Depois de passar por uma nova mudança regulatória em janeiro, com a vigência da Lei 14.300, o setor de geração distribuída (em que o consumidor produz sua própria energia, prática muito difundida através da instalação de sistemas solares fotovoltaicos) prevê sua consolidação a partir do próximo ano. “Acho que o final de 2024 vai mostrar para gente o número concreto, real, desse mercado”, aposta o presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Guilherme Chrispim.
O dirigente participou nesta quarta-feira (26) do 18° Fórum GD Sul, que será realizado até esta quinta-feira (27), no BarraShoppingSul, em Porto Alegre. Ele recorda que 2012 é considerado o nascimento da geração distribuída no País, quando foi implementada a resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estabelecendo as regras quanto à micro e mini geração distribuída. Depois disso, levou cerca de cinco anos para o segmento chegar a um patamar de 300 MW instalados. De 2017 para cá, o setor “deu um salto” passando de 20 mil MW (o que representa em torno de cinco vezes a demanda média de energia do Rio Grande do Sul). Esse crescimento desfreando deverá ser mais comedido a partir do próximo ano.
As novas regras do setor, com a Lei 14.300, significaram o aumento do payback (tempo de retorno do investimento) da compra do sistema fotovoltaico (passou de uma média de quatro anos para quatro anos e meio ou cinco, dependendo da região e da distribuidora de energia local, calcula o representante da ABGD). “Mas, a geração distribuída continua sendo um excelente negócio da perspectiva financeira, ambiental, de segurança e contexto global. As pessoas e as empresas vão permanecer olhando para esse sistema como uma solução”, afirma Chrispim.
O dirigente detalha que há atualmente demandas represadas, pedidos feitos antes das novas regras do segmento começarem a valer e que estão sendo realizados agora, ou seja, contratos firmados em 2022, mas que os sistemas fotovoltaicos começaram a ser instalados neste ano. Esse cenário contribuiu para que entre 1o de janeiro e 26 de abril de 2023 fossem instalados cerca de 2,45 mil MW em nova capacidade de geração distribuída no Brasil, o que representa um incremento de aproximadamente 20% em relação ao mesmo período de 2022. Para este ano, a ABGD já projetou que possa se chegar a um acréscimo total de, no mínimo, 7 mil MW, contudo Chrispim não descarta a possibilidade de atingir cerca de 9 mil MW.
Já a partir de 2024, o dirigente vê uma perspectiva de acomodação do mercado, com um crescimento anual de aproximadamente 6 mil MW. Ele salienta que a mudança da regulamentação implica ajustes e entendimento. Além disso, há outros fatores que afetam a economia como um todo, como o começo de um novo governo e uma taxa de juros elevada.
O representante da ABGD ressalta que em 2021 cerca de 56% dos equipamentos dos sistemas fotovoltaicos foram financiados e no ano passado esse percentual caiu para 22%. Chrispim explica que esse cenário ocorreu, basicamente, pela maior taxa de juros e alguma restrição ao crédito. “Porém, o mercado está amadurecendo, um movimento natural, e a gente vai continuar crescendo, mas com números mais racionais”, estima o presidente da ABGD.