Em Lincoln, em Nebraska, a comitiva gaúcha que está conhecendo experiências de irrigação em um dos estados com maior fatia de uso do recurso para produção e foco em milho e soja, já teve no primeiro dia uma boa medida de avanços e modelo da região. Nas duas culturas, o estado é líder em irrigação.
“Nebraska é considerado um dos melhores cases de irrigação e gestão de recursos hídricos do mundo. Estruturamos esta missão para que possamos buscar lá soluções adequadas à realidade do Rio Grande do Sul", comentou o secretário de Agricultura do Estado, Edivilson Brum.
"Não podemos mais ficar à mercê das mudanças climáticas, especialmente quando enfrentamos severas estiagens a cada dez anos. O agronegócio representa cerca de 40% do PIB gaúcho, e é fundamental fortalecê-lo", destacou Brum.
Nas primeiras sessões com interlocutores do Instituto Dougherty Water for Global, da Universidade de Nebraska, o dirigente observou impactos como o fato de Nebraska ter 85% da irrigação com água subterrânea. "Medição de dados e análise de aquíferos são fundamentais. Usamos (Estado) muito pouco águas subterrâneas", cita Brum.
Na estrutura de uso dos mananciais, os Distritos de Recursos Naturais (NRDs, na sigla em inglês, Natural Resources Districts) são cruciais, pois fazem a gestão e liberação de licenças, além de fiscalização de como os produtores fazem a exploração. O maior segredo da regulação é que tudo é muito transparente, com dados coletados.
O secretário adjunto da pasta de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Marcelo Camardelli, cita que as propriedades gaúchas usam mais águas superficiais e menos águas subterrâneas. "Hoje liberamos poços em 24 horas, por meio online", diz Camardelli.
Brum destacou os procedimentos de medição de dados e análise de aquíferos de Nebraska
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
"Estamos melhorando para as outorgas de águas superficiais, que é a maior demanda. São 300 mil poços, mas desde o uso na agricultura a outras finalidades", cita o secretário adjunto, lembrando que o Estado tem maior precipitação comparado à região do EUA onde a missão acontece, mas o problema é a irregularidade, que marca os períodos de estiagem.
Outro desafio é mapear o uso, como é feito em Nebraska. Camardelli cita que apenas grandes usuários hoje precisam repassar dados, como companhias de água e indústrias de bebidas.
São mais de 20 integrantes na comitiva, entre representantes do governo, que inclui também Desenvolvimento Rural e Desenvolvimento Econômico, InvestRS, Fepam e Departamento de Recursos Hídricos (DRH), Emater, Assembleia Legislativa, Instituto Rio-Grandense do Arroz, Abrasoja e Famurs. O governo estadual tenta reverter o quadro com o Programa Irriga + RS, relançado em 2023.
A iniciativa busca dobrar a área irrigada até 2030, apoiando produtores na construção de reservatórios, no acesso ao crédito e no licenciamento ambiental. Desde sua retomada, o programa já cadastrou mais de 8 mil produtores e conta com 1,5 mil projetos de irrigação em análise ou execução. Entretanto, gargalos como o alto custo de energia elétrica, a complexidade do licenciamento e o investimento inicial ainda travam uma expansão mais rápida.