A Agência de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, Invest RS, iniciou seus trabalhos em 2024 com um desafio: a retomada econômica após as enchentes de maio. Agora, com um escritório recém-inaugurado em São Paulo e com ações mais consolidadas, ganha uma tarefa adicional, após o anúncio de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, medida assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e que entram em vigor em 6 de agosto.
Nesse cenário, a agência tem intensificado a busca por novos mercados para as exportações gaúchas. "No médio e longo prazo, temos uma agenda estratégica de abertura de novos mercados, porque essa situação mostra que depender de somente um destino pode ser um risco para qualquer negócio. Temos esse compromisso de entender, mapear e ajudar as nossas empresas e o nosso Estado na abertura de novos mercados a partir de um trabalho que devemos fazer nos próximos meses", destacou o presidente da Invest RS, Rafael Prikladnicki, em entrevista à reportagem durante reunião-almoço promovida pela Câmara Brasil-Alemanha nesta quinta-feira, 31 de julho.
As medidas de Trump serão menos impactantes do que as que haviam sido originalmente anunciadas. Afinal, 694 produtos foram excluídos da lista das exportações que serão taxadas em 50%. Mesmo assim, efeito das tarifas norte-americanas tem preocupado empresários e investidores, que relatam uma maior cautela no desenvolvimento de novos projetos.
Conforme previsão da Federação de Indústrias do Estado (Fiergs) o Rio Grande do Sul deverá estar entre os entes federativos mais afetados, podendo ter forte impacto no seu Produto Interno Bruto (PIB).
"Nosso papel é o de unir forças com as demais federações e associações, visando continuar as negociações para ver se a gente consegue modificar esse cenário, porque ainda temos muitos setores importantes para o nosso Estado que estão sendo afetados", destaca o presidente da Câmara Brasil-Alemanha, Cleomar Prunzel.
Mesmo frente aos desafios, Prikladnicki acredita que ainda é possível atrair recursos ao Estado. "É um receio legítimo, mas é difícil generalizar, precisamos olhar por setores. Hoje anunciamos o interesse de uma empresa de transição energética que quer fazer um investimento de US$ 100 milhões no Estado, que viu o potencial do Rio Grande do Sul e está nos buscando como destino para o aporte em parceria com a Be8, de Passo Fundo. Tem empresas olhando para o Estado como potencial de investimento, mas temos que olhar de lupa alguns setores para entender os impactos e receios possíveis", analisa o presidente da Invest RS.
Uma das empresas que pode ser impactada pelo tarifaço é a Stihl, fabricante alemã de ferramentas motorizadas que produz no Brasil componentes industriais que são exportados aos Estados Unidos. A empresa tem fábrica em São Leopoldo. O efeito é estimado em R$ 12 milhões, conforme o gerente de desenvolvimento de produto Geovano Zimmer, que esteve presente no evento da Câmara Brasil Alemanha. A estratégia adotada pela empresa foi a de compensar as perdas por uma reestruturação financeira a partir dos componentes.
"A gente não fornece máquinas e produtos finais para os Estados Unidos, então, conseguimos fazer uma compensação em componentes. O setor financeiro está verificando se a gente não pode dar, de repente, alguma isenção em algum outro produto, ou um desconto, como é (uma transação) entre companhias. Nosso volume de produção e as metas estão bem claras e estamos tentando encontrar uma maneira fiscal e legal de compensar essa sobretaxa nos componentes", explica Zimmer.
Investimentos projetados ultrapassam R$ 5 bilhões
A Invest RS, em parceria com a consultoria McKinsey, tem mapeado 32 possíveis projetos que podem trazer um investimento projetado em mais de R$ 5 bilhões. Em 2024, o Estado já registrou um recorde de aportes, com R$ 100 bilhões entre empresas privadas e públicas, conforme o Anuário de Investimentos do RS, mapeamento realizado pelo Jornal do Comércio e que, conforme apontou Prikladnicki durante sua palestra, serviu como fonte para a elaboração dos estudos. O presidente da agência acredita que é possível manter o ritmo.
"Ano passado foi bastante importante do ponto de vista de investimentos, porque tivemos o maior da história do Estado, anunciado pela CMPC, de R$ 27 bilhões (conforme dados atualizados). Estamos em um momento bastante positivo e acho que o Estado está em uma crescente, a partir de um trabalho que tem sido feito com estruturas de dentro e de fora do governo. 2024 foi bastante significativo e a nossa ideia é manter o ritmo nos próximos anos", projeta Prikladnicki.
Além do escritório em São Paulo, no coração econômico e financeiro da América Latina, a Invest RS tem participado de missões oficiais na busca por novos mercados em diferentes países. Entre os destinos recentes estão a China, o Japão e a Malásia.