Roberto Hunoff, de Bento Gonçalves.
Após leve recuo no faturamento de 2024 na comparação com o ano anterior, resultado atribuído aos eventos climáticos, a Vinícola Salton, de Bento Gonçalves, acredita em recuperação neste exercício. A projeção é de consolidar R$ 630 milhões, acréscimo de 16% na comparação com 2024, que somou R$ 566 milhões – um ano antes, o valor havia sido de R$ 572 milhões. A retomada está alinhada com o objetivo da companhia de atingir faturamento de R$ 1 bilhão em 2030.
Os projetos da empresa para este ano foram apresentados pelo presidente Maurício Salton a fornecedores, especialmente produtores de uvas, estudantes, profissionais do agronegócio e demais interessados no setor, durante a realização da quarta edição do evento Ciclos e Vinhas, focado em sustentabilidade e inovação no campo. "O ano de 2024 foi atípico em função das questões climáticas, com repercussão ruim para o negócio. Tivemos perda de 20% nos meses de junho e maio, afetando diretamente a janela de vendas do inverno", registrou.
De acordo com o presidente, houve redução de aproximadamente 7 milhões de litros engarrafados no ano passado. Um dos mercados mais prejudicados foi o externo, que tem no suco de uva seu principal negócio. Em função da falta do produto, os volumes embarcados foram de 40% a 50% menores.
Para recompor as perdas, a empresa usou os estoques de segurança, o que permitiu manter a liderança nacional no mercado de espumantes, com 35% de participação, totalizando 12,3 milhões de garrafas vendidas. "Superamos os melhores momentos nessa linha", afirmou. Destacou que uma das metas para 2025 é ampliar essa fatia avançando para outras regiões e reforçando o portfólio com novos produtos e atualizações.
Atualmente, os espumantes respondem por 47% dos volumes vendidos; destilados, 30%; vinhos de mesa, 11%; vinhos finos, 6%; e não alcoólicos, 6%. De acordo com Salton, a linha de não alcoólicos, de baixas calorias, é uma das boas surpresas de 2024, revelando oportunidades potenciais de crescimento. "O objetivo é atingir público mais jovem, preocupado com a saudabilidade", apontou.
No segmento de vinhos de mesa, a empresa avalia possível mudança do engarrafamento para a planta de São Paulo, visando maior proximidade com alguns mercados potenciais, atualmente com atendimento prejudicado em razão das logística. Também em São Paulo, a Salton transferiu de local a sua enoteca, saindo de um espaço de rua para um condomínio comercial. Na linha de vinhos finos, o presidente reconheceu a perda de espaço no mercado local em função da concorrência externa. A estratégia para recuperar terreno consiste em apostar em volumes menores de produção, mas em linhas de maior valor agregado. As regiões Sul e Sudeste respondem por mais de 80% das vendas totais da Salton.
Outra novidade é o retorno de uma bebida que marcou época na empresa até o início dos anos 1980. A Salton está investindo na produção do bitter, bebida que tem mostrado forte aquecimento nos últimos anos e alinhada com o crescimento do consumo de drinks. Também está em desenvolvimento uma versão de spritzer a partir de infusão de ervas ou frutas na linha de espumantes. "É preciso dar uma resposta aos novos consumidores, porque o mercado está mudando. Torna-se necessário inovar, sem abandonar as linhas tradicionais", reforçou.
Apesar da retração, a companhia manteve uma série de investimentos para modernizar desde os plantios de videiras até a elaboração final. Dentre os avanços está a incorporação de plantadeira com capacidade para plantar até 6 mil mudas por dia, em uso na planta de Santana de Livramento, onde também foi adotada a irrigação automatizada.
Outro avanço inédito é o sistema para o controle das autoclaves durante todo o processo de elaboração dos espumantes, da inoculação das leveduras até o engarrafamento. A operação manual foi substituída por software que garante um monitoramento e coleta de dados contínuo, inclusive à distância.
Na questão ambiental, a empresa investiu mais de R$ 1 milhão, com destaque para o incentivo da logística reversa de garrafas. Atualmente, 50% destas embalagens usadas pela Salton são produzidas com vidro reciclado. Dos resíduos produzidos pela companhia, 99% são destinados à reciclagem ou compostagem.