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Publicada em 27 de Abril de 2025 às 16:00

Campo abre as portas para o turismo e aquece economia de pequenas cidades

O turismo rural chegou a rincões até pouco tempo atrás esquecidos no Estado, movimentando a economia de pequenos municípios

O turismo rural chegou a rincões até pouco tempo atrás esquecidos no Estado, movimentando a economia de pequenos municípios

CRISTINE PIRES/ESPECIAL/JC
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Ana Esteves
Especial para o JC*
Especial para o JC*
O burburinho, o fluxo intenso de turistas e a badalação dos municípios gaúchos que oferecem opções de turismo convencionais têm provocado uma intensa procura pelos roteiros que fogem do óbvio e proporcionam momentos bucólicos de tranquilidade e vivências da rotina do campo. O turismo rural chegou a rincões até pouco tempo atrás esquecidos no Estado, movimentando a economia de pequenos municípios, gerando renda e emprego, colaborando com a diversificação da matriz produtiva das propriedades e favorecendo a permanência dos jovens no campo.
 

Pesquisa do Mtur revela que 70% dos viajantes também levam em conta o atributo

Pesquisa do Mtur revela que 70% dos viajantes também levam em conta o atributo "paz e tranquilidade" ao escolherem qual destino procurar

/Alfonso Abraham/PMPA/JC
Quando se pensa em fazer turismo no Rio Grande do Sul, logo vêm à cabeça locais consagrados da Serra Gaúcha, Região das Hortênsias, Vale dos Vinhedos, Missões e Litoral, por exemplo. Mas, desde a pandemia do Covid-19, quando os únicos passeios possíveis eram ao ar livre, em lugares pouco badalados e sem aglomeração de pessoas, a onda do turismo rural se espalhou pelo Estado. O segmento despertou inclusive a Capital dos gaúchos, que tem ampliado as ações dentro dos Caminhos Rurais.
O burburinho e o excesso de público em locais clássicos do turismo gaúcho fazem com que a preferência por lugares calmos e bucólicos cresça, especialmente nos pequenos municípios com roteiros fora do óbvio. Cidades como Morro Redondo, Lomba Grande, Arroio do Padre, Nova Roma do Sul, Rolante e Arroio do Meio são algumas das localidades que entraram para a lista de pontos de interesse a serem visitados no Estado.
"Cresceu muito a curiosidade e a vontade das pessoas de vivenciar o dia a dia do campo, as práticas agrícolas, colheita de frutas e hortaliças, ordenha. E esses fatores justificam, em parte, a busca das pessoas por lugares diferentes dos grandes centros turísticos", afirma a turismóloga da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS), Natália Brasil.
E, se o turismo rural traz benefícios para quem o pratica, o mesmo ocorre entre os que o promovem: além de ser uma atividade que agrega valor às propriedades, muitas vezes mantém o jovem no campo e cria um novo modelo de negócio. "Temos o turismo no campo como uma alternativa para conter o êxodo rural e de agregação de valor ao produto que determinada empresa rural elabora, pois a geleia que é produzida naquela propriedade tem características únicas daquele local e é vendida direto para quem vai visitar, aumentando o faturamento dessas propriedades" afirma a coordenadora Estadual da Economia Criativa e Turismo do Sebrae-RS, Amanda Paim.
Em 2023, o Ministério do Turismo (MTUR) realizou a segunda edição da pesquisa Demanda do Turismo Rural no Brasil, que indicou que essa modalidade de turismo é uma tendência no setor de viagens e que 74% dos turistas que buscam o segmento procuram o interior do País para contemplar a natureza. Além de estar mais perto do que é natural, 70% dos viajantes que optaram pelo turismo rural também levam em conta o atributo "paz e tranquilidade" ao escolherem o destino.
Outro ponto que atrai os visitantes é a "autenticidade da comida caseira", item escolhido por 73% dos que responderam à pesquisa. Entre as mais de 40 atividades disponíveis no meio rural listadas pelo estudo, as trilhas ganharam destaque nas respostas, contando com 60% de preferência. O levantamento indica ainda que 50% dos entrevistados buscam destinos que possam proporcionar algum aprendizado. Além disso, a tendência de sustentabilidade ganha destaque, sendo uma das ações que atraem os turistas, conquistando 47% de interesse do público.
