"É um lugar mágico do vinho do mundo inteiro", comenta o empresário paulista Luiz Eduardo Batalha ao definir o paralelo 31, onde a Região da Campanha está localizada. O local se consagra por características especiais na produção de vinho e que levaram o empreendedor responsável pelo Azeite Batalha a iniciar mais um empreendimento em Candiota, comprando a vinícola Batalha. O solo, o clima e o relevo da região favorecem a maturação das uvas viníferas.
Não foi apenas o paulista que despertou para a região, que recebeu uma indicação de procedência em 2020. Afinal, o renomado narrador esportivo Galvão Bueno também adquiriu uma propriedade em Candiota próxima à de Batalha para produzir os rótulos da Bueno Wines, por meio de uma parceria com o Grupo Miolo.
Grandes empresas da Serra Gaúcha, a maior região produtora de vinhos do País, também têm cultivado hectares de uvas viníferas na Campanha e Fronteira Oeste. É o caso da própria Miolo, em Santana do Livramento e Candiota, a Salton, em Santana do Livramento, e a Cooperativa Nova Aliança, com produtores espalhados pela região.
O vice-presidente da Associação Vinhos da Campanha, André Gasperin, prevê que esse é apenas o começo: "é um polo produtivo que tem crescido bastante, a área plantada na região também vem crescendo em hectares e projetos. Antigamente, eram somente projetos de grande porte na região. Hoje, isso já se diversificou com projetos de pequeno porte e vinícolas boutique com produtos de destaque nos níveis nacional e internacional", reflete.
A produtividade não mente. Em crescimento desde 2016, embora de maneira alternada, a Região da Campanha produziu 1 milhão de litros de vinhos e espumantes em 2024, com destaque para a cidade de Candiota. Na Fronteira Oeste, o município de Santana do Livramento também se destaca, somando 3,2 milhões de litros produzidos em 2024. Ambas são as maiores produtoras de vinho da região.
Mas não é apenas as características do terroir que atraem os investidores à Campanha. Batalha, por exemplo, migrou para a região para criar gado da raça angus devido às características climáticas locais, mas, mais do que isso, se apaixonou pela receptividade dos gaúchos. "O que nos encanta, na verdade, desde o começo, é o povo do Rio Grande do Sul. É um pessoal politizado, educado e receptivo. São ferrenhos na dificuldade e muito ligados à terra", garante o empresário.
Já Gasperin acrescentaria a isso à história da região. "Não se vende só vinho, se vende cultura e história através do vinho. E nisso a Campanha é muito rica. Tivemos batalhas desde a Revolução Farroupilha e mostramos um povo aguerrido e trabalhador. Isso também se traduz um pouco na produção. São poucos produtos que, como os vinhos, podem trazer dentro da taça ou dentro da garrafa as características da região", pondera.
A própria vinícola Batalha não recebeu o sobrenome do empresário que a adquiriu. Na realidade, a denominação já era anterior à sua aquisição. Afinal, ela relembra a Batalha do Seival, ocorrida em Candiota no ano de 1836. O evento histórico também nomeia a Vinícola Seival, do Grupo Miolo.
Apesar dos avanços, ainda há pelo que batalhar na vitivinicultura da Campanha. O principal empecilho, hoje, é a disputa territorial com os produtores de soja, conforme explica Gasperin. "Além das questões usuais e normais de desafios do mercado e colocação do produto que é o vinho no Brasil, o desafio agronômico que se apresentou na última década foi a questão de aprender a conviver com as grandes culturas, principalmente a soja. Alguns herbicidas hormonais têm favorecido a predominância da soja e atrapalhado o cultivo de outras culturas", avalia o representante da Associação Vinhos da Campanha.
Em meio a desafios e possibilidades, Gasperin considera que, a longo prazo, outras conquistas podem surgir. Uma delas é a de denominações de origem controlada dentro do guarda-chuva da indicação de procedência. Os estudos para isso tem sido realizados com grupos de pesquisa locais e regionais, aliados aos produtores, à Associação e à Embrapa.
Principais municípios produtores de vinho nas regiões Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste:
- Santana do Livramento
- Candiota
- Santa Margarida do Sul
- Dom Pedrito
- Pelotas
Fonte: Secretaria da Agricultura, 2024
Olivicultura aposta em pesquisa para retomar produtividade

Presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Flávio Obino Filho avalia momento adverso
EVANDRO OLIVEIRA/JCO Rio Grande do Sul é um dos principais produtores de azeite de oliva extravirgem do Brasil. No cultivo da sua matéria-prima, a azeitona, fruto da oliveira, a Região Sul se destaca com os três municípios com as maiores áreas de olivais. Entretanto, nos últimos anos, foi necessário dar um passo atrás nos trabalhos: com uma queda na produtividade em 2024 e em 2025, é necessário investir em pesquisa para retomar os patamares dos anos anteriores. A avaliação é do presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Flávio Obino Filho.
A safra 2023/24 foi frustrante para muitos produtores. Na anterior, de 2022/23, a produção havia sido expressiva, com 580.228 litros de azeite e, no ano seguinte, esperava-se, inicialmente, superar o valor, chegando a 696.274, um aumento de 20%. Entretanto, eventos climáticos como ciclones, ventos fortes e menor intensidade do frio, levaram a uma queda de 67% na produtividade. Ao todo, foram 193.150 litros de azeite, 73% a menos do que o previsto.
