia e 8 leitos clínicos. A Santa Casa também disponibilizou mais de 30 leitos, totalizando 134 novos leitos operacionais.
Além disso, também segundo Ritter, a superlotação na Capital também está relacionada à grande procura de pacientes da Região Metropolitana. Ele cita o fechamento do Hospital de Canoas e a troca na gestão no Hospital de Viamão. Também, há um apelo para que municípios da região metropolitana adotem estratégias para diminuir a pressão sob hospitais locais, evitando o deslocamento de pacientes para Porto Alegre."Além disso, a crise que se abate, o Hospital de Viamão está trocando pela terceira vez em dois anos a equipe de gestores. Isso tudo desgasta, gera incongruência e faz com que as pessoas procurem o local onde eles se sentem mais seguros, e Porto Alegre acaba sendo suporte", diz o secretário.

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