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Publicada em 24 de Outubro de 2025 às 17:55

Lixo eletrônico se transforma em oportunidade ambiental e de negócios

Em ação mais recente no Jardim Botânico, em Porto Alegre, Coopertec recebeu 80 quilos de resíduos

Em ação mais recente no Jardim Botânico, em Porto Alegre, Coopertec recebeu 80 quilos de resíduos

Divulgação/JC
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Gabrieli Silva
Gabrieli Silva Repórter
O volume crescente de resíduos eletrônicos é um dos maiores desafios ambientais da atualidade. O Brasil, segundo a ONU, gera 2,4 milhões de toneladas por ano, mas apenas 3% têm destinação correta. No contexto gaúcho, iniciativas como a da Coopertec, em Canoas, e da Circular Brain, startup parceira ao nível nacional, mostram caminhos práticos e acessíveis para enfrentar o problema, unindo logística reversa, educação ambiental e tecnologia.
O volume crescente de resíduos eletrônicos é um dos maiores desafios ambientais da atualidade. O Brasil, segundo a ONU, gera 2,4 milhões de toneladas por ano, mas apenas 3% têm destinação correta. No contexto gaúcho, iniciativas como a da Coopertec, em Canoas, e da Circular Brain, startup parceira ao nível nacional, mostram caminhos práticos e acessíveis para enfrentar o problema, unindo logística reversa, educação ambiental e tecnologia.
Na ação mais recente, realizada no Jardim Botânico, em Porto Alegre, a Coopertec contabilizou 473 visitantes em seu estande e cerca de 80 quilos de resíduos recebidos. O número pode parecer pequeno, mas o impacto vai além: “O mais importante foi a divulgação. Muitas pessoas se comprometeram a descartar corretamente em outras oportunidades”, afirma Rogério Demétrio Vieira, responsável pela logística e operação da cooperativa. Durante o evento, a parceria com a Circular Brain levou QR codes para facilitar o acesso a informações e canais de coleta.
A dimensão do problema preocupa. “O resíduo eletrônico deve triplicar até 2030, impulsionado pelo consumo de tecnologia. Muitas vezes, consertar um celular sai mais caro do que comprar um novo, o que amplia o descarte”, explica Lívia Santarelli, Gerente de Campanhas e Novos Negócios da Circular Brain. A startup oferece soluções de rastreabilidade, coleta domiciliar gratuita e mais de 17 mil pontos de entrega espalhados pelo Brasil, em parceria com os Correios e pequenos comércios.
O trabalho da Coopertec, sediada em Canoas, envolve a coleta gratuita, a desmontagem e a classificação dos materiais, encaminhando cada componente para o destinador adequado. “Não transformamos matéria-prima, mas garantimos que tudo siga para a destinação correta”, resume Rogério. Já a Circular Brain conecta recicladores homologados a esse fluxo, registrando cada etapa na Plataforma Circular, sistema que assegura segurança ambiental e proteção de dados.
A lógica segue os princípios da economia circular, que busca transformar resíduos em insumos. “Alumínio, plásticos e outros componentes podem ser reutilizados. Temos parceiros que transformam plásticos de eletrônicos em chapas para a construção civil e mobiliário”, conta Lívia. O impacto é concreto: a Circular processou 20 mil toneladas em 2023 e 54 mil em 2024, mais que dobrando sua capacidade de reaproveitamento.
Além da destinação correta, a conscientização é central para mudar hábitos. A Coopertec aposta em ações presenciais, com palestras em escolas, empresas e eventos. Já a Circular Brain investe em campanhas digitais e capacitações gratuitas. “O engajamento da comunidade tem crescido, e muitas pessoas tornam-se divulgadoras espontâneas das práticas corretas”, observa Rogério.
Os riscos de descartar eletrônicos no lixo comum vão da contaminação do solo e da água a acidentes físicos e falhas na segurança de dados. Por isso, além de inutilizar equipamentos coletados, as organizações orientam a população a apagar informações pessoais antes do descarte.
Apesar dos avanços, ainda faltam políticas públicas efetivas. “Existem leis, mas não são aplicadas com rigor. Muitos fabricantes não cumprem a logística reversa”, alerta Lívia.
A reciclagem de lixo eletrônico, apesar de essencial, ainda é um processo complexo e pouco difundido no Brasil. Dados da Global E-Waste Monitor 2024, relatório da ONU, apontam que o país é o quinto maior gerador de resíduos eletrônicos do mundo. Entre computadores, celulares, impressoras e eletrodomésticos, grande parte desses equipamentos acaba em aterros sanitários ou abandonada em depósitos domésticos, o que amplia os riscos de contaminação e desperdício de matérias-primas valiosas.
O desafio não se resume à coleta. A cadeia de reaproveitamento ainda enfrenta gargalos logísticos e tecnológicos. Muitos municípios sequer possuem pontos de entrega voluntária, e a maioria das empresas de reciclagem está concentrada em grandes centros. “É preciso descentralizar a rede e criar políticas públicas que fortaleçam a logística reversa”, avalia Lívia, da Circular Brain. Hoje, os custos de transporte e triagem muitas vezes inviabilizam a expansão para cidades menores.
Apesar disso, quando o ciclo é bem estruturado, os ganhos são expressivos. Componentes como ouro, cobre e alumínio, presentes em celulares e computadores, têm alto valor de mercado. Segundo a ONU, a recuperação de metais preciosos a partir do lixo eletrônico global poderia gerar mais de US$ 60 bilhões por ano, valor superior ao PIB de muitos países. Esse potencial revela que a reciclagem vai além da responsabilidade ambiental: trata-se também de um negócio em crescimento.
No Brasil, a adesão ao conceito de economia circular começa a atrair não apenas cooperativas e startups, mas também indústrias e varejistas de tecnologia. Programas de logística reversa vinculados a marcas de eletrônicos têm ampliado pontos de coleta e parcerias com recicladores homologados. “Cada vez mais, empresas entendem que assumir essa responsabilidade fortalece sua imagem e agrega valor para clientes e investidores”, reforça Lívia.
Outro ponto estratégico é a inclusão social. Iniciativas como a da Coopertec demonstram que a gestão correta dos resíduos também gera oportunidades de trabalho e renda para comunidades locais, com funções de triagem, desmontagem e logística. Ao unir impacto ambiental e social, o setor reforça sua relevância em um cenário de crescente pressão por práticas sustentáveis.

