Na tentativa de conter a escalada de casos de dengue, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, emitiu na noite da última segunda-feira um decreto de emergência em saúde pública no município. Com mais de 20 mil suspeitas relatadas e 2.227 casos confirmados somente este ano na Capital, a medida visa facilitar a aquisição de recursos médicos essenciais, além de qualificar a cidade para receber assistência financeira do Ministério da Saúde.
A decisão considera o cenário e risco epidemiológico da doença e vale para outras arboviroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como zika e chikungunya. Conforme exemplifica o secretário municipal de Saúde, Fernando Ritter, o maior ganho que o executivo municipal terá será na agilidade.
"Podemos contratar novos serviços, ampliar a aplicação de inseticidas, fazer o chamamento de novos profissionais, comprar novos testes, entre outras coisas, tudo de forma imediata. Isso abrevia muito nosso tempo de execução para o combate à epidemia dessa doença", explica.
Ainda, de acordo com Ritter, a Capital poderá agora solicitar suporte financeiro ao Ministério da Saúde. "Foi lançada uma portaria, em fevereiro, que permite a busca de recursos extraordinários para investimentos em ações de dengue caso o município esteja em situação de emergência, como é o nosso caso no momento", completa.
Para maior eficácia dos bloqueios de transmissão da doença, durante este período, as denúncias de locais com acúmulo de água limpa e parada, recebidas via sistema 156, serão automaticamente direcionadas para os órgãos competentes. O atendimento será prioritário para regiões com maior concentração de casos confirmados de dengue, conforme o cenário epidemiológico de cada distrito sanitário.
Os bairros com incidência acumulada de mais de 300 casos por 100 mil habitantes são: Agronomia, Higienópolis, Jardim do Salso, Rio Branco, São Geraldo, Teresópolis, Pedra Redonda, São João, Tristeza e Auxiliadora.
Até o momento, a cidade registra ainda dois óbitos por dengue: uma mulher, na faixa etária de 31 a 40 anos, e um homem, na faixa etária de 71 a 80 anos. O falecimento do segundo foi o estopim para que a Secretaria Estadual de Saúde (SES), optasse pelo Decreto.
"Até então, entendíamos que, comparado a outros municípios, estávamos numa situação até relativamente confortável. Porém, com a confirmação desse óbito e mais outro caso que estamos investigando, resolvemos agir antes que a situação fuja do controle. Até porque somos referência no Estado", finaliza.
O número de casos suspeitos na Capital, superior a 20 mil, representa um aumento de 500% quando comparado ao mesmo período do ano passado. Segundo a pneumologista do Hospital São Lucas da Pucrs, Liana Corrêa, a atenção precisa ser redobrada quando o assunto é essa arbovirose.
"Temos visto muitos casos. Essa doença está longe de acabar e as pessoas precisam ter atenção já que, além de gerar muitos comprometimentos à saúde, a dengue também pode ser fatal, principalmente, em sua forma hemorrágica", destaca.
Com a sobrecarga no sistema de saúde porto-alegrense e o Índice Médio de Fêmeas de Aedes aegypti (IMFA) no nível crítico, com alta ou muito alta infestação em 42 bairros desde a última semana, o secretário de saúde pede que a população dedique 10 minutos da semana para revisar possíveis focos da doença dentro de casa. Segundo ele, apenas com essa medida, é possível eliminar 80% dos criadores.