Amanda acrescenta que o Rio Grande do Sul poderia ser o estado com maior número de empreendimentos de turismo rural, pela história muito vinculada à vida no campo e por ter um agronegócio forte, mas que ainda é preciso incrementar a qualidade dos serviços. "Poucas propriedades realmente oferecem qualidade e temos muita informalidade. Muitas vezes, essa atividade tem um grande potencial, mas acaba sendo subestimada, pois não tem o investimento por parte da propriedade para receber bem o turista", avalia.
A executiva do Sebrae-RS conta que, entre as principais atrações oferecidas estão aquelas que buscam integrar o visitante à vida no campo, abrir as portas e deixar o turista experimentar o cotidiano do ambiente rural. "Muita gente tem curiosidade sobre o acervo de objetos históricos da família que administra a agroindústria ou sobre o funcionamento dela", relata. Entre as modalidades que costumam ser oferecidas por propriedades que desenvolveram o turismo rural estão gastronomia em galpões ou casa disponíveis, cujos proprietários têm habilidades culinárias e trabalham com ponto de venda para produtos típicos da região.
Turismo educacional em propriedades de cunho didático e histórico, hospedagem ou spa rural também estão em alta. "Vale lembrar alguns pontos importantes de atenção como: avaliar a distância da cidade e qualidade das vias de acesso, ter consciência que o turismo é uma atividade na maioria das vezes de final de semana e que exige interação e atenção com o público", acrescenta Amanda.
O incremento na busca por opões de turismo rural obrigou uma maior qualificação de todos os envolvidos no setor. De olho nessa tendência, o Senac-RS diversificou as opções de cursos para a formação de profissionais na área de turismo rural, com aulas de guia de turismo, hospitalidade e gastronomia, que têm como objetivo agregar valor para o trabalho daqueles que desejam atuar com turismo no ambiente rural.
"Além dos cursos de turismo em si, são oferecidas formações em boas-práticas de serviço de alimentação, enogastronomia, governança hoteleira, e tem também na área de acessibilidade, em serviços turísticos, marketing turístico, entre outros", enumera a orientadora de educação profissional do Senac-RS, Silvana Haetinger. Segundo ela, a procura por alternativas de turismo rural cresceu muito durante a pandemia e perdura até agora, em função dos altos custos para viajar para fora do Estado e do País.
"As pessoas se concentram muito em buscar roteiros alternativos e até fugir um pouco do convencional", diz, ao lembrar que, desde a pandemia, aumentou muito o número de alunos de ambientes rurais interessados em trabalhar com turismo. E pessoas que muitas vezes não viam esse potencial, passaram a ver.
As cidades mais procuradas são as que têm maior proximidade com ambientes urbanos, no máximo uma hora e meia de distância de Porto Alegre. "Pois, possibilita aquele turismo de final de semana, em que a pessoa pode se conectar com a natureza, se aproximar da família e voltar. Esse é o foco maior assim que eu vejo do turismo rural", completa Silvana.
 

Confira as dicas preparadas pelo Sebrae e MTur

Produtores devem entregar cerca de 30 milh?es de quilos ? cooperativa

Produtores devem entregar cerca de 30 milh?es de quilos ? cooperativa

/Augusto Tomasi/DIVULGA??O/CIDADES
O turismo rural é uma excelente oportunidade para pequenos produtores diversificarem suas fontes de renda, valorizando o meio ambiente, os saberes locais e a cultura regional. A prática vem crescendo de forma significativa no Brasil, com destaque para o Rio Grande do Sul, onde a integração entre campo e cidade tem fortalecido o setor.
Cenário atual
Crescimento do setor: O turismo rural tem registrado crescimento anual superior a 50%, impulsionado pela busca por experiências autênticas e de contato com a natureza.

