Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 26 de Maio de 2025 às 16:04

Em busca da circularidade perfeita

Thaize Schmitz, diretora de Inovação, Novos Negócios, Marketing e Sustentabilidade do Grupo Flexível

Thaize Schmitz, diretora de Inovação, Novos Negócios, Marketing e Sustentabilidade do Grupo Flexível

Grupo Flexível/Divulgação/JC
Compartilhe:
JC
JC
Thaize Schmitz
Thaize Schmitz
Diretora de Inovação, Novos Negócios, Marketing e Sustentabilidade do Grupo Flexível
A indústria química é provedora de soluções e está na base de todos os setores industriais, como agricultura, bens de consumo, construção civil, higiene, medicamentos, entre outros, desenvolvendo produtos que contribuem para a saúde e qualidade de vida das pessoas.
Por meio da iniciativa voluntária Responsible Care®, criada no Canadá, em 1984 e atualmente adotada em mais de 70 países, inclusive no Brasil, desde 1992, o setor investe na melhoria contínua do gerenciamento das plantas industriais para aumentar a segurança na produção, dos produtos químicos em todo o seu ciclo de vida e melhorar seu desempenho em saúde, segurança e meio ambiente.
As empresas do setor trabalham para aumentar a eficiência de seus processos produtivos, promovem o reuso de água das chuvas nas plantas industriais, usam subprodutos para a geração de energia e produção de novos produtos, reduzindo a geração de resíduos.
A revalorização dos resíduos por meio do seu retorno ao processo produtivo na forma de matéria-prima faz parte do DNA do setor. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), em 2006, a indústria química nacional reaproveitava cerca de 7% dos resíduos perigosos e 15% dos resíduos não-perigosos, já em 2020, esse índice atingiu respectivamente 74% e 44%.
Os investimentos do setor em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) possibilitam à indústria química criar produtos sustentáveis, feitos com resíduos e materiais provenientes de fontes renováveis, como ésteres graxos ou ácidos graxos de origem vegetal, oriundos de sementes e resíduos do agronegócio, sem prejudicar a produção de alimentos.
Como a indústria química está na base de praticamente todos os segmentos econômicos suas soluções são fundamentais para que as demais indústrias possam atingir suas metas de descarbonização, incluindo o Escopo 3 do GHG Protocol, que considera as emissões indiretas de gases de efeito estufa (GEE) provenientes na origem ou no final da cadeia de valor.
O engajamento do setor é essencial para a transição de uma economia linear para uma circular em que as empresas possam reciclar, reutilizar e eliminar o descarte de resíduos, processo cada vez mais necessário conforme a quantidade de resíduos gerados no país aumenta. Segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), em 2023 foram gerados mais de 80,9 milhões de toneladas de resíduos sólidos no país, cerca de 5% a mais do que no ano anterior, quando foram geradas 77 milhões de toneladas de resíduos.
Novos produtos para um consumidor mais exigente
A circularidade promovida pelos avanços da indústria química estimula novas oportunidades de negócios por meio do desenvolvimento de produtos sustentáveis, que atendem às novas demandas do consumidor, que busca e está disposto a pagar mais por um produto sustentável. Segundo a pesquisa PwC's 2024 Voice of the Consumer Survey, feita com mais de 20 mil pessoas em 31 países, incluindo o Brasil, mesmo em um cenário de inflação alta, os consumidores estão dispostos a pagar até 9,7% a mais em bens produzidos ou adquiridos de forma sustentável.
Os avanços da indústria química têm possibilitado às empresas criar produtos sustentáveis feitos com resíduos e materiais de base renovável. Atualmente, produtos como o PET podem ter mais de um ciclo de vida, comumente utilizado como embalagem pela indústria de alimentos e bebidas o PET já é reciclado e usado pela indústria calçadista e de vestuário em produtos premium.
Outros produtos da indústria química, menos conhecidos pelo seu nome, mas presentes no dia a dia das pessoas também podem ser reciclados e ter uma "segunda vida", é o caso do poliuretano (PU). A espuma de PU, que está presente em colchões, travesseiros, estofamento de carros, entressola e palmilha de calçados, no isolamento térmico dos refrigeradores, entre outras aplicações, pode ser reciclada e usada para a fabricação de um produto novo.
Os resíduos de PU da cadeia do frio já podem ser combinados a poliol feito a partir de fontes renováveis para a produção de um produto sustentável, que mantém as características de isolamento térmico e acústico de um PU novo e produzido com matéria-prima de origem petroquímica. O produto sustentável já pode ser usado na cadeia da construção civil em portas e painéis termoacústicos.
Compromisso do governo, inciativa privada e população
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010, que tem como princípios fundamentais reduzir a geração de resíduos, implementar sistemas de logística reversa, incentivar a indústria de reciclagem e fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados. E o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), de 2022, que apresenta ações para concretizar a PNRS, são medidas públicas importantes para o desenvolvimento da economia circular.
Mas a mudança da economia linear para a circular só será alcançada com o comprometimento de todos os setores econômicos e dos cidadãos. A efetividade das soluções desenvolvidas pela indústria química depende de toda a cadeia de valor. Para que o setor possa reutilizar resíduos de outras indústrias, essas empresas precisam separar e encaminhar seus resíduos. Quando a separação e o envio dos resíduos formam um processo mais barato do que fazer o descarte adequado é fácil optar pela opção sustentável, mas quando o custo for mais elevado essa escolha pode ser mais difícil.
As parcerias entre as indústrias de manufatura e química são fundamentais para criar soluções de logística reversa, como usar o frete que envia produtos novos à manufatura para trazer os resíduos à indústria química ou reduzir os custos logísticos diminuindo volume dos resíduos. Neste caso, as indústrias químicas podem ceder equipamentos, como prensas, para que seus clientes possam diminuir o volume físico dos resíduos antes de encaminhá-los para o reprocessamento.
O consumidor também tem um papel fundamental para o desenvolvimento da economia circular. Produtos como roupas e calçados foram alguns dos primeiros a utilizar matérias-primas renováveis e recicladas. É importante que o consumidor continue sua busca por produtos sustentáveis também em outros setores como o moveleiro e o automotivo que podem, por exemplo, usar espumas feitas a partir de matérias-primas renováveis; e no setor de imóveis, onde o cliente pode escolher uma residência com portas, painéis e divisórias que usem materiais de base renovável e reutilizados.
O consumo consciente é fundamental para promover o ganho de escala e a manutenção da produção e dos investimentos em PD&I, que possibilitam alcançar uma economia circular perfeita, onde um recurso não renovável permaneça no ciclo econômico de forma contínua, reduzindo a demanda de recursos não renováveis e eliminando resíduos nos processos de produção.
 

