Não foi nenhuma surpresa a elevação em 1 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic) para 13,25% ao ano. Na reunião de dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central já havia indicado a possibilidade de três aumentos consecutivos a partir da reunião de janeiro. Contudo, no encontro de quarta-feira, a terceira elevação projetada para a Selic ficou em aberto.
Esse contexto de aumento vem na esteira de um 2024 com números desafiadores, entre eles o da inflação. No ano passado, o percentual estabelecido como meta deveria ter ficado em 3%, com 1,5 ponto de tolerância, o que não foi cumprido. A inflação fechou o ano em 4,83%.
No cenário atual, com desancoragem adicional das expectativas, a primeira reunião com Gabriel Galípolo como presidente do BC entregou o que esperava o mercado, que não vê outra forma de puxar a inflação para o centro da meta que não seja por meio de uma política monetária mais contracionista.
Galípolo, desde que foi indicado ao cargo pelo presidente Lula, é alvo de "recados" frequentes, de diferentes escalões do governo, sobre a necessidade de juros mais baixos para o povo brasileiro. Lula, em diferentes ocasiões, marcou posição de que Galípolo teria autonomia, mas deveria trabalhar para reduzir os juros, algo que chegou a colocar em xeque a credibilidade do economista diante do mercado financeiro.
Ainda que próximo a Lula, a resposta do chefe do BC não poderia ser diferente. Ele e o colegiado preferiram jogar dentro do campo seguro diante da piora adicional das expectativas de inflação, do risco fiscal com relação à sustentabilidade da dívida pública e das incertezas no cenário externo, com a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.
Ainda há grande expectativa para o futuro da política monetária do Banco Central e o mercado está atento ao que vem por aí. A natureza volátil da economia, sobretudo no momento atual, pode trazer surpresas antes que a situação se estabilize.
O governo sabe que mudanças econômicas não podem ser abruptas. Contudo joga a responsabilidade pela decisão no colegiado, insinuando que ainda estão influenciados por Roberto Campos Neto - indicado por Jair Bolsonaro, presidiu o BC nos dois primeiros anos de Lula - e se exime de sua própria responsabilidade, que é colocar em prática os ajustes fiscais que garantam o reequilíbrio das contas públicas. Uma ação que reduziria a pressão sobre a inflação e permitiria corte de juros.