Público-alvo
Adultos entre 20 e 55 anos são os mais interessados em escapadas curtas com vivências culturais e gastronômicas no campo.
Benefícios
Geração de renda extra para propriedades rurais
Preservação ambiental e valorização do patrimônio cultural
Incentivo à permanência dos jovens no campo
Atividades mais comuns e atrativas
O turismo rural pode incluir desde atividades simples até experiências mais estruturadas, sempre aproveitando os recursos naturais, históricos e culturais das propriedades.
Vivências tradicionais e educativas
Observação de lavouras e da paisagem rural
Vivência no cotidiano da fazenda (plantio, colheita, manejo de animais)
Participação na produção de pães, queijos, salames, doces e geleias
Visitas a pomares, hortas e ordenhas
Museus com itens históricos da propriedade
Café da manhã colonial e oficinas de culinária artesanal
Experiências de lazer e aventura:
Passeios a cavalo e trilhas
Rapel, arvorismo e turismo de aventura
Atividades pedagógicas e recreativas
Turismo de base comunitária
Enoturismo e turismo gastronômico com degustações
Serviços oferecidos
Hospedagem e alimentação típica
Recepção e atendimento ao visitante
Transporte, roteiros e agenciamento de passeios
Eventos e festas típicas do meio rural
Como transformar a propriedade em destino turístico
A chave do sucesso está em valorizar o que já existe na propriedade, com criatividade, planejamento e boa hospitalidade.

Etapas e pontos de atenção
Identificar e valorizar os atrativos naturais e culturais existentes
Aproveitar a produção agrícola como experiência para o visitante
Explorar atrações da região (cachoeiras, mirantes, eventos locais)
Criar roteiros e divulgar os serviços turísticos oferecidos
Reforçar parcerias e a cooperação regional
Assumir uma postura acolhedora como anfitrião
Planejar a infraestrutura com foco na sustentabilidade

Conselhos do Sebrae para uma boa gestão
Goste do que faz: Ter afinidade com a vida rural e vontade de receber visitantes é essencial.
Seja um bom anfitrião: A hospitalidade é o diferencial que transforma a experiência do turista.
Planeje: Avalie as áreas da propriedade que podem ser visitadas e os serviços que podem ser oferecidos. O planejamento deve incluir a capacidade de atendimento e as adaptações necessárias.
Adapte os espaços: Identifique áreas propícias para trilhas, esportes, gastronomia ou descanso.
Observe o entorno: Atrativos da região podem complementar a experiência oferecida pela propriedade.
Ofereça atividades variadas: Oficinas, visitas guiadas, aulas de culinária e atividades culturais são muito procuradas.
Invista em divulgação: Use marketing digital, redes sociais, parcerias com agências de turismo e mídia local para atrair o público.

Oportunidades do turismo rural
O turismo rural é importante para o pequeno produtor porque por meio dele promove-se o desenvolvimento sustentável e as oportunidades de negócio – organizando eventos de final de
semana, excursões escolares ou temporadas de férias. O produtor tem a chance de ganhar renda extra oferecendo hospedagem, passeios pela região e venda de produtos agropecuários típicos e artesanais para os visitantes. Outros benefícios do turismo rural são:
Fomento à economia local: Há criação de empregos, novas oportunidades de negócios,
agregação de valor aos produtos agrícolas.
Valorização da lavoura: Nas propriedades rurais, o turismo chega a representar até 40%
do lucro com a promoção de venda dos produtos in natura.
Preservação ambiental: O produtor é estimulado a preservar plantas e animais para
manter a atratividade turística de sua propriedade e garantir mais visitas.

Família Ferrari aposta no 'colha e pague' de hortaliças

Márcia e o marido Carlos recebem e auxiliam os visitantes em todo o processo de colheita dos alimentos

Márcia e o marido Carlos recebem e auxiliam os visitantes em todo o processo de colheita dos alimentos

