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Reportagem

- Publicada em 18 de Setembro de 2023 às 17:39

Dia do Contador celebra avanços da atividade

Na próxima sexta-feira é comemorado nacionalmente o Dia do Contador

Na próxima sexta-feira é comemorado nacionalmente o Dia do Contador


FREEPIK/DIVULGAÇÃO/JC
Pedro Carrizo, especial para o JC
Pedro Carrizo, especial para o JC
Profissional indispensável em todos os campos da gestão empresarial, pública e social, sendo responsável por dar uma visão 360 graus da situação econômico-financeira de pessoas e entidades, o papel do contador ganha um reconhecimento especial neste mês. Na próxima sexta-feira, dia 22 de setembro, é celebrado nacionalmente o Dia do Contador, data que remete aos primeiros passos da regularização da atividade contábil no País.
Voltando aos primórdios da celebração, em 22 de setembro de 1945, há 78 anos, o então presidente Getulio Vargas assinou a medida que dava início aos cursos de Ciências Contábeis e Econômicas no Ensino Superior brasileiro, por meio do Decreto-Lei n.° 7.988. A partir então, a atividade passou por mais um salto de profissionalização, processo que teve seu pontapé em meados dos anos 1920.
A data, no entanto, passou a ganhar novos significados ao longo do tempo: deixou de ser apenas um marco histórico para se transformar em um momento de reflexão sobre os compromissos da atividade, sua importância social e mercadológica e sobre os desafios atuais dos profissionais contábeis. Impasses éticos na era da robotização e da inteligência artificial e o papel do contador na prestação de práticas ESG são alguns dos temas do momento que pautam a atividade.
No entanto, esses desafios ganham um tempero a mais no Brasil, onde o sistema tributário altamente complexo e dispendioso demanda profissionais ainda mais bem preparados e em constante atualização. Basta lembrar que, desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, foram editadas, em média, 37 normas tributárias por dia, segundo o Tribunal de Contas da União.
Outro relatório do Banco Mundial indica que as empresas brasileiras pagam, em média, 65,3% de seus lucros em tributos a cada ano e despendem entre 1.483 e 1.501 horas para preparar, declarar e pagar impostos. Levando em conta essas informações, Aécio Prado Dantas Júnior, presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), ressalta que o cipoal brasileiro de tributos demanda dos contadores forjados em solo nacional um nível ainda maior de excelência.
"O sistema tributário brasileiro apresenta grande complexidade, trazendo impactos negativos para a atividade contábil, para as empresas e para o País. Para a classe contábil, a burocracia brasileira gera uma demanda de trabalho enorme, que necessita de profissionais altamente especializados e muitas horas de dedicação com tarefas técnicas", salienta Dantas.
Desde abril deste ano, o CFC vem desenvolvendo campanhas de valorização da classe contábil, ressaltando o papel do contador em suas múltiplas esferas de atuação.
O ramo contábil também tem outras datas que colocam a atividade nos holofotes. No primeiro semestre, o dia 25 de abril celebra o Dia Nacional da Contabilidade, instituído em 1926 pelo então senador João Lyra Tavares, também conhecido como patrono brasileiro dos contadores.
Em 10 de novembro, é comemorado o Dia Internacional da Contabilidade, aniversário de lançamento do livro "Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalità (Conhecimentos de Aritmética, Geometria, Proporção e Proporcionalidade), escrito por Luca Pacioli e publicado em 1494, o que deu origem ao contador moderno.
Por fim, em 20 de novembro, é celebrado o Dia do Contabilista no Brasil - o que não é um sinônimo para 'contador'. Esta data também é chamada de Dia do Técnico de Contabilidade, pois enquanto o contador é um profissional graduado no curso do Ensino Superior, o contabilista é quem se gradua em curso técnico ou profissionalizante na área.
 

