Por que Nebraska, no meio oeste dos Estados Unidos, entrou no radar como modelo de irrigação para ampliar a produção de grãos? No primeiro dia da Missão do RS nos EUA, justamente no estado, ficaram claras as habilidades que garantem a condução e nível de uso de reservas e que cobrem 13% da área de agricultura do Nebraska, algo como 3,6 milhões de hectares, de milho e soja.
Representantes do Daugherty Water for Food Global Institute (DWFI, na sigla em inglês), da Universidade de Nebraska, listaram cinco aspectos que fazem o êxito do modelo.
Os cinco pontos são capacidade de uso da tecnologia, dados mapeando áreas e ganhos para as culturas, relação com as comunidades e instituições, confiança no uso das autorizações e recursos financeiros. Só na questão de informações, o estado acumula 132 anos de registros de como é o comportamento e uso de água.
"Os dados são decisivos para a tomada de decisões", observou Nicholas Brozovic, diretor de Políticas do instituto. Outro detalhe na atuação nas regiões é a transparência das informações. Relatórios são emitidos anualmente com a condição das reservas de água, mostrando a situação do aquífero, no caso do Nebraska, o principal é o Ogallala.
Comitiva acompanhou dados e como é o modelo de uso de recursos hídricos
fotos: PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
"São ferramentas para manejar água subterrânea. Precisa ter confiança entre os usuários. Sem construir essa confiança e os dados, não se criam ações para a área", ressaltou Brozovic. Os dados, por exemplo, também são subsídios para sustentar a pesquisa, que tem como um dos hubs o campus de Inovação da Universidade de Nebraska, onde fica o DWFI. Uma das preocupações para o futuro é ter uma nova geração de profissionais para atuar e com foco em segurança hídrica e alimentar.
"Irrigação é vista como uma maneira de garantir a produção”, apontou o diretor de pesquisa do instituto, Cristopher Neale. Brasileiro, mas há mais de 40 anos atuando no país com foco e especialização em uso de água para produção em engenharia, Neale coordenou o primeiro dia de visita da comitiva gaúcha.
O diretor de pesquisa citou que hoje a instituição está com parcerias com estados do Brasil, como Bahia, Mato Grosso e Paraná, para auxiliar em avanços no uso de águas subterrâneas.
Brozovic listou os principais fatores que impactam na utilização e futuro do modelo local
PATRÍCIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
O diretor de pesquisa destaca a construção de confiança com produtores e áreas onde há a coleta de água. "Quando falamos em irrigação, temos de olhar todos os usuários de água, desde campo à cidade, e até setores como indústria", orienta Neale.
Um dos aspectos que foram muito destacados é o cumprimento da lei e de regulamentos sobre o uso da água. “A transparência de dados é o fator de sucesso do modelo. Em anos que o aquífero baixa, adotam-se restrições. O agricultor pode ir olhar e ver que baixou e entender que a regra mudou para garantir a sustentabilidade futura", relaciona Neale.
O diretor do instituto, Peter McCornick, pontuou que o caminho para ampliar áreas com irrigação envolve o engajamento dos produtores e como as instituições gerenciam os recursos de água. McCornick alerta para a disponibilidade hídrica. "É um investimento de longo prazo em educação e participação, mas precisa estabelecer um sistema de governo para gerenciar os recursos hídricos", recomendou o diretor.