/Márcia Ferrari/Arquivo Pessoal/JC
A colheita de alimentos da horta é uma atividade corriqueira para muitos, mas para a grande maioria das pessoas é algo inusitado, a ponto de a atividade ter se tornado atração turística. De olho nessa tendência, a Agroecologia Ferrari, do município de Arroio do Meio, resolveu transformar o espaço de olerícolas da propriedade em ponto de interesse para turistas do Estado e de fora dele.
"Começamos em 2013 com o turismo como forma de diversificar a produção da nossa agroindústria. Nossa proposta é o colhe e pague: a pessoa vai na horta, escolhe o que gostaria de levar e ela mesma colhe. Pode usar chapéu de palha para ficar bem típica e nós orientamos todo o processo de colheita dos alimentos", afirma a proprietária da Agro Ferrari, Márcia Ferrari, que divide a tarefa com o marido Carlos Ferrari. Ela conta que, no início, as visitações eram intensas de turistas e escolas, cujas crianças nunca tinham experimentado a colheita dos alimentos.
"Depois, veio a pandemia de Covid-19, a enchente e reduziu o movimento, mas estamos nos reestruturando", conta a agricultora. Os Ferrari começaram a atividade com o cultivo de hortaliças agroecológicas há 22 anos, com a proposta de "cuidar da saúde da família e cuidar das pessoas". As vendas eram feitas em supermercados, em pequena escala, pois naquela época ainda não havia a valorização dos orgânicos como ocorre hoje.
A ideia de criar um roteiro turístico na comunidade de Forqueta, distrito de Arroio do Meio, surgiu na escola local, em função do alto nível de organização das famílias que vivem na localidade. "Nossa comunidade é tão linda que as pessoas de fora precisavam conhecer. E nós fizemos toda a capacitação para poder participar do roteiro", diz Márcia.
O município de 22 mil habitantes conta com dois roteiros turísticos, o Caminhos da Forqueta e o Entre Vales e Rios, que inclui visitação à cidade, além dos caminhos do Interior. A família Ferrari participa dos dois, pois desde o início atuou, junto à Câmara dos Vereadores de Arroio do Meio com um trabalho de conscientização, junto aos outros participantes das rotas, sobre a importância de trabalhar com turismo rural.
"Ao ingressar na cidade, os turistas entram em contato com a nossa história, podem visitar a igreja, a Casa do Mundo, a Ponte de Ferro, que é a ponte histórica", enumera Márcia. O roteiro pelo Interior inclui, além dos Ferrari, um alambique, casas centenárias, artesanato, apiário de abelhas sem ferrão, as igrejas católica e evangélica e um camping.
Márcia conta que, além da atividade com turismo, a família segue comercializando o que colhe da horta em uma feira de produtos orgânicos, realizada ao sábados no centro da cidade. Com a reinauguração da ponte da ERS 130, que liga Lajeado a Arroio do Meio, Márcia diz que a expectativa é de retorno dos turistas, uma vez que o município só podia ser acessado pela antiga ponte de ferro, pela qual só passa um veículo de cada vez.
"As pessoas não vinham pois era bem difícil", recorda. A horta da família é bem variada e tem desde as hortaliças típicas como abóbora, até temperos dos mais variados e frutas, como morangos, os preferidos dos turistas.
 

Cultura pomerana movimenta turismo em Arroio do Padre

A cultura alemã está em cada canto da casa centenária, comprada e restaurada para abrigar o empreendimento.

A cultura alemã está em cada canto da casa centenária, comprada e restaurada para abrigar o empreendimento.

/Casa da Figueira/Divulgação/JC
O conceito de turismo rural está muito atrelado às raízes de quem o pratica. É o caso da empresária Ecléia Kruger que nasceu e se criou no município de Arroio do Padre, a 34 Km de Pelotas, precisou morar na cidade grande por questões de estudo e profissionais, mas decidiu voltar às origens para promover a cultura alemã em sua propriedade.
"Meus pais e os pais do meu marido eram trabalhadores rurais, na área de fruticultura e fumo. Nós acabamos migrando para a cidade grande, mas as raízes ficaram em Arroio do Padre e hoje estamos fazendo o caminho de volta para elas", afirma a Ecléia que é proprietária do sítio Casa da Figueira. A cultura alemã está em cada canto da casa centenária, comprada e restaurada por Ecléia para abrigar o empreendimento.
"Nosso carro-chefe é a culinária pomerana e afetiva que aprendi a cozinhar com minha mãe. Os pratos são todos produzidos por mim, nada vem de fora, para que o visitante possa experimentar a verdadeira comida que meus antepassados cozinhavam e degustavam", acrescenta Ecléia. Ela conta que se baseia nos cafés coloniais de antigamente, quando a comunidade, no final de semana, fazia uma festa de igreja e cada família levava algo que faziam em suas cozinhas para compartilhar.
As atividades eram para ter iniciado em 2019, mas com a pandemia de COVID-19, precisaram ser adiadas e, no dia 01 de maio completará três anos de funcionamento. "Nos surpreendemos muito com o quão rápido foi a evolução do negócio, de como o turismo rural está aquecido e as pessoas têm optado por conhecer lugares pequenos que estão se destacando na área, como Arroio do Padre que é essencialmente rural, mas que tem atraído muitos visitantes".
O município de 2,9 mil habitantes é enclave de Pelotas, ou seja, está completamente cercado pelo território pelotense, e encontra-se localizado na Mesorregião Sudeste Rio-Grandense, tendo seu acesso pela ERS 737. "A estrada está toda asfaltada o que facilitou muito o acesso das pessoas", afirma Ecléia. A cultura predominante no município é a pomerana, devido à colonização europeia ocorrida no século XIX.
 
