Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Indústria

- Publicada em 22 de Março de 2024 às 17:02

'Não dá para trocar empregos do Brasil por empregos da China', avalia CEO da Gerdau

Werneck cobra alternativas governamentais para a defesa do aço diante da competitividade asiática

Werneck cobra alternativas governamentais para a defesa do aço diante da competitividade asiática


TÂNIA MEINERZ/JC
Não há números concretos, mas estimativas. De um pacote de R$ 6 bilhões previstos em investimentos entre todas as operações da Gerdau no Brasil e no Exterior em 2024, em torno de R$ 100 milhões devem ser destinados pela empresa gaúcha em suas unidades no Rio Grande do Sul. A estimativa, inclusive ainda não concretizada oficialmente ao mercado, é de que a empresa repita nos próximos cinco anos um ciclo de R$ 500 milhões investidos no Estado. Serão aportes, segundo o CEO da empresa, Gustavo Werneck, cercados de incertezas e direcionados a melhorias de processos, não em ampliação de capacidade em nenhuma das unidades brasileiras.
Não há números concretos, mas estimativas. De um pacote de R$ 6 bilhões previstos em investimentos entre todas as operações da Gerdau no Brasil e no Exterior em 2024, em torno de R$ 100 milhões devem ser destinados pela empresa gaúcha em suas unidades no Rio Grande do Sul. A estimativa, inclusive ainda não concretizada oficialmente ao mercado, é de que a empresa repita nos próximos cinco anos um ciclo de R$ 500 milhões investidos no Estado. Serão aportes, segundo o CEO da empresa, Gustavo Werneck, cercados de incertezas e direcionados a melhorias de processos, não em ampliação de capacidade em nenhuma das unidades brasileiras.
Entre Sapucaia do Sul e Charqueadas, a Gerdau emprega 3,9 mil pessoas e, no ano passado, finalizou outro ciclo de R$ 500 milhões em investimentos nas duas usinas - R$ 250 milhões desembolsados em 2023. 
"Vai ser mais um ano desafiador. Estamos em um momento em que anualmente desembolsamos cerca de R$ 6 bilhões em investimentos, mas ao mesmo tempo, com uma preocupação, olhando para o futuro do Brasil, se a gente vai continuar investindo tanto dinheiro aqui no futuro. A importação subsidiada de aço da China é desleal, e até o momento não há respostas governamentais para proteger a produção nacional", diz Werneck.
O executivo detalhou, em entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio durante a sua participação no South Summit, em Porto Alegre, o momento de pressão e incertezas que o setor siderúrgico enfrenta no País, que resultou, por exemplo, em uma inversão histórica na importância das operações da empresa. O ano passado foi o terceiro melhor da história em termos de resultados financeiros da Gerdau, com receita líquida de R$ 68,9 bilhões e Ebitda ajustado de R$ 13,5 bilhões. A maior parcela dos bons resultados, porém, representa as operações na América do Norte, especialmente nos Estados Unidos.
Ainda assim, a empresa gaúcha, que completa 123 anos em 2024, acelera aqui, no Rio Grande do Sul, o protagonismo na busca de inovação e de ações para reduzir os impactos ambientais da produção de aço. Não à toa, a Gerdau assumiu neste ano o posto de principal patrocinadora da terceira edição do South Summit, na capital gaúcha.
"Queremos criar cada vez mais conexões que serão muito relevantes para dar competitividade e desempenho para a Gerdau. Estamos criando os próximos 100 anos da companhia, que tem raízes e continuará aqui no Rio Grande do Sul. Daqui, hoje, exportamos para todas nossas operações no mundo muita tecnologia e conhecimento de gestão", aponta Gustavo Werneck.