Do lixo ao crédito: como empresas podem se beneficiar do descarte eletrônico

Passivo ambiental se transforma em benefício financeiro

Passivo ambiental se transforma em benefício financeiro

Divulgação/JC
Descarte eletrônico não é apenas uma questão ambiental: pode se transformar em vantagem competitiva para empresas. Iniciativas como a da Circular Brain oferecem programas em que organizações podem encaminhar equipamentos obsoletos e receber créditos em troca, revertidos em novos serviços e soluções sustentáveis.
"É uma forma de transformar o passivo ambiental em benefício econômico, estimulando a adesão ao descarte correto", explica Lívia, representante da startup. A prática contribui para o cumprimento de metas de ESG, cada vez mais cobradas por investidores e consumidores.
Além da questão reputacional, há ganhos práticos. A Circular Brain garante a rastreabilidade de cada item por meio da Plataforma Circular, assegurando que computadores, celulares e outros dispositivos passem por desmontagem correta, com segurança de dados. O sistema gera relatórios detalhados, úteis para auditorias e balanços de sustentabilidade.
Empresas que adotam esse modelo reduzem riscos de multas ou passivos ambientais, como também podem comunicar de forma transparente seu compromisso com a economia circular. "O resíduo eletrônico não é lixo, é recurso. Ao reaproveitar componentes, reduzimos a pressão sobre a extração de novas matérias-primas", reforça Lívia.
Para pequenas e médias empresas, a recomendação é mapear periodicamente os estoques de equipamentos parados e buscar parcerias de logística reversa. Já grandes companhias, que costumam ter volumes expressivos de descarte, podem se beneficiar da coleta programada e da conversão em créditos.

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