As primeiras famílias alemãs/pomeranas começaram a se instalar na localidade por volta de 1850, desembarcando no navio transatlântico em Rio Grande e se deslocando via lacustre para São Lourenço do Sul vindo a ocupar a margem do Arroio Grande e Turuçu e o atual município de Arroio do Padre. "Tem que tem essa proximidade com os municípios de Pelotas, Rio Grande, Canguçu, Morro Redondo, Turuçu, São Lourenço, bem no meio, e faz parte da Serra dos Tapes, que está se desenvolvendo muito turisticamente", diz Ecléia.
A empresária conta que a ideia de fomentar o turismo na região iniciou com a percepção de que as atrações do município iam além da cachoeira do Camboatá, principal ponto turístico natural de Arroio do Padre. "Nós pensávamos: como que pode um município tão bonitinho com essa característica toda de serra, esse sobe e desce com curvas, esse clima de serra e nós não conseguíamos trabalhar com turismo".
Pois a iniciativa deu certo e reuniu outros empreendimentos da região. A agenda da casa da Figueira lota todos os finais de semana, com uma demanda alta e que deve crescer ainda mais com a chegada do inverno. "Nosso foco é o café colonial, a cara do inverno", diz Ecléia.
O trabalho da família Kruger foi importante também pelo lado do patrimônio histórico da cidade: eles compraram uma casa antiga, que estava se deteriorando e promoveram o restauro dela, trazendo a memória de volta e preservando-a.
"É uma casa importante para o município e como ainda não se tem aqui essa questão do tombamento das casas, nós conseguimos salvá-la, pois já estava em estado de tapera. Ela é parte da história da colonização pomerana na região". A casa foi comprada em 2013 e reformada aos poucos: adaptando os espaços, a área externa com os jardins, os caminhos para acesso dos visitantes, estacionamento.
"Pois a ideia, além do café, era de que as pessoas pudessem descansar nos jardins, após a ocupação da mesa. Fornecemos uma manta para que os turistas possam deitar em uma sombra, embaixo de uma árvore e viver a vida no campo. Não é um lugar para chegar, comer e ir embora, a ideia é de imersão mesmo, sem tumulto, sem aglomeração de pessoas". Ecléia conta que a Casa da Figueira faz parta do roteiro Belos Caminhos de Arroio do Padre, que tem a cachoeira, uma floricultura, uma trattoria, além do centro da cidade.
 

