Diante da superlotação nas unidades de saúde e da escalada de doenças respiratórias no Estado, lideranças municipais e estaduais se reuniram na manhã desta segunda-feira (26), em Porto Alegre, para discutir medidas emergenciais. O encontro, realizado na sede do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), resultou na proposta de criação do programa "Previne e Cuida Mais RS", que prevê o uso de R$ 1,5 bilhão do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs) para fortalecer o financiamento do SUS no Rio Grande do Sul.
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A iniciativa foi apresentada pelo diretor-presidente do GHC, Gilberto Barichello, e acolhida por representantes da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal), Assembleia Legislativa, Secretaria Estadual da Saúde, Conselho Estadual de Saúde, Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems-RS), Federação das Santas Casas e do Ministério da Saúde. O objetivo é utilizar recursos do Funrigs para custear a recuperação da rede atingida pelas enchentes e ampliar a oferta de serviços na atenção básica e pré-hospitalar.
"Estamos vivendo uma situação emergencial. Só no Hospital da Criança Conceição, a superlotação da emergência chegou a 256%. Faltam leitos de UTI pediátrica e de UTI adulto. Perdemos mais de 450 leitos na Região Metropolitana por causa da tragédia. Precisamos reabrir, e isso exige recursos. O fundo é emergencial, criado justamente para enfrentar as consequências das enchentes, que destruíram parte significativa da rede de saúde", afirmou Barichello.
Segundo ele, 467 estruturas de saúde foram afetadas pelas inundações no Estado, sendo 120 totalmente destruídas. "Há um nexo causal evidente entre a tragédia climática e a crise atual. Assim como os agricultores já acessaram o Funrigs, é justo que a Saúde também tenha esse direito", argumentou.
A proposta, considerada "bem-vinda" pelos participantes, será formalizada nos próximos dias. Uma nova reunião está marcada para amanhã, às 10h, na sede da Famurs, quando será formada uma comissão institucional responsável por encaminhar o plano ao comitê gestor do Funrigs — composto pelo governador, vice-governador, Casa Civil, Secretarias de Planejamento, Reconstrução, Comunicação e Procuradoria-Geral do Estado. A entrega da proposta está prevista até 3 de junho.
Durante o encontro, outras lideranças reforçaram a urgência da medida. O secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, avaliou que a proposta "resolve o problema deste ano", enquanto Régis Fonseca Alves, presidente do Cosems-RS, destacou que a reabertura de leitos com apoio do fundo "significa colocar a estrutura novamente à disposição da população".
A presidente da Famurs, Adriane Perin de Oliveira, ressaltou que muitos prefeitos estão comprometendo mais de 20% dos orçamentos municipais com saúde — acima do mínimo constitucional de 15% — e advertiu que os recursos do fundo, embora importantes, são provisórios. "Precisamos de um verdadeiro cofinanciamento da saúde, com União e Estado assumindo seus papéis. A atualização da tabela do SUS, prevista na Lei Federal nº 14.820/2024, é um avanço, mas ainda não está sendo cumprida. Os municípios não podem continuar arcando sozinhos com custos cada vez mais altos."
O presidente da Granpal, Marcelo Maranata, também apoiou a proposta e defendeu a necessidade de um financiamento permanente. "O esforço municipal já existe. O que buscamos é segurança e custeio garantido. Se o Estado cumprisse os 12% obrigatórios, isso já representaria mais R$ 1,5 bilhão ao lado da União."
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Desde a semana passada, o Rio Grande do Sul está oficialmente em situação de emergência em saúde pública. Em 2025, o Estado já registrou 4.871 hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), segundo dados do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs). Desse total, 366 pacientes morreram. Um terço das internações (1.641) envolvem crianças com menos de cinco anos, faixa etária que também representa 11 dos óbitos.