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Publicada em 13 de Junho de 2025 às 18:17

Presencial obrigatório: quando a empresa fala mais alto do que escuta

Diego Rondon
CEO e cofundador da e-volve.one

Diego Rondon CEO e cofundador da e-volve.one

e-volve.one/Divulgação/JC
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Diego Rondon
CEO e cofundador da e-volve.one
"Voltar pro presencial? Prefiro pedir demissão." O que parecia uma frase de efeito anos atrás, agora virou realidade em muitas empresas. Não é revolta. É diagnóstico.
A volta do modelo 100% presencial imposta pelas empresas sem ouvir o que os colaboradores estão dizendo sobre o tema é manter o antigo sistema de comando e controle, um modelo que sufoca a inovação e enfraquece o vínculo de confiança entre liderança e equipe. Se a escuta ativa falha justamente no debate sobre o formato de trabalho — que impacta diretamente motivação, saúde mental e produtividade — o que se pode esperar dela no restante das decisões do negócio?
A pandemia destravou um novo paradigma: o local de trabalho deixou de ser geográfico e passou a ser funcional. Pessoas entregam de onde fazem sentido. E para muitos, sentido não está no prédio da empresa. Está no propósito. Está no foco. Está na liberdade para ser produtivo de verdade.
Com a obrigatoriedade do retorno ao escritório, profissionais altamente qualificados cada vez mais estão optando por deixar seus cargos quando confrontados. E isso não tem nada a ver com comodismo. Tem a ver com produtividade, saúde mental e qualidade de vida. A equação mudou — e muitas empresas ainda não perceberam.
Mas como o mercado responde? Em vez de questionar, repete. A decisão da Amazon de encerrar o home office em 2025 desencadeou uma reação em cadeia nas principais empresas "BigTechs" globais. De repente, a volta ao presencial virou moda corporativa. Como se a realidade de Seattle servisse de régua para todo o planeta. "Onde o Bezos vai, o empresariado vai atrás (meio que sem pensar)" — mas será que estamos mesmo prontos para seguir sem refletir?
Essa discussão é urgente. Não por modismo, mas por estratégia. Retomar o presencial pode até fazer sentido para alguns — times criativos, fases críticas de projeto, integração cultural. Mas impor um modelo único, sem escuta ou critério, é ignorar a pluralidade do trabalho moderno. É ignorar a diversidade de contextos, perfis e formas de performar.
O risco não está só no turnover. Está na mensagem. Obrigar a presença sem propósito é dizer: não confiamos. E onde não há confiança, não há entrega verdadeira. Os melhores talentos — especialmente os da nova geração — não querem um crachá, querem autonomia. Não querem controle, querem impacto.
E se essa postura já fragiliza a relação com profissionais experientes, ela se torna ainda mais crítica diante da Geração Z — um grupo que cresceu com liberdade de expressão, fluidez de ambientes e protagonismo digital. Para essa geração, imposições unilaterais soam como ruído institucional ou autoritarismo mesmo. Eles não ficam só para cumprir ordem: ficam quando sentem coerência, respeito e espaço de construção. Ignorar isso é acelerar a perda dos talentos que podem renovar, desafiar e sustentar o futuro das organizações.
As empresas que entenderem isso antes sairão na frente. Elas não vão apenas atrair gente boa — vão criar ambientes onde gente boa quer ficar. O debate não é sobre home office ou presencial. É sobre cultura, liberdade, resultado e escuta ativa. A pergunta certa não é "onde trabalhar?". É: "por que trabalhar aqui?"
 

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