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Publicada em 07 de Maio de 2025 às 20:23

Um ano depois, Clube dos Jangadeiros comemora retomada total das operações

Associados atuaram nos salvamentos em diversas regiões da cidade

Associados atuaram nos salvamentos em diversas regiões da cidade

/Léo Salvador/Divulgação/JC
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Cássio Fonseca
Cássio Fonseca
Quem passa pela orla da Zona Sul de Porto Alegre, na altura dos bairros Tristeza e Assunção, está acostumado com a vista dos barcos dos clubes náuticos atracados próximos à beira do Guaíba. Pode-se ver, também, a estrutura desses locais e alguns pontos clássicos, como a ponte do Clube dos Jangadeiros, que liga a parte do ”continente” com a ilha particular do clube, a qual o outro acesso pode ser feito apenas pela água. No entanto, a cena destes pontos desaparecidos, submersos pela enchente que assolou o Estado um ano atrás, foi de inimaginável a uma memória daquelas que não devem ser esquecidas tão cedo.
Quem passa pela orla da Zona Sul de Porto Alegre, na altura dos bairros Tristeza e Assunção, está acostumado com a vista dos barcos dos clubes náuticos atracados próximos à beira do Guaíba. Pode-se ver, também, a estrutura desses locais e alguns pontos clássicos, como a ponte do Clube dos Jangadeiros, que liga a parte do ”continente” com a ilha particular do clube, a qual o outro acesso pode ser feito apenas pela água. No entanto, a cena destes pontos desaparecidos, submersos pela enchente que assolou o Estado um ano atrás, foi de inimaginável a uma memória daquelas que não devem ser esquecidas tão cedo.
Ainda assim, a reconstrução destes espaços foi feita em cerca de seis meses, até dezembro de 2024, e os estragos das cheias já não são perceptíveis, ao menos em um primeiro momento. É o caso do Jangadeiros, que viu sua sede ficar embaixo d’água naquele fatídico início de maio. Agora, com a retomada, respira novos ares, com a mesma estrutura, reconstruída após a tragédia.
É o que destaca o comodoro do clube, Cristiano Tatsch, além de ressaltar o trabalho voluntário no início da catástrofe na Capital: “Temos uma escola de vela e o pessoal, inclusive da classe de campeonato, foi para a água ajudar a socorrer as pessoas que estavam ilhadas”. Foram cerca de 15 botes disponibilizados para os resgates nos dez primeiros dias de enchente. À época, o ponto de partida era a sede do clube, em direção às Ilhas, Humaitá ou qualquer outro lugar em que se pedia o socorro, vindo desde o contato as autoridades às redes sociais do clube, abarrotadas de mensagens daqueles que já não viam outra opção para serem atendidos.
A importância do envolvimento do Jangadeiros e outras associações náuticas, acima de tudo, tem haver com expertise. “Nossos atletas e velejadores, principalmente os mais jovens, conhecem muito, sabem o que se faz na correnteza do rio, como se entra num bote de borracha para não virar, como se enfrenta uma onda grande. Eles estão habituados a isso. E o pessoal, mesmo de órgãos públicos de defesa civil, não entendem especificamente de água, como o nosso pessoal que estava envolvido”, salienta Tatsch.
O comodoro também alerta que o Guaíba é muito baixo e funciona à base de canais, e o do clube, que leva para o canal onde ocorre o trânsito de navios maiores, foi perdido. Trata-se de uma das obras ainda em andamento, no valor de R$ 200 mil oriundos do cofre do Jangadeiros, assim como a construção de uma rede de esgoto própria e uma rede de energia com cabos subterrâneos blindados para não serem atingidos pela água. Um dos pontos de destaque é que nenhuma das quase 100 embarcações foi perdida com a catástrofe.
No continente, as perdas também foram significativas, não só para o clube, mas também para os comerciantes do local. Foi o caso da Equinautic, que vende equipamentos e acessórios náuticos que, apesar da expressiva perda de material com o impacto da cheia no depósito, se manteve ativa no espaço da loja, afetado em menor escala, para auxiliar nos resgates com a reposição de peças que estragavam ao longo do dia. “Como nós tínhamos que ficar 24 horas por dia lá dentro, começamos a atender as pessoas, porque era muita gente fazendo resgates. Ajudamos a trocar hélice e motor dos barcos, por exemplo”, conta o proprietário do negócio, Márcio Lima. No fim, a loja “virou um QG na Zona Sul. O pessoal guardava mantimento, e também administrávamos o remédio para a leptospirose”, relembra.
Ele estima um prejuízo na casa de R$ 2 milhões, apesar das quatro viagens de caminhão para retirada de equipamentos do local quando o Guaíba não havia avançado. A Equinautic ainda lida com a limpeza de equipamentos menores, diante de tamanha demanda de recuperação após o desastre.
Um ano depois, Tatsch reflete que, “em primeiro lugar, pensávamos que a enchente de 1941 nunca mais fosse acontecer. E isso nos desmentiu. Porto Alegre tem que estar preparada. Temos que aprender com isso”. Lima também alerta que “o Guaíba vem se assoreando pela ação do homem, de desmatamento, e leva areia para a beira”, e entende que hoje, assim como toda cidade, “estamos contando com a sorte”.

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