Tratado pela atual gestão federal como uma das pautas prioritárias na área ambiental, durou um mês o estudo técnico que possibilitou ao governo recriar e atualizar o programa dedicado a dar atenção para a categoria que trabalha diretamente com a coleta, triagem e muitas vezes a destinação de resíduos sólidos após o descarte (o que costumamos de chamar de lixo) – o Programa Diogo de Sant'Ana Pró-Catadoras e Pró-Catadores para a Reciclagem Popular.
Assinado na segunda-feira, 13, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Decreto Nº 11.414/2023, também cria o Comitê Interministerial para Inclusão Socioeconômica de Catadoras e Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis. À frente da iniciativa, Márcio Macêdo, ministro da Secretaria-Geral Presidência da República, informou na cerimônia que três instituições financeiras – BNDES, Caixa econômica Federal e Banco do Brasil – "se colocam à disposição para criar medidas indutoras e linhas de financiamento para a execução de dos projetos".
Com a medida, o governo insere no documento legal conceitos reivindicados pela categoria, como a coleta seletiva solidária e a reciclagem popular. Também consta no decreto a definição de pagamento por serviços ambientais no âmbito da reciclagem. Esta é a forma de remunerar os profissionais e suas formas de organização (como cooperativas) pela redução dos impactos ambientais e climáticos obtidos por meio do trabalho de coleta e triagem. O padrão, hoje, é que o rendimento de catadores dependa unicamente da venda dos resíduos, o que não atribui valor a todo o trabalho que antecede esta etapa do processo.
"Graças ao trabalho de catadoras e catadores é possível que grande parte dos resíduos retorne ao ciclo produtivo como matéria prima, diminuindo a emissão de gases de efeito estufa e evitando que os resíduos sejam depositados em lixões, contaminando o solo, a água, causando doença para a vida das pessoas", declarou Marina Silva, ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima, na cerimônia. "A poluição desses descartes mostra que, ao mesmo tempo, fazer o apoio a esse segmento da sociedade é um benefício social, ambiental e um compromisso ético e político de cuidar do meio ambiente ao mesmo tempo que se cuida das pessoas", completou.
Presente no ato de assinatura do decreto em Brasília, o catador e cientista social Alexandro Cardoso, de Porto Alegre, declarou à Agência Brasil, que o documento significa "reconhecimento e valorização de gente que existe e que resistiu por muito tempo estando do lado de fora da política e do olhar de quem deveria nos olhar". Nas palavras de Roberto Laureano da Rocha, presidente da Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), fazer parte de políticas públicas como as divulgadas no início da semana representa "sair da miséria e entrar de fato para a cadeia da reciclagem, na qual somos tão importantes, mas muitas vezes na invisibilidade poucos reconhecem esse trabalho".
Leia também: Decreto federal institui novos certificados para reciclagem
Falando em DIOGO SANT’ANA
Diogo Sant'Ana (1979-2020), ex-secretário executivo do governo Dilma Rousseff, advogado homenageado no Programa Diogo Sant’ana Pró-Catadoras e Catadores para a Reciclagem Popular
Reprodução Redes Sociais/Divulgação JC
O programa recriado homenageia, a pedido dos catadores e catadoras, o advogado Diogo Sant’Ana, responsável pelo programa no âmbito da Secretaria-Geral da Presidência em 2010 (encerrado pela gestão anterior). Sant’Ana morreu tragicamente em 31 de dezembro de 2020, aos 41 anos de idade, ao encostar em uma cerca eletrificada em Florianópolis. Além da Secretaria-Geral, Diogo Sant’Ana também trabalhou no gabinete da Presidência da República e na Casa Civil durante os governos de Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).


Facebook
Google
Twitter