Jornal do Comércio- A Gerdau encerrou no ano passado um importante ciclo de investimentos nas unidades gaúchas. O que esperar para 2024?
Gustavo Werneck- Estamos em um momento em que anualmente, entre todas as operações, desembolsamos cerca de R$ 6 bilhões, mas, ao mesmo tempo, temos uma preocupação quando olhamos para o futuro do Brasil e se vamos continuar investindo tanto dinheiro aqui no futuro. Porque enfrentamos uma importação desleal de aço chinês (em 2023, houve aumento de 50% nas importações do metal) e ainda não vimos se materializando ganhos, por exemplo, com a própria reforma tributária. Então, o debate que nós temos neste momento é se o futuro da Gerdau continuará sendo tão forte no Brasil como tem sido nos últimos 123 anos ou se vamos passar a investir mais em países com ambientes mais propícios para a indústria, como são atualmente o México e os Estados Unidos.

JC-Como tem sido a relação com o governo federal para reverter este quadro?
Werneck- Sigo na segurança e na certeza de que o governo federal está cada vez mais aberto para debatermos oportunidades de defesa comercial. Não dá para trocar empregos do Brasil por empregos da China. Do ponto de vista da Gerdau, mesmo com o melhor momento da nossa história como companhia, com um balanço muito saudável, para nós é preocupante não só no curto prazo, mas no médio prazo também, que até o momento não tenhamos encontrado alternativas junto ao governo federal para a defesa comercial não só do aço, mas de outros negócios que não conseguem competir com produtos chineses e asiáticos que entram subsidiados. Em 2024, teremos um ano desafiador, mas tenho certeza de que vamos encontrar os caminhos adequados para voltarmos a ter uma plataforma muito relevante de produção de aço no Brasil.

Na sua participação no South Summit do ano passado o senhor apresentou números de faturamento recordes da Gerdau nas operações de 2022. Os números continuam muito positivos em 2023. O que mudou?
Werneck- Em 2023 tivemos o terceiro melhor ano da nossa história de 123 anos, e 2024 tem tudo para ser um ano muito bom, com menos resultado vindo do Brasil, mas com parcela muito significativa vindo da América do Norte, especialmente Estados Unidos. Demoramos 121 anos para que a operação lá ficasse maior do que no Brasil. É frustrante do ponto de vista do brasileiro, mas ao mesmo tempo mostra a importância de termos nos globalizado, nos internacionalizado para que, em momentos de dificuldade, como estamos enfrentando aqui, temos outras geografias que sejam fontes de receita importantes para a companhia.

JC- O Brasil reduz relevância em resultados e possivelmente em investimentos, mas qual papel o Rio Grande do Sul tem nessa geografia?
Werneck- Queremos ficar aqui pelo resto da nossa história. O Rio Grande do Sul e Minas Gerais são estados muito amigáveis para fazermos negócios. São os estados onde estamos estudando colocar os valores de investimentos maiores. Daqui do Estado exportamos para o mundo muita tecnologia e conhecimento de gestão. Todos os países veem a Gerdau do Rio Grande do Sul como fonte inesgotável de estímulo ao desenvolvimento.

JC-Qual será o perfil dos futuros investimentos no Rio Grande do Sul?
Werneck- Serão investimentos em melhorias de processos e tecnologia, não investimentos em nova capacidade, porque o Brasil não comporta nova capacidade. Investimos muito no passado e, nesse momento, temos plantas paradas aguardando uma demanda que nunca veio. Estamos em uma busca incansável por melhoria operacional, de desempenho e com uma pegada menor com relação às emissões de CO2 e gases do efeito estufa. A produção de Charqueadas, por exemplo, é absolutamente relevante porque atende o mercado do Brasil de aços especiais na indústria automobilística, cada vez mais direcionados às inovações, por exemplo, com os híbridos, que exigem cada vez menos peso dos carros. Produzimos aços longos que correspondem a 10% do peso de um carro ou caminhão, que vão nos motores, nas peças como bielas, suspensões. São aços que garantem não só o futuro da indústria automobilística como a segurança das pessoas que utilizam esses veículos. Temos produzido aços mais limpos, mais modernos, leves. Aços com menor pegada de carbono.