Perspectivas para o mercado de infraestrutura e construção

O setor de infraestrutura encerrou o ano de 2024 com resultados positivos e boas perspectivas para 2025. De acordo com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), os investimentos em infraestrutura alcançaram R$ 259,3 bilhões no ano passado, sendo R$ 197,1 bilhões provenientes da iniciativa privada e R$ 62,2 bilhões do setor público.
Além disso, dados da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) apontam para um crescimento contínuo no setor de construção civil para os próximos anos, com investimentos na ordem de R$ 696 bilhões até 2026.
Para 2025, espera-se que o setor de infraestrutura continue a ser um dos motores primordiais da economia brasileira, crescendo a taxas consistentes e criando um ambiente apto para a geração de empregos e o fortalecimento da cadeia produtiva.
A previsão é que obras de infraestrutura continuem a fomentar o crescimento do setor de construção civil, consolidando o Brasil entre os maiores mercados globais de investimentos. Entre os destaques estão projetos como o Novo PAC de 2025 para infraestrutura de transportes, que prevê investimentos de R$ 280 bilhões em 302 empreendimentos.
No entanto, as empresas da área precisam estar atentas às novas demandas do mercado, sendo imprescindível se manterem atualizadas nos âmbitos da inovação tecnológica e da sustentabilidade.
A integração de tecnologias como sistemas de automação, plataformas de gestão de obras em tempo real e até IA, podem transformar o setor, auxiliando na identificação de ineficiências e fluxos mal estruturados, otimizando prazos e reduzindo custos, além de melhorar a qualidade e o controle de processos. Um exemplo é a adoção da Modelagem da Informação da Construção (BIM, na sigla em inglês) que contribui para a digitalização do canteiro de obras.
O reflexo das consequências das mudanças climáticas também pode exigir possíveis ajustes de planejamento e de execução das obras, em busca de materiais e formas de trabalho mais sustentáveis.
Entretanto, apesar das expectativas positivas, o setor de infraestrutura também possui desafios a superar, como a inflação e a instabilidade econômica. O aumento nos custos dos insumos, por exemplo, principalmente em um panorama de desvalorização da nossa moeda, pode representar um obstáculo para as empresas do setor. Por isso, é imprescindível criar um ambiente de negócios favorável, a fim de manter um nível elevado de desenvolvimento em infraestrutura. As organizações que investirem em inovação, sustentabilidade e eficiência estarão melhor posicionadas para aproveitar o crescimento do mercado e contribuir para o desenvolvimento do País.

Notícias relacionadas