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Publicada em 15 de Julho de 2025 às 15:14

Entenda como taxação de Trump afeta o mercado interno brasileiro

A medida deve aumentar o custo dos produtos brasileiros no mercado dos EUA, o que reduziria sua competitividade em relação à fornecedores de outros países

A medida deve aumentar o custo dos produtos brasileiros no mercado dos EUA, o que reduziria sua competitividade em relação à fornecedores de outros países

TÂNIA MEINERZ/JC
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Jamil Aiquel
Jamil Aiquel
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na última quarta-feira (9) uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o mercado estadunidense. A medida, que começa a valer dia 1° de agosto, pode agravar as relações comerciais entre os dois países, além de afetar diretamente a economia nacional.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na última quarta-feira (9) uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o mercado estadunidense. A medida, que começa a valer dia 1° de agosto, pode agravar as relações comerciais entre os dois países, além de afetar diretamente a economia nacional.
Anunciada oficialmente por meio de uma carta enviada ao governo brasileiro, Trump justificou a aplicação da sobretaxa afirmando que a relação entre os dois países tem sido “muito injusta”, com o Brasil impondo barreiras comerciais e não financeiras aos produtos norte-americanos. Além disso, o presidente dos Estados Unidos citou supostas censuras para plataformas de mídia social dos EUA e mencionou uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A medida deve aumentar o custo dos produtos brasileiros no mercado dos EUA, o que reduziria sua competitividade em relação à fornecedores de outros países. Essa é uma medida sem precedentes e, segundo os especialistas, as consequências devem ser diversas.É o que analisa Maurício Weiss, professor do Programa de Pós-Graduação Profissional em Economia (PPECO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo ele, uma das principais preocupações para a economia brasileira é a variação na taxa de câmbio que uma medida como essa pode promover.
"Esse possível impacto na redução das exportações para os Estados Unidos, e o contexto de incerteza que isso gera, tem afetado a taxa de câmbio. Mesmo que isso ainda tenha afetado pouco, é algo para acompanhar mais, pois estávamos com uma tendência de apreciação, agora estamos com uma tendência de depreciação. Isso é negativo para a inflação como um todo", apontou.
Mas, por outro lado, a medida também pode afetar o País de maneiras positivas. Weiss afirma que os principais produtos agrícolas exportados do Brasil para os EUA, como o café e a laranja, podem diminuir de preço para o mercado interno.
"Teoricamente, isso poderia abrir espaço para uma redução no preço desses produtos, por conta de uma sobra de oferta. Como ainda tem uma certa demanda, e os preços de produtos como o café são cotados internacionalmente, talvez os produtores deem uma segurada no estoque buscando regularizar o acordo ou novos mercados. Se isso não acontecer, deve ocorrer uma queda nos preços no mercado interno", destacou. 
Outro produto muito exportado do Brasil para os EUA é o petróleo bruto. Porém, segundo o especialista, a medida de Trump não deve afetar os preços do mercado interno. "A questão do petróleo bruto que a gente deixa de exportar para os Estados Unidos, acho que não vai afetar. Porque a Petrobrás já coloca um preço mais baixo com o preço internacional, então acho que isso não afeta. Também é mais fácil de achar outros mercados”, ponderou.
Além dos produtos citados, semiacabados de ferro e aço e celulose são mercadorias brasileiras muito exportadas para o mercado estadunidense, e que poderiam ter seus preços afetados pelas sobretaxas.
"O mercado de aço talvez também possa ter um efeito positivo, porque é difícil de achar um um substituto, pelo que o os Estados Unidos importa. Isso pode ajudar aqui na oferta de produção. Também tem a questão da celulose que pode sobrar mais no mercado doméstico e barateie um pouco o preço do papel. Não são produtos que o consumidor compra diretamente, mas pode baratear a nossa cadeia", afirmou Weiss.
Por fim, o professor afirma que a medida não deve afetar a quantidade de produtos importados dos EUA. Weiss diz que o presidente Lula provavelmente não responderá à sobretaxa de Trump na mesma moeda. "Por enquanto não terá nenhuma mudança. O governo não sinalizou que vai colocar sobretaxa dos produtos que o Brasil importa. Acredito que o governo não vá por esse caminho, porque ele atrapalharia até a própria indústria brasileira", afirmou.

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