Atualização constante e adesão ao tech: os desafios na Contabilidade

É fundamental se atualizar, diz Schuch

É fundamental se atualizar, diz Schuch


CRCRS/DIVULGAÇÃO/JC
Essencialmente, o sucesso da atividade contábil passa pela capacidade desses profissionais em ter uma visão integrada sobre o patrimônio e desempenho de todo o negócio, sendo assim o principal auxiliar na tomada de decisões financeiras. Com o advento das novas tecnologias de automação que permeiam a contabilidade, o papel gerencial e estratégico ganha ainda mais ênfase e, frente a isso, o principal desafio está na entrega, salienta Márcio Schuch, presidente do Conselho Regional de Contabilidade (CRCRS).
"Além de organizar e sistematizar as informações, a forma como elas são entregues aos gestores mudou, pois se tornou muito mais imediata e direta. O cliente não quer receber o relatório de fechamento apenas em dia do mês, mas sim ter o acompanhamento em tempo real, tendo a contabilidade como braço direito", diz Schuch.
Segundo o contador, as novas evoluções da tecnologias e o boom de softwares gerenciais, tal como os sistemas matrizes do governo na área fiscal - Sped e eSocial - também demandam, entre as habilidades essenciais dos profissionais contábeis, o conhecimento e a constante adaptação às ferramentas digitais.
"Estar atualizado, tanto em novas tecnologias quanto na legislação, é uma constante em nossa profissão. Dentre as habilidades necessárias para exercê-la em tempos modernos, é fundamental também uma boa comunicação para embasar gestores na tomada de decisão", acrescenta o presidente do CRCRS.
Isso porque, explica
Shuch, com a adesão do Brasil às normas internacionais de contabilidade, em 2007, o profissional passou a exercer mais julgamento sobre os demonstrativos financeiros, adotando um cunho mais interpretativo frente aos fatos econômicos, o que demandou dos profissionais contábeis uma linguagem mais próxima da que seus clientes falam.
Outro desafio em voga é referente às boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), que são demandas cada vez mais latentes da sociedade frente a empresas e governos. Desta forma, a apuração dos relatórios de sustentabilidade dessas entidades recai sobre o colo da contabilidade, que precisa checar essas informações em sintonia com as financeiras.
Em junho deste ano, o International Sustainability Standards Board (ISSB) publicou as duas primeiras normas internacionais que regram a demonstração de práticas ESG e que já estão em processo de incorporação no Brasil, por meio do Conselho de Pronunciamentos Contábeis de Sustentabilidade (CPCS).
"Somado a tudo isso, estar no Brasil também é um desafio à parte para os contadores. É senso comum em nossa sociedade que o sistema tributário brasileiro é caótico e quem está na linha de frente dele é o profissional da contabilidade", diz Schuch.
A expectativa por simplificação do arcabouço está na reforma tributária, em tramitação no Congresso, e sob atenção do Conselho de Contabilidade, em razão não só de sua importância, mas pelas dúvidas que pairam sobre o real poder desburocratizar do novo arcabouço. Inclusive, o CFC formou um Grupo de Trabalho para acompanhar a reforma.
Em recente estudo publicado acerca da reforma tributária, o CFC alerta sobre possível aumento da informalidade ou a redução significativa da geração de empregos, a partir do texto em tramitação. Além disso, ressalta que deverá haver aumento de carga tributária para as prestadoras de serviços contábeis.
Na análise estão expostos os principais pontos ainda indeterminados e de grande impacto para a classe contábil como a indefinição quanto às alíquotas de IBS e CBS; a dependência de normas infraconstitucionais; a ausência de estudos de impacto econômico e social; a ausência de sistemática de controle para evitar aumento de impostos.
“É um objetivo de todos nós a simplificação tributária, a segurança jurídica, mas é enorme o desafio que temos pela frente para que isso ocorra”, conclui Schuch, que é um dos integrantes do Grupo de Trabalho.

Universidades buscam ser laboratórios da prática laboral

Wendy diz que teoria precisa andar lado a lado com a prática e acompanhar a velocidade dos fatos

Wendy diz que teoria precisa andar lado a lado com a prática e acompanhar a velocidade dos fatos


CALANTA GARCIA/DIVULGAÇÃO/JC
Outra pauta importante neste Dia do Contador é sobre como o ambiente acadêmico tem conseguido simular as mudanças que a atividade vive na mesma velocidade em que elas chegam ao mercado. Para que isso ocorra, a teoria deve andar lado a lado com a prática, fazendo da sala de aula um laboratório da rotina dos contadores, em suas diferentes área de atuação, diz Wendy Haddad Carraro, professora há mais de 20 anos do curso de Ciências Contábeis da Ufrgs.
Wendy, que já foi coordenadora do curso e atualmente ministra as disciplinas de Contabilidade Gerencial, Controladoria e Planejamento Contábil, explica que a curricularização da extensão tem sido uma importante ferramenta de inserção dos alunos à prática, que ajuda a trabalhar habilidades como pensamento crítico e liderança. "Essa prática faz os graduandos saírem dos muros do ambiente acadêmico e serem os executores da extensão. Isso significa que ele precisa realizar alguma entrega para a sociedade, que se dá com base em um problema real", diz a professora.
A curricularização da extensão passou a valer a partir da Resolução 29, do Ministério da Educação, em 15 de dezembro de 2021 e tornou-se obrigatória a partir do mesmo mês do ano seguinte. De acordo com o MEC, as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% (dez por cento) do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação.
Wendy conta que, há pelo menos 15 anos, ela trabalha a curricularização da extensão com seus alunos. A cada novo semestre da cadeira de Planejamento Contábil, os graduandos trazem negócios que ainda não estão bem estruturados para a sala de aula, como uma empresa da família ou um comércio de bairro, para realizar planejamento estratégico desses estabelecimentos ao longo da disciplina.
"Ou seja, ao passo que ele vai aprendendo a realizar o planejamento, o aluno coloca em prática esse aprendizado, em contato constante com os donos desses negócios".
Por exemplo, há cerca de duas semanas a turma de Planejamento Contábil entregou o Planejamento Estratégico elaborado às lideranças de Unidades de Triagem de Resíduos de Porto Alegre, e que envolveu Unidades de Triagem de Porto Alegre, equipe do DMLU e a Promotoria de Justiça.
Sandra Belloli, coordenadora do graduação de Ciências Contábeis da Escola de Negócios da Pucrs, também salienta que uma das missões do curso é fazer com que as práticas de mercado em sala de aula sejam cada vez mais imersivas, com o objetivo de sanar os problemas reais das empresas. Para isso, a professora afirma que a Escola de Negócios mantém uma relação aberta com o parque científico da universidade, o Tecnopuc, o que abre oportunidades de estágio para os estudantes em empresas sedimentadas e da era digital.
Além disso, é um laboratório de empreendedorismo para os alunos. "O nosso graduando vai experimentar, ao longo do curso, várias oportunidades que a contabilidade pode trazer em termos de modelos de trabalho, e empreender também é uma delas", relata.