JC-Qual o caminho para a redução da pegada de carbono?
Werneck- Somos uma empresa muito competitiva do ponto de vista de emissão de CO2, já que a gente emite, pelos modelos de negócios que temos, menos da metade da média mundial. O grande modelo de negócios é baseado na reciclagem de sucata, economia circular. Isso resulta em emissão 10 vezes menor do que a produção de um aço via minério de ferro ou carvão. Em 10 anos, queremos reduzir nossas emissões em 10%. A longo prazo, assim que as tecnologias estiverem disponíveis, produzirmos aço com emissão neutra de CO2.

JC- A Gerdau tem inovado no desmonte de plataformas em Rio Grande. São duas, há mais alguma em vista? Qual a relação desse desmonte com a produção de aço e sustentabilidade dessa produção?
Werneck- É um grande avanço para o Brasil. Essas plataformas virariam sucata, mas são navios que, além do metal, têm fluidos, óleos e produtos que precisam ser descartados ou aproveitados de maneira adequada, sem gerar dano ambiental. Tem sido um aprendizado para criarmos processos absolutamente seguros, mas é algo ainda novo. No País, hoje, não tem uma infraestrutura que permita desmontar mais de duas plataformas ao mesmo tempo, e nós imaginamos que nos próximos anos cerca de 40 plataformas vão estar disponíveis. Enquanto não se cria estrutura portuária para o desmonte, vai nesse ritmo, talvez de duas por ano. O volume vai ficar todo no Rio Grande do Sul. Uma plataforma como essa atende cerca de um mês de produção de uma usina como Charqueadas.

JC- Há exigência por parte dos compradores de realmente ter essa redução na pegada de carbono na produção de aço?
Werneck- Os clientes cada vez mais têm pedido, embora o grande debate mundial é quem vai pagar a conta. A descarbonização passa por investimentos muito significativos, e esses investimentos hoje não se comportam no balanço das empresas. A grande questão global é de onde virá esse dinheiro. Mesmo com os clientes exigindo, não percebemos nenhum cliente que esteja disposto a investir parte dos seus lucros nessa transição para economia de carbono neutro.

JC- A Gerdau ocupa um papel de protagonismo no South Summit. O que a empresa busca em um evento como este?
Werneck- Queremos ver modelos de negócios de melhoria de meio ambiente, melhoria de desenvolvimento social, conexão com a sociedade. É muito relevante para nós. Muitas pessoas acreditam que estamos no South Summit pelas raízes históricas com o Rio Grande do Sul, mas é muito mais do que isso. Ano passado foi um exemplo de que os três dias de evento se traduziram, nas semanas que se seguiram, de debates muito importantes, com diversas startups e empresas que passaram por aqui e ajudaram a Gerdau a melhorar sua competitividade e ajudar a sociedade. O South Summit tem poder de criar conexões e negócios nas semanas que sucedem o evento. Aumentar nosso apoio é a certeza de que, a partir da segunda feira da semana que vem, vamos criar conexões que serão muito relevantes para gerar competitividade e desempenho para a Gerdau. Estamos criando os próximos 100 anos da companhia.

JC- Como é feito, por exemplo, o contato com startups hoje na Gerdau?
Werneck- Foi uma grande transformação que a Gerdau sofreu nos últimos 10 anos. Era uma empresa tradicionalmente fechada e de difícil acesso. Hoje, é aberta e absolutamente conectada ao ecossistema. Somos muito amigáveis para qualquer negócio que quiser conectar com a gente. Eu, como presidente da empresa, estou completamente acessível. O Linkedin, por exemplo, é um ambiente onde eu opero diariamente. Respondo a todos que me conectam.
 FICHA TÉCNICA
Investimento: R$ 100 milhões (estimado)
Estágio: Em execução
Empresa: Gerdau
Cidades: Sapucaia do Sul e Charqueadas
Área: Indústria
..................................................................
Investimentos em 2023: R$ 250 milhões