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Bruna Suptitz

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Publicada em 19 de Maio de 2025 às 16:21

Em nota técnica, entidades sustentam que revisão do Plano Diretor de Porto Alegre está ‘comprometida’

Nota técnica trata da revisão do Plano Diretor de Porto Alegre

Nota técnica trata da revisão do Plano Diretor de Porto Alegre

ISABELLE RIEGER/JC
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“O processo de revisão do Plano Diretor de Porto Alegre encontra-se comprometido em sua legalidade, legitimidade e finalidade pública” – é o que alegam 12 entidades que assinam uma nota técnica com data de 9 de maio e divulgada na quarta-feira, 14 de maio. O documento aponta o que identifica como falhas na condução do planejamento urbano da cidade e elenca “medidas para corrigir as falhas e restabelecer a legitimidade e a participação efetiva da sociedade civil”. Confira abaixo a lista das signatárias.
“O processo de revisão do Plano Diretor de Porto Alegre encontra-se comprometido em sua legalidade, legitimidade e finalidade pública” – é o que alegam 12 entidades que assinam uma nota técnica com data de 9 de maio e divulgada na quarta-feira, 14 de maio. O documento aponta o que identifica como falhas na condução do planejamento urbano da cidade e elenca “medidas para corrigir as falhas e restabelecer a legitimidade e a participação efetiva da sociedade civil”. Confira abaixo a lista das signatárias.
Em nota, a prefeitura de Porto Alegre afirma que “durante todo o processo (de revisão), diversas atividades participativas foram realizadas em diferentes formatos, buscando alcançar o maior número possível de pessoas”. Ainda, informa que “todo o material produzido, como documentos oficiais, atas e resoluções, está publicado no site do Plano Diretor, garantindo transparência no acesso aos dados”.

Histórico recente da revisão

Plano Diretor é o nome que se dá à lei municipal que regula o ordenamento urbano de uma cidade. Prevista na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Cidade (Lei Federal Nº 10.257/2001), deve ser atualizada a cada dez anos. Em Porto Alegre, a atual versão da lei é de 1999 e passou por atualização votada pelo Legislativo em 2009 e sancionada em 2010.
Em andamento desde 2019, a nova revisão ainda não se tornou projeto de lei, ou seja, o trâmite segue com o Executivo desde então - estando no terceiro governo, já que iniciou na gestão de Nelson Marchezan Júnior (PSDB, 2017-2020) e passou por todo o primeiro mandato (2021-2024) do atual prefeito Sebastião Melo (MDB).

Atrasos e judicialização

Nestes seis anos, a revisão do Plano Diretor de Porto Alegre foi parcialmente paralisada pela prefeitura em dois momentos: durante a pandemia de Covid-19, em 2020, e durante a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024. Em outros dois momentos, foi paralisada devido a decisões da Justiça: no fim de 2023, quando uma liminar exigiu a realização de eleição para o Conselho do Plano Diretor, e no início de 2025, quando uma sentença declarou irregular a eleição de parte dos conselheiros.
Todos estes episódios são citados na nota técnica. No entanto, alterações no Plano Diretor seguiram acontecendo, segundo o documento, “à revelia da revisão”, o que as entidades alegam ser uma “fragmentação do planejamento”. Como exemplos, citam os chamados “Plano Diretor” do Centro (LC Nº 930/2021) e do 4º Distrito (LC Nº 960/2022); a mudança no regime urbanístico da Fazenda do Arado; alteração na lei do Solo Criado; e os estudos para uma Operação Urbana Consorciada na Avenida Ipiranga.
Com base nestes casos, as entidades refutam o argumento do Executivo, registrado em falas à imprensa, “de que a judicialização esteja paralisando a cidade” e que seja o motivo da demora em remeter o projeto de lei à Câmara Municipal. Além disso, a retomada das reuniões do Conselho do Plano Diretor em maio deste ano é considerada pelas entidades como um descumprimento de decisão já proferida pela primeira instância do Judiciário. A prefeitura está recorrendo em segunda instância e alega que, por ter o pedido de recurso acolhido, a decisão anterior estaria anulada.

Participação e crise climática

Ganham atenção no documento outros dois assuntos: a participação popular no planejamento urbano e a crise climática, sobretudo a pela tragédia enfrentada pela Capital no ano passado. “O modelo de governança adotado, com forte centralização nas decisões do poder público através da Coordenação Técnica, limitou significativamente a efetiva participação popular”, diz a nota, que segue alegando que, como é conduzido, o processo estaria “desrespeitando o princípio da gestão democrática da cidade”.
Soma-se a essa crítica a intenção anunciada pelo governo de enviar o projeto para a Câmara em agosto, sem prever uma nova análise que considere a enchente de maio de 2024. Para os signatários, isso “compromete não apenas a eficácia do novo plano, mas também a segurança da população e o cumprimento de princípios constitucionais, como o direito à moradia digna e à cidade sustentável”.

Recomendações

A nota técnica pede a suspensão da tramitação de uma instrução normativa que prevê orientar os próximos passos da revisão do Plano Diretor enquanto o Conselho do Plano Diretor não for recomposto. Demanda ainda a realização de novo processo eleitoral, em acordo com a decisão judicial, e a revisão de atos aprovados pelo colegiado no último ano. Outras recomendações podem ser conferidas na nota, que está disponível na íntegra neste link.
O documento é assinada pelos advogados Jacques Távora Alfonsin, Claudete Aires Simas e João Telmo de Oliveira Filho, e é subscrita pelas seguintes entidades: Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RS (CAU/RS); Acesso Cidadania e Direitos Humanos; Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU); Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento RS (IAB/RS); Sociedade de Economia do RS (Socecon/RS); Amidas da Terra Brasil; Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores Sem Teto (MTST); Ser Ação Ativismo Ambiental; Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá); Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan); Associação dos Técnicos de Nível Superior do Município de Porto Alegre (Astec); Comissão de Pós-Graduação do Propur/Ufrgs - Representante no Conselho do Plano Diretor Eber Marzulo.

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