Apesar dos entraves, era esperada outra supersafra em 2024/25. Mas o excesso de chuvas de 2024 indicam que, novamente, o cenário de menor produtividade deverá se repetir: a Ibraoliva estima um crescimento em relação à última safra, mas com números ainda inferiores que a de 2022/23. Os dados ainda não foram fechados, mas deverão ser disponibilizados neste primeiro semestre do ano.
A expectativa é de que, nos próximos anos, as pesquisas do Ibraoliva contribuam para identificar se os cultivares utilizados atualmente são os melhores para o clima gaúcho e, também, os impactos nos olivais dos defensivos hormonais utilizados na produção de soja em áreas próximas. "Nós vamos voltar para dentro da porteira para entender o que está acontecendo", pontua Obino.
"Se nós tivéssemos mantido aquele ritmo de crescimento, hoje nós estaríamos com certeza com mais de 8 mil hectares plantados", avalia o presidente do Ibraoliva. Apesar da queda de produtividade, a qualidade do azeite, considera, não foi reduzida: "nós temos, talvez, o melhor azeite do mundo e um parque fabril preparado, mas temos que ter oliva", acrescenta.
A expectativa de Obino é de que a área plantada seja ampliada nos próximos anos, assim como a produtividade. Para a safra de 2025/26, ele projeta a possibilidade de produzir entre 600 e 800 mil litros de azeite, a depender do clima e que, nos próximos anos, possa chegar a 1 milhão, a partir de pomares mais produtivos. Além disso, espera que os azeites gaúchos conquistem pelo menos 5% do mercado nacional, quintuplicando o percentual no mercado consumidor.
Maiores áreas de olivais nas regiões
- Pinheiro Machado
- Canguçu
- Caçapava do Sul
- Santana do Livramento
- São Gabriel
Fonte: Secretaria da Agricultura, 2024
Turismo deve fortalecer olivicultura e vitivinicultura na Região Sul e Fronteira Oeste

Trem do Pampa é uma das novas atrações em Santana do Livramento, com rota que inclui degustação de vinhos e azeites em fazendas produtoras
TÂNIA MEINERZ/JCDiante dos desafios, há um ramo que cresce entre produtores de azeite e de vinhos: o turismo. Enquanto a Região Sul é contemplada pela Rota dos Olivais, instituída pela Secretaria Estadual de Turismo, o projeto Trem do Pampa, que comporta até 100 passageiros, saiu do papel, incluindo visitação a fazendas voltadas à olivicultura e à vitivinicultura, assim como a degustação dos produtos. O trajeto, que liga Santana do Livramento ao distrito de Palomas, foi lançado em julho de 2024.
As paisagens bucólicas também inspiram projetos de produtores de azeites e vinhos. Entre eles, está o empresário Luiz Eduardo Batalha, que possui um projeto ambicioso. Até o final do ano, será inaugurado o Terroir 31, um complexo residencial e turístico em suas propriedades no município de Candiota, que contou com o investimento de R$ 50 milhões.
Por um lado, famílias poderão morar em um condomínio com oliveiras e parreiras plantadas em seus quintais, as quais poderão ser cultivadas, colhidas e industrializadas dentro da propriedade. Assim, os residentes terão azeites e vinhos com rótulos personalizados. Em outra área, os olivais e os vinhedos serão abertos à visitação em um luxuoso complexo.
"Tem uma linha de produtos, como loções, shampoos e cremes de azeite, vai ter também de vinho, que são coisas da moda. Tem uma hípica, porque gostamos muito de cavalo. Vai ter um hotel com 49 cabanas, pequenas casinhas, com churrasqueira e jacuzzi. Vai ser algo gigantesco", antecipa Batalha.
O empresário, aliás, acredita no potencial turístico da região da Campanha para turistas de todo o País e também internacionais, por ser um local estrategicamente situado próximo às fronteiras com a Argentina e o Uruguai. "Se o turista quer conhecer o gaúcho de verdade, tomar um vinho de primeira categoria, tomar um azeite na fonte e comer uma carne de cordeiro espetacular, ele tem que vir para a Campanha. Só tem um lugar, temos nós", acrescenta.
O presidente do Ibraoliva acredita que apostar no olivoturismo pode aquecer o mercado da Região Sul: "o turismo e a produção de vinho e de azeite de oliva andam de mãos dadas, a produção é muito mais aproveitada. Cada vez mais as agências e as pessoas procuram turismo de experiência e esses produtos se prestam muito a esse tipo de desejo e Rio Grande do Sul é hoje um endereço para isso", avalia Obino.
Perspectiva semelhante é compartilhada por André Gasperin, que confia no poder do enoturismo e do olivoturismo para girar a economia. De acordo com ele, além da produção ser beneficiada, os setores hoteleiro e gastronômico também crescem com os negócios no ramo. A expectativa dele é que iniciativas turísticas cresçam na região nos próximos anos.
"Na Serra Gaúcha, o enoturismo já é bem consolidado e mais antigo. Mas era um nicho pouco explorado na Campanha e que começou a surgir com força e projetos com investimentos robustos. É uma alternativa que as vinícolas têm de mostrar seu produto e seu trabalho para as pessoas que vêm conhecer", pontua Gasperin.