Novas rotas de enoturismo ganham adeptos no Estado

De Bastiani administra a parte turística da propriedade de Nova Roma do Sul

De Bastiani administra a parte turística da propriedade de Nova Roma do Sul

/De Bastiani/Divulgação/JC
O enoturismo é uma das modalidades que mais atrai turistas de todo o Brasil para o Rio Grande do Sul. Mas as rotas tradicionais das vinícolas, Bento Gonçalves, Garibaldi e Campanha estão dividindo espaço com opções diferenciadas no chamado "interior do Interior". É o caso da Vinícola De Bastiani, localizada em Nova Roma do Sul, que começou a produção da bebida em 2007 e, em 2015, optou por diversificar e criar um espaço para imersão dos turistas no mundo dos vinhos.
"Aliamos a produção do vinho com tudo que há de cultura italiana envolvendo esse processo: a culinária, a pisa da uva, o passeio de carroção pela propriedade, a música da colônia, para que o turista possa ele mesmo fazer na prática o que nós e nossos antepassados fazemos há 150 anos", afirma o sócio da vinícola De Bastiani, Matheus Bunai De Bastiani.
Tudo começou a partir de um curso de turismo rural feito por Marta Inês Bunai De Bastiani, mãe de Matheus, que buscava formas de diversificar as atividades da vinícola, com aulas sobre atendimento aos clientes e melhorarias do espaço. "Eu era criança naquela época, mas sempre ajudei. Agora, sou eu que administro a parte de turismo, atribuição que ajudou a me manter na propriedade", diz De Bastiani.
O roteiro dentro da vinícola é bem diversificado, começa com um passeio de carroça, puxada por trator que leva os turistas até um mirante, segue com almoço cem por cento italiano com pratos típicos como macarrão à carbonara, o galeto com batata, salame, queijo, copa e o prato principal, que é a polenta brustolada.
O visitante que optar por ter uma vivência mais intensa da produção dos vinhos pode participar da tradicional pisa das uvas, uma tradição de vinificação que consiste em pisar os cachos de uva com os pés para extrair o suco.
"Estamos planejando a produção de um vinho a partir da uva pisada pelo turista e que ele poderá adquirir depois de maturado", informa o empresário. De Bastiani revela que o novo projeto da vinícola já está em fase de construção: são cabanas que poderão ser locadas pelos turistas que desejarem ficar mais tempo na propriedade.
O perfil dos turistas que visitam a De Bastiani é bem variado, muitos da região de Nova Roma do Sul, município que fica entre Farroupilha, Caxias do Sul e Veranópolis, mas também excursões oriundas de Porto Alegre, Novo Hamburgo e de cidades de Santa Catarina. "Nós recebemos também muitos grupos de caminhadas que se exercitam e depois vêm aqui para almoçar, principalmente da Região Metropolitana".
A história da imigração italiana também está entre os destaques da propriedade da família De Bastiani, que chegou no Brasil em 1888 e adquiriu as terras que abrigam a vinícola em 1913.
"Temos um museu com objetos e documentos que eram nos nossos antepassados e também da comunidade local. Temos uma representação do quarto de antigamente, além de ferramentas que os colonos usavam no dia a dia". A vinícola conta ainda com o setor de varejo que comercializa, além do vinho, espumantes, sucos de uva, geleias, compotas queijos e salames.
Fora da rota do tradicional de produção de vinhos no Estado, a Caminho das Pipas, localizada no 4º distrito de Rolante, é outra opção que tem despontado como alternativa entre os destinos ligados à produção vitivinícola. A rota fica na localidade de Boa Esperança, a 17 quilômetros do centro da cidade, comunidade que conta com população de, aproximadamente, 80 famílias predominantemente de origem italiana.
O roteiro é composto por vinícolas familiares que trabalham com vinhos de mesa e suco de uva integral, vinhos finos e espumantes, além de outros produtos coloniais produzido pelas famílias locais. O histórico comercial da localidade é antigo, vindo desde a época da colonização, tendo como rótulo a simplicidade e a hospitalidade no recebimento aconchegante de seus clientes e visitantes.
 

Setur tem hotsite com mapeamento de destinos turísticos rurais pelo Rio Grande do Sul

