Um ponto imprescindível para a instalação de um parque eólico é o prévio acompanhamento dos ventos que ocorrem no local onde será construída a usina. Uma tarefa que se torna ainda mais complexa para os empreendimentos offshore (no mar). Dentro desse cenário, a Petrobras decidiu aproveitar a estrutura da sua monoboia, localizada na costa de Tramandaí e que serve para movimentar petróleo e seus derivados, para também instalar ali um sistema de medição dos ventos.
Segundo o gerente de desenvolvimento de negócios em energia eólica offshore da Petrobras, Glenio Correia Jr., os equipamentos deverão ser colocados em 2025 e irão recolher informações durante pelo menos três anos. A empresa, no momento, tem envolvimento com três iniciativas eólicas offshore ao longo da costa gaúcha que estão em processo de licenciamento ambiental dentro do Ibama. Esses projetos são chamados de Mostardas, em que a estatal atua sozinha, e Atobá e Ibituassu, em que participa com a companhia Equinor. Os complexos somam cerca de 8 mil MW de capacidade instalada (mais do que quatro vezes toda a atual potência eólica do Rio Grande do Sul).
Correia Jr, adianta que, além de Tramandaí, deverão ser feitas medições de ventos em outros pontos do litoral do Estado e um dispositivo que deverá auxiliar nessa ação é a Boia Remota de Avaliação de Ventos Offshore (equipamento batizado de Bravo). A estratégia é necessária já que a Petrobras não possui hoje plataformas de petróleo no mar gaúcho que poderiam servir de pontos fixos para instalar os aparelhos de medição de ventos.
A Bravo trata-se de um sensor óptico que utiliza feixes de laser para medir a velocidade e direção do vento, gerando dados compatíveis com o ambiente de operação das turbinas eólicas. O aparelho também é capaz de captar variáveis meteorológicas, como pressão atmosférica, temperatura do ar e umidade relativa, assim como variáveis oceanográficas, a exemplo de ondas e correntes marítimas. A Petrobras tem um desses equipamentos funcionando no Rio Grande do Norte e mais cinco deverão ser distribuídos na costa brasileira nos próximos meses.
A professora do departamento de Engenharia Mecânica da Ufrgs e coordenadora do Núcleo de Integração de Estudos, Pesquisa e Inovação em Energia Eólica (Niepiee), Adriane Prisco Petry, explica que quando os dados são coletados em cima de uma boia é preciso utilizar técnicas científicas para corrigir possíveis erros ocasionados pelo movimento do aparelho. Adriane e Correia Jr. participaram nesta quarta-feira (9) do 1º Workshop Ventos de Libra 2024 realizado no Centro Cultural da Ufrgs, em Porto Alegre.
Por meio do Niepiee, a universidade gaúcha participa do projeto de medição e análise dos ventos em área do pré-sal no Campo de Búzios, na Bacia de Santos, no litoral do Rio de Janeiro. A iniciativa foi demandada pelo Consórcio de Libra que é operado pela Petrobras em parceria com a Shell Brasil, Total Energies, CNPC, CNOOC e Pré-Sal Petróleo S.A. – PPSA. Adriane lembra que a pesquisa deve ser concluída em 2026. “Hoje, o projeto está com mais de 50 pesquisadores trabalhando simultaneamente”, informa a professora.
Com o avanço dos estudos no campo das offshore, a meta da Petrobras é instalar dois parques eólicos pilotos para desenvolver conhecimento nesse segmento. Um desses complexos deverá ser implementado na costa do Rio de Janeiro e outro no Nordeste. Correia Jr. adianta que essas estruturas devem entrar em atividade em 2029. “Funcionarão como uma espécie de laboratório de testes em cenário real”, diz o gerente da estatal. Ele estima que as operações comerciais de parques eólicos offshore no Brasil deverão ocorrer somente em cerca de dez anos. No momento, Correia Jr. argumenta que é preciso consolidar a regulamentação do setor.