Os taxistas de Porto Alegre estão recuperando terreno na disputa com os aplicativos de transporte, principalmente nos horários de pico. Impulsionado pela alta dos preços nas plataformas digitais durante períodos de grande demanda, o serviço de táxi volta a ser uma alternativa mais econômica e prática em alguns trajetos, especialmente no início da manhã e final da tarde.
Levantamento realizado pelo Jornal do Comércio na semana passada mostra a diferença de preços em trajetos curtos. Em duas noites, quarta e sexta-feira, às 19h30min, um percurso de cerca de 15 minutos, do bairro Santana à Cidade Baixa, totalizou por R$ 12,00 no táxi, com tempo de espera inferior a cinco minutos. Já nos aplicativos, as corridas variaram entre R$ 28,00 e R$ 40,00, com espera superior a oito minutos.
A discrepância ocorre por causa do mecanismo de preço variável adotado por apps como Uber e 99 POP. Segundo as empresas, o valor sobe automaticamente quando há mais demanda do que oferta de motoristas em determinada região, como forma de atrair mais veículos para o local. O aumento é informado ao usuário no momento da solicitação, mas pode fazer o preço dobrar ou até triplicar em horários de pico, conforme o volume de pedidos.
"É justamente nesses horários que o táxi volta a ser vantajoso, porque o nosso preço é fixo, não tem surpresa. E o deslocamento costuma ser mais rápido pela faixa azul. Notamos um aumento de 30% a 40% na procura, principalmente no fim da tarde e início da noite", afirma Rodrigo Oricchio, vice-presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi).
Segundo Oricchio, o retorno dos passageiros aos táxis começou timidamente em 2019, após um período de forte queda no setor entre 2016 e 2018, quando os aplicativos se popularizaram na Capital. De lá para cá, especialmente a partir de 2023 a demanda vem crescendo. "Hoje, em horários de pico, é difícil ver táxi parado nos pontos. A frota está renovada, os carros estão novos e limpos, o que também faz diferença", reforça.
O taxista João Ferreira, 57 anos, dirigindo há 25 pelas ruas de Porto Alegre, confirma a mudança. "Antigamente, nesses horários, a gente às vezes ficava parado no ponto. Agora, é sair e já tem corrida. O pessoal tá cansado de pagar o preço dinâmico dos aplicativos. Eles veem que o táxi tá ali, preço justo, e acaba valendo mais a pena. Porém, mesmo em outros momentos, tem sim uma melhora nesse ano", relata.
O perfil dos usuários, no entanto, ainda varia conforme o tipo de transporte. "O jovem ainda vai muito no aplicativo por praticidade e costume. Mas cada vez mais estão conhecendo as qualidades do táxi, principalmente a qualidade e rapidez. É uma questão cultural", diz Ferreira.
Porto Alegre conta, hoje, com mais de 3,2 mil táxis na ativa
Atualmente, Porto Alegre conta com 3.228 táxis ativos e 3.810 motoristas cadastrados. O número é estável, já que novas permissões não são liberadas e as existentes não podem ser transferidas, nem mesmo em caso de falecimento do titular.
Para além da tarifa fixa, outro diferencial apontado pelos taxistas é o uso da faixa azul, exclusiva para ônibus, vans escolares e táxis em horários determinados, o que garante maior agilidade nos deslocamentos, especialmente nas regiões centrais da cidade. A medida é válida desde 2023.
Além disso, a estrutura dos pontos de táxi está em processo de reestruturação. Atualmente, são 152 pontos fixos e 190 pontos livres espalhados pela cidade. "A EPTC tem feito sorteios anuais para que, futuramente, todos os táxis tenham um ponto de apoio. Isso traz segurança e praticidade para os motoristas e passageiros", explica Oricchio.
A esperança do setor é retomar parte do espaço perdido para os aplicativos ao longo da última década. "Nosso objetivo é mostrar ao passageiro as vantagens do táxi: preço fixo, carro novo, acesso à faixa azul, sem tarifa dinâmica. Muitos que migraram para os apps estão voltando aos poucos. E a gente trabalha para que o táxi volte a ser o meio preferencial de transporte individual em Porto Alegre", finaliza.