Na última quinta-feira (27), ocorreu o último painel do 14º FDTthink, que foi comandado pelo GeraçãoE. Com a mediação da subeditora da plataforma de empreendedorismo, Isadora Jacoby, a palestra discutiu sobre empreendedorismo, abordando saúde social e inovação nas empresas. As painelistas Helena Kich, COO da Perestroika, e Andressa Brum Merolillo, CEO da Happy House, levaram ao palco suas experiências com relacionamento e treinamento dentro de corporações.
Educação corporativa e endomarketing estiveram no centro da discussão, focando na importância crescente da inteligência relacional e da comunicação assertiva no mercado de trabalho. As painelistas destacaram que a comunicação clara é uma habilidade indispensável tanto para líderes quanto para colaboradores.
Para Helena, a base da comunicação relacional reside na capacidade essencial de saber se comunicar. Segundo ela, muitas vezes, as pessoas não sabem se expressar adequadamente em ferramentas básicas como o WhatsApp ou e-mail. “Olhando para o cenário de hoje, vemos a importância de ter uma comunicação onde o colaborador se sinta protagonista, onde ele possa ter essa interlocução com a empresa e com as lideranças, sendo estas altamente influenciadoras na questão de comunicação”, destacou. Para ela, a ausência de interação também é um sinal importante. "Quando uma pessoa não quer se comunicar, ela está comunicando algo", afirmou.
Andressa destaca que a comunicação se torna ainda mais importante em um contexto onde, cada vez mais, as pessoas estão sendo bombardeadas o tempo todo com informações. “Na Happy, temos que ser o meio dessa informação, onde os colaboradores também possam consumir os conteúdos das empresas de uma forma interessante, que não seja algo tão top down, mas que também eles se sintam parte disso”, explica.
A CEO da Happy House observa que a comunicação é vital para alinhar a cultura, pois "ninguém luta por aquilo que não sabe". De acordo com ela, os colaboradores precisam saber por que estão lutando, qual é o objetivo estratégico da empresa, e quais são seus valores e princípios. O movimento, conforme afirma a especialista, deve ser feito em qualquer empresa, independentemente do tamanho.
Outro ponto abordado pelas palestrantes é sobre a necessidade do discurso estar alinhado à prática. “Hoje não há espaço para prometer diversidade sem tê-la, ou falar em sustentabilidade sem que isso exista no dia a dia”, reforçou Andressa.
O painel também trouxe o papel dos rituais e práticas na construção da comunicação relacional. Helena explicou que esses mecanismos precisam existir desde o início de um negócio, mesmo quando há apenas duas ou três pessoas envolvidas. “A cultura nasce pequena e depois vira um transatlântico. Se tu não cuida dela no começo, depois não tem como fazer o caminho inverso”, pontuou. Ela citou o “check-in” semanal da Perestroika como exemplo de ritual simples, mas importante. Nesse encontro, o time, que atua 100% remoto, compartilha como foi o fim de semana e como chega para a semana de trabalho.
Segundo Helena, esse tipo de ritual carrega múltiplas funções: valida quem a pessoa é além do trabalho, sinaliza acolhimento e segurança, abre espaço para vulnerabilidades e aumenta a produtividade. “Quando eu sei que alguém está numa semana mais difícil, eu consigo realocar recursos antes que vire um problema. Liderança é preventiva”, destacou.
Andressa ressaltou que muitas empresas ainda veem a liderança apenas como instância de resolução de crises, quando, na verdade, ela precisa ser preventiva. Para ela, rituais são canais de confiança que estabelecem previsibilidade emocional. “Se existe um espaço seguro para falar, eu sei que posso me comunicar. Essa previsibilidade diminui ruídos, especialmente quando o time é diverso.”
Desafios geracionais
Com diferentes gerações (Baby Boomers, X, Millennials e Z) atuando no mercado de trabalho, a comunicação se torna um ativo ainda mais importante. “É natural que um Millennial ache estranho alguém fechar o computador às 18h. Mas isso não é falta de compromisso, é outra lógica de vida”, explicou Helena, que defendeu a importância da colaboração intergeracional. “Criou-se um abismo. A inteligência relacional serve justamente para construir pontes.”
Um dos exemplos mais marcantes veio de Andressa, que relatou o caso de uma estagiária de 17 anos que, por vergonha de encarar a líder, uma profissional muito mais experiente, parecia desinteressada durante um treinamento. “Enquanto nas redes sociais ela demonstrava o maior amor pela rotina, pessoalmente ela travava a líder assim por respeito”, contou. Para Andressa, situações assim evidenciam como a comunicação é moldada pelo contexto pessoal e pela formação pós-pandêmica, marcada por interações majoritariamente digitais. “A gente precisa ter empatia para entender que nem sempre falta de contato visual é desinteresse. Às vezes, é só outra forma de comunicação.”
As expectativas profissionais também mudam com a chegada da Geração Z ao mercado de trabalho. A nova geração não busca apenas remuneração, mas também por ambiente saudável, deslocamento reduzido, coerência de valores e liderança empática. “Hoje, as empresas também precisam conquistar os candidatos”, disse Andressa, explicando que o posicionamento de marca empregadora se tornou estratégico.
Os desafios também acontecem pela permanência das pessoas por mais tempo no mercado de trabalho. “As empresas não estão preparadas para lidar com a permanência dos mais velhos”, afirma Helena. Segundo ela, o mercado ainda opera na crença ultrapassada de que profissionais acima dos 40 ou 50 anos são menos adaptáveis, quando, na prática, representam enorme potencial de mentoria, conhecimento e vínculo. Andressa citou exemplos de iniciativas em andamento, como os programas do Boticário e da Panvel voltados à contratação de pessoas 50+, que têm apresentado resultados positivos.

