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Publicada em 02 de Junho de 2025 às 20:26

Obesidade infantil atinge níveis alarmantes no País

Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional de obesidade grave entre 5 a 10 anos

Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional de obesidade grave entre 5 a 10 anos

MARCO QUINTANA/JC/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar
A obesidade infantil, que recebe destaque especial neste 3 de junho, dia da conscientização contra a doença, avança de forma silenciosa e acelerada no Brasil, e entre os casos mais graves, os dados apontam para um alerta urgente. Até 2035, cerca de 20 milhões de crianças brasileiras devem estar com sobrepeso ou obesidade, segundo estimativas da Federação Mundial da Obesidade. Entre elas, cresce o número de crianças com obesidade mórbida, condição caracterizada por um Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40 kg/m2 e associada a sérios riscos à saúde física e mental.
A obesidade infantil, que recebe destaque especial neste 3 de junho, dia da conscientização contra a doença, avança de forma silenciosa e acelerada no Brasil, e entre os casos mais graves, os dados apontam para um alerta urgente. Até 2035, cerca de 20 milhões de crianças brasileiras devem estar com sobrepeso ou obesidade, segundo estimativas da Federação Mundial da Obesidade. Entre elas, cresce o número de crianças com obesidade mórbida, condição caracterizada por um Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40 kg/m2 e associada a sérios riscos à saúde física e mental.
O cenário é especialmente crítico no Sul do País. O Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional de obesidade grave entre crianças de 5 a 10 anos: 10,68% vivem com a condição. "Estamos diante de uma epidemia silenciosa, que já atinge a infância. E a pandemia de Covid-19 agravou ainda mais o quadro", afirma a endocrinologista Carolina Petry, da Santa Casa de Porto Alegre.
A médica aponta como fatores principais a ruptura na rotina durante o isolamento, o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados e a falta de acompanhamento profissional no período. "O problema já existia, mas se intensificou nos últimos anos, sem o suporte necessário para as famílias", diz.
As consequências vão muito além do peso. A obesidade grave compromete o sistema cardiovascular, o aparelho osteomuscular, o metabolismo e a saúde mental. "Cerca de 30% das crianças com obesidade já têm colesterol elevado. De 10% a 12% apresentam níveis altos de triglicerídeos, e até 5% são hipertensas. Além disso, muitos sofrem com ansiedade, depressão e exclusão social", afirma Anelise Gaya, professora da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Outro fator que preocupa especialistas é o tempo excessivo diante de telas. Com a popularização de celulares e tablets, muitas crianças passam horas em atividades sedentárias, o que afeta o sono, reduz o gasto energético e limita o tempo de brincadeiras. "Hoje, há crianças que passam até oito horas por dia diante das telas. Muitas sequer sabem o que é pular corda", relata Anelise.
Fatores socioeconômicos agravam ainda mais o quadro. Famílias em situação de vulnerabilidade frequentemente enfrentam insegurança alimentar e dificuldade de acesso a alimentos saudáveis. "Não se trata apenas de uma escolha individual. Muitas famílias não têm condições financeiras ou conhecimento para oferecer hábitos saudáveis aos filhos", reforça a pesquisadora.
Além disso, há fatores biológicos e históricos associados: filhos de pais obesos têm mais chance de desenvolver a condição, assim como nascidos com baixo peso ou por cesariana. O problema, no entanto, é multifatorial — e exige ações coordenadas em diferentes áreas.
Nesse contexto, a escola pública tem papel estratégico, especialmente na promoção da atividade física. “A educação física escolar é essencial. É nesse ambiente que as crianças podem descobrir o prazer da prática de atividades físicas e levar esses hábitos para a vida adulta”, defende Anelise.
Ela critica a retirada da obrigatoriedade da disciplina no ensino médio e sugere uma maior integração entre as escolas e o sistema de saúde. “O ideal seria que as escolas fizessem avaliações periódicas de composição corporal e encaminhassem os dados para a rede de saúde. Com isso, poderíamos ofertar atividades físicas nas unidades básicas, contando com o trabalho dos profissionais de educação física que estão sendo integrados ao SUS”, conclui.
O aumento da obesidade infantil também representa um custo crescente ao Sistema Único de Saúde (SUS) — tanto pelo impacto precoce nas condições crônicas quanto pela sobrecarga no futuro. Para especialistas, enfrentar esse cenário exige medidas urgentes, com foco na prevenção e na redução das desigualdades. “Não basta alertar as famílias. Precisamos de políticas públicas que reconheçam essas desigualdades e ofereçam caminhos reais para uma infância mais saudável”, finaliza Carolina Petry.
 

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