Ana Esteves, especial para o JC
O turismo voltado à tradição gaúcha é um dos grandes motores da economia do Rio Grande do Sul. Eventos como o Acampamento Farroupilha, que deve receber mais de dois milhões de visitantes em 2025, movimentam diretamente setores como hospedagem, alimentação, transporte e comércio, reforçando a importância dessa modalidade para o desenvolvimento regional. Os turistas que buscam esse tipo de experiência procuram justamente a autenticidade: vivenciar o chimarrão, a música, as danças, a culinária típica, os rodeios e a hospitalidade nos Centros de Tradições Gaúchas. Para ampliar essa oferta, a Secretaria de Turismo (Setur) criou o Programa O Sul Tchê Espera, com investimento de R$ 214 milhões e que reúne um conjunto de medidas voltadas à promoção dos destinos gaúchos e ao fortalecimento do turismo como vetor estratégico de desenvolvimento. O programa articula ações com entidades do setor, campanhas de divulgação e incentivo à qualificação da oferta turística nos municípios. "A iniciativa nasce como uma grande articulação para impulsionar o turismo nas nossas regiões. Mais do que um programa, é um movimento que valoriza quem somos e projeta o Rio Grande do Sul como destino de oportunidades, cultura e desenvolvimento", frisou o secretário de turismo, Ronaldo Santini.
Um dos destaques é a parceria estratégica com o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), que contará com R$ 3,5 milhões para transformar a cultura do Rio Grande do Sul em experiência turística. A iniciativa vai valorizar os Centros de Tradição Gaúcha (CTGs) como espaços de recepção de visitantes, promoção de vivências e fortalecimento do turismo cultural em todo o Estado. O Estado já tem uma grande alavanca do turismo, que é a Serra Gaúcha, e agora busca promover aquilo que é peculiar daqui, sem descaracterizá-lo. “Esses esforços se somam a investimentos expressivos em promoção, como a campanha nacional Viva o Inverno Gaúcho, que contou com R$ 40 milhões e mais de 50 ações promocionais em diferentes mercados, e o estímulo ao fluxo turístico regional”, afirma Santini.
Cenário da Revolução foca em turismo histórico
O turismo histórico tem se destacado entre as pessoas que apreciam conhecer mais a fundo o passado dos gaúchos. É o caso dos turistas que visitam a Fazenda da Tafona, em Cachoeira do Sul (RS), em busca de detalhes sobre como era a rotina do local que foi cenário da Revolução Farroupilha. Havia uma clareira onde escondiam os cavalos na época da guerra, uma trincheira na volta toda da casa e mais de 3,5 mil documentos como a carta dizendo "falei com o Imperador e ele disse para parar com as intrigas". A casa com paredes brancas e aberturas em terracota é datada do início do século 19 e foi tombada pelo Instituto de Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural do Estado (Iphae), em 2016. "No local, trabalhavam pessoas escravizadas e, por isso, junto com o Movimento Negro, foi criado o Território Negro da Fazenda da Tafona e pedimos perdão. E também para ir contra o apagamento da história dos negros", afirma a proprietária da fazenda, Marô Vieira da Cunha Silva, que ao lado do marido Marco Aurélio de Castro administra o local. O nome Tafona remete ao moinho de farinha de mandioca e de polvilho que funcionava na propriedade. Ainda hoje é possível encontrar a estrutura original utilizada no processo.
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A obra da Fazenda teria iniciado em 1813. Na época foi chamada de Estância São José, propriedade de José Vieira da Cunha, português radicado no Brasil e que se casou com a filha de João Pereira Fortes, um sesmeiro de Rio Pardo, que ajudou a construir o Forte de Rio Pardo. A visitação ao local é feita mediante agendamento, ocorre uma vez por mês e tem crescido a cada ano. "As pessoas se emocionam quando nos visitam, por conta de ter uma história vida das pessoas escravizadas", diz Marô. A casa é dividida em uma área com museu, onde são expostos documentos e móveis antigos e outra área residencial, onde moram os proprietários.