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Publicada em 20 de Junho de 2025 às 18:19

O impacto dos fundos soberanos no crescimento das empresas

Eduardo Bassin, economista, mestre em Economia, diretor do Instituto de Estudos de Fundos Soberanos (IEFS)

Eduardo Bassin, economista, mestre em Economia, diretor do Instituto de Estudos de Fundos Soberanos (IEFS)

IEFS/Divulgação/JC
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Eduardo Bassin
Economista, mestre em Economia, diretor do Instituto de Estudos de Fundos Soberanos (IEFS)
Economista, mestre em Economia, diretor do Instituto de Estudos de Fundos Soberanos (IEFS)
 
Os Fundos Soberanos são veículos de investimento estatal criados e geridos por governos com o objetivo de administrar e multiplicar reservas financeiras, visando gerar benefícios econômicos futuros. Eles podem ser nacionais ou sub-regionais (pertencentes a um estado ou município). Grande parte do capital gerido por esses fundos tem origem em receitas provenientes de royalties e participações especiais (petróleo, gás natural e mineração), excedentes da balança de pagamentos e produto de privatizações. As finalidades desses instrumentos de investimento estão relacionadas, invariavelmente, à promoção de desenvolvimento econômico e social, que podem ser parcialmente alcançadas por meio do crescimento e fortalecimento das empresas locais.
Alguns Fundos Soberanos podem desempenhar importante papel na estabilização da atividade econômica em momentos de crise. Durante a Pandemia de Covid-19, o Fundo Soberano de Niterói (RJ) direcionou 198 milhões de Reais para o desenvolvimento de políticas públicas com vistas à manutenção da atividade econômica no município. Na crise de 2008/09, o Temasek (Fundo de Singapura) apoiou empresas domésticas para evitar o colapso econômico.
Fundos Soberanos também podem ser utilizados para atenuar a dependência da economia local em relação a setores específicos, como é o exemplo do Rio de Janeiro, que criou seu fundo soberano para, dentre outras finalidades, diversificar a base produtiva dele e construir um futuro para além do petróleo, promovendo a atração de empresas de outros setores.
Há Fundos Soberanos que investem na aquisição de participação em empresas listadas em bolsa (Fundos da Noruega, China, Emirados Árabes, Singapura, Arábia Saudita, entre outros) ou através de private equity, como faz o Fundo Soberano do Espírito Santo. Há Fundos Soberanos que investem em empresas não listadas em bolsa como o Mubadala (fundo de Abu Dhabi). Empresas que contam com investimentos diretos de Fundos Soberanos geralmente utilizam os recursos em projetos de expansão e inovação, tendo em vista que o pagamento das parcelas do aporte é feito com um horizonte de prazo mais longo, quando comparados com financiamentos obtidos em bancos comerciais.
A atuação de um Fundo Soberano na economia local pode ter caráter permanente, como é o caso de Maricá, cujo fundo utiliza parte dos rendimentos para injetar recursos na economia local através do pagamento de uma moeda social (Mumbuca) para mais de 91 mil moradores inscritos no Cadastro Único da União, que recebem o equivalente a 200 reais mensais que devem ser usados exclusivamente no comércio local, o que ajuda na promoção do crescimento das empresas lá instaladas.
Para que o impacto nas empresas seja multiplicado é imprescindível que eles contem com elevados padrões de governança e transparência. Analisando os Fundos Soberanos sub-regionais de várias partes do mundo (Espírito Santo, Maricá, Niterói, Dubai, Alasca e Texas) é possível concluir que locais que têm Fundos Soberanos de "classe mundial", de acordo com o "Ranking Global de Fundos Soberanos 2025" (elaborado pelo IEFS), exercem um aumento no poder de influência e atração (softpower). Nesse caso, o estado ou município precisa desenvolver estratégias adequadas para concretizar a instalação de novas empresas.
Os impactos no crescimento das empresas podem ser diretos, através da aquisição de participação, ou indiretos, por meio de injeção de recursos na economia, ou ainda pelo reforço da imagem do ente detentor do fundo. Esse pode ser observado tanto no médio quanto no longo prazo, e para que seja incrementado, é fundamental que além de ter elevados critérios de governança e transparência, a interferência política seja mínima. Os critérios e as decisões técnicas devem prevalecer para que ele se mostre viável e continue auxiliando no desenvolvimento econômico local.
 

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