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Publicada em 24 de Setembro de 2025 às 18:33

Vitória Proença costura memórias da cena musical independente em exposição no Rádio Agulha

Montagem da exposição da fotografa Vitória Proença

Montagem da exposição da fotografa Vitória Proença

EVANDRO OLIVEIRA/JC
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Amanda Flora
Amanda Flora
Entre linhas, pontos e nós, as histórias da cena musical independente do Brasil se entrelaçam como em um bordado coletivo. Essa é a sensação que a nova exposição da fotógrafa Vitória Proença sugere. Ponto Fantasia, dialoga com a agulha que atravessa o tecido, alinhavando imagens, sons e lembranças de um tempo recente, mas já mítico, da cena cultural porto-alegrense. Os shows da cena underground e midstream brasileira, realizados no Agulha, poderão ser revisitados em fotografias que resgatam a atmosfera lúdica e experimental que permeava a pequena casa de shows do 4º Distrito.
Entre linhas, pontos e nós, as histórias da cena musical independente do Brasil se entrelaçam como em um bordado coletivo. Essa é a sensação que a nova exposição da fotógrafa Vitória Proença sugere. Ponto Fantasia, dialoga com a agulha que atravessa o tecido, alinhavando imagens, sons e lembranças de um tempo recente, mas já mítico, da cena cultural porto-alegrense. Os shows da cena underground e midstream brasileira, realizados no Agulha, poderão ser revisitados em fotografias que resgatam a atmosfera lúdica e experimental que permeava a pequena casa de shows do 4º Distrito.
A escolha do espaço de instalação da mostra também carrega um apelo emocional: o acervo fotográfico dedicado ao Agulha — casa que foi um dos epicentros da música independente na cidade —, ganha agora novo fôlego no Rádio Agulha (Cristóvão Colombo, 545), local que surge das cinzas para manter viva aquela atmosfera. A partir desta quinta-feira (25), o público poderá revisitar, em 32 imagens, seis anos de registros de apresentações icônicas que marcaram o antigo palco do Agulha. Às 20h acontece a abertura com pocket show de Clarissa Ferreira, seguido de um bate-papo entre a dona dos registros e o jornalista Marcelo Ferla.
Segundo Vitória, a mostra nasce de uma ligação íntima entre sua trajetória profissional e a história da casa. “A minha carreira como fotógrafa perpassa muito pelo Agulha. Em 2019 fiz lá minha primeira exposição individual, Passagens, e percebi, ao revisitar meu acervo, que havia um registro muito vasto da cena construída ali”, conta. O período coberto pela exposição vai de 2017 a 2023, com registros que unem shows marcantes, como os de Ava Rocha, Mulamba e Mateus Aleluia, a momentos inusitados — como quando uma chuva torrencial alagou a frente do bar e músicos e público permaneceram abrigados, em conversas improvisadas com artistas.
Público poderá revisitar, em 32 imagens, seis anos de registros de apresentações icônicas que marcaram o antigo palco do Agulha | EVANDRO OLIVEIRA/JC
Público poderá revisitar, em 32 imagens, seis anos de registros de apresentações icônicas que marcaram o antigo palco do Agulha EVANDRO OLIVEIRA/JC
O título Ponto Fantasia surgiu de uma memória pessoal da fotógrafa. Inspirada pelas aulas de crochê com a avó, ela recorda o ponto de costura que mistura diferentes técnicas em uma mesma trama. “A minha vivência no Agulha foi isso: improviso, experimentação, diversidade de olhares. Fotografei shows por encomenda, de última hora, e também por puro desejo. Essa multiplicidade está presente na curadoria da exposição”, explica.
Além de suas próprias imagens, Vitória convidou outros fotógrafos que compartilharam com ela a experiência de registrar a casa: Cristiano Rangel, Elizabeth Thiel e Gabriela Cunha. A escolha reflete o seu compromisso em valorizar diferentes olhares e incentivar novas gerações de fotógrafos, especialmente mulheres, que vêm conquistando mais espaço em uma cena historicamente marcada pela predominância masculina nas áreas técnicas. “Quando comecei, tinha poucas referências femininas na fotografia de shows. Hoje, já convivo com várias colegas. Essa mudança é significativa”, avalia.
A exposição também incorpora uma dimensão imersiva: além das fotos, o público poderá ouvir depoimentos de artistas que marcaram presença no Agulha, como Ana Frango Elétrico, Ava Rocha, Salma Jô (da banda Carne Doce) e Lucas Santtana, que compartilham lembranças e histórias vividas no palco da antiga casa de shows. O projeto ainda reúne trilha sonora assinada por Germano da Silva, arte de Kiko Dinucci e expografia de Vladimir Tidra.
Revisitar esse material, segundo a fotógrafa, também foi uma forma de atravessar as perdas recentes da cidade. “Mais do que um luto pelo espaço físico, a exposição é uma celebração. Ela fala de recomeço, porque o Agulha segue vivo agora em outro formato, como Rádio e espaço cultural, mantendo a cena pulsante”, reflete Vitória.
Vitória Proença já trabalhou com nomes como Elza Soares, Luiza Lian, Boogarins e Kiko Dinucci | EVANDRO OLIVEIRA/JC
Vitória Proença já trabalhou com nomes como Elza Soares, Luiza Lian, Boogarins e Kiko Dinucci EVANDRO OLIVEIRA/JC
Com quase uma década dedicada à fotografia da música brasileira, Vitória Proença já trabalhou com nomes como Elza Soares, Luiza Lian, Boogarins e Kiko Dinucci, além de atuar em festivais e instituições como o Morrostock e a Orquestra Theatro São Pedro. Ponto Fantasia representa, segundo ela, um ponto de virada. “Sinto que é um fechamento de ciclo. Precisava olhar para esse trabalho e movimentá-lo para abrir espaço a novas etapas da minha trajetória”, afirma.
A mostra pode ser visitada até 25 de outubro, de terça a sábado, das 18h à 00h, no Rádio Agulha (Cristóvão Colombo, 545). “Minha expectativa é que as pessoas não apenas reconheçam os artistas que passaram por ali, mas se reconheçam também nessas imagens, porque elas falam de uma cena feita de encontros, afetos e pertencimento”, conclui Vitória.
 

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