Quem tiver como foco visitar os locais turísticos do Rio Grande do Sul conta com uma ferramenta que compila os empreendimentos voltados para esse segmento no Estado. O hotsite da Secretaria Estadual de Turismo (Setur-RS) tem mapeado por região, município ou por tipo de atividade que oferece, cada propriedade aberta à visitação por aqueles que se interessam por vivências do campo.
A analista de projetos em políticas públicas e gestão governamental da Setur-RS, Rosana Simões, afirma que os pequenos municípios têm despontado entre as alternativas de turismo rural, um fenômeno verificado nos últimos dez anos. Segundo ela, municípios da região do Litoral Norte, como o Morro da Borrússia, o roteiro Osório Cultural, os Caminhos da Colônia em Flores da Cunha, a região da Costa Doce, com Morro Redondo e Arroio do Padre, o Caminho das Cascatas, no Vale do Taquari, o Caminho das Pipas, em Rolante, Lomba Grande, em Novo Hamburgo, a Farroupilha Colonial são alguns exemplos das localidades com aumento de demanda. "O turista está buscando atividades que ele possa experienciar, participar e conhecer a lida rural", afirma Rosana.
Ela destaca o trabalho que vem sendo realizado, junto com o Sebrae-RS e a Emater-RS, no sentido de fomentar essa modalidade de turismo e atuar na qualificação de quem resolve investir no setor, como forma de diversificar a matriz produtiva e agregar renda à propriedade. "Atuamos colaborando na estruturação das propriedades, desenvolvimento e promoção das mesmas. E o hotsite foi uma ferramenta, a única no Estado, com foco total em turismo rural", afirma Rosana.
Por enquanto, o hotsite conta com 397 empreendimentos de turismo rural, estruturado a partir de uma pesquisa realizada desde 2016, em andamento até hoje, através da qual é aplicado um questionário nas propriedades rurais, e a partir dessas informações levantadas é possível ter um raio-x do segmento. "Esses dados ainda estão sendo compilados. Temos no hotsite um panorama de como era em 2017, mas, em breve devemos atualizar", diz.
Rosana acrescenta que o turismo rural também tem um papel importante para os municípios no qual se desenvolve, gerando emprego, renda, mantendo o jovem no campo e movimentando a economia local. Além disso, a atividade coloca muito o trabalho das mulheres do campo como protagonistas, para geração de renda extra para elas.
"O turismo rural tem uma transversalidade que permite que ele tenha uma interconexão com outras áreas, setores e temas. É um segmento que, por exemplo, oportuniza trabalhar as questões de desenvolvimento sustentável, cultural, de patrimônio, inclusão social. Oportuniza trabalhar com as comunidades, como quilombolas, indígenas que também estão se inserindo".
A analista acrescenta que a temática das vivências da lida do campo está muito em alta, de o turista poder ver como se fabrica determinado produto da propriedade, muitas vezes participar da sua elaboração e depois comprá-lo.
"Muitas são agroindústrias que passam a ter o turismo rural como um canal de vendas a mais. Além da possibilidade de colher frutas e hortaliças, pescar, lidar com animais, o turista vai em busca de atividades que criem memórias afetivas para ele", constata. O endereço do hotsite de turismo rural é o https://www.emater.tche.br/site/turismo-rural.
 

Estudo desenvolvido pelo Sebrae-RS usa Big Data para traçar os perfis dos turistas

Amanda destaca importância de informações atualizadas para os negócios

Amanda destaca importância de informações atualizadas para os negócios

/Amanda Paim/Arquiivo Pessoal/JC
De onde vêm, quais os destinos mais procurados e como se comportam os turistas no Rio Grande do Sul. Essas e outras questões são respondidas na Pesquisa Análise de Fluxo Turístico 2022. O estudo mapeou o comportamento e traçou um perfil de pouco mais de 81 mil turistas que circularam por 22 municípios gaúchos. A pesquisa foi realizada pelo Sebrae-RS, em parceria com a Secretaria Estadual de Turismo (Setur). "Hoje em dia, toda e qualquer tomada de decisão que vai impactar positivamente os negócios pode e deve ser feita com base em informações de valor e atualizadas. No turismo, isso não é diferente. Essa é mais um ferramenta que, a partir dos insights coletados, irá permitir que as empresas e instituições do setor seja ainda mais assertivas e criem novas soluções", destaca a coordenadora dos projetos de Turismo e Economia Criativa do Sebrae-RS, Amanda Paim.
 

Confira os dados

Rogério Fernandes/Emater/JC
 
77.63% dos turistas visitaram localidades em um raio de até 500 quilômetros a partir do seu ponto de origem.
40.5% visitaram uma cidade
31.89% visitaram duas cidades
28.05% visitaram três cidades.

No Rio Grande do Sul, Caxias do Sul, Porto Alegre e Pelotas são as cidades mais emissoras de turistas. Fora do Estado, Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro são as cidades mais emissoras de turistas.

82.45%
dos turistas são oriundos dos três estados da Região Sul
9.4% são oriundos da Região Sudeste
4.88% são oriundos da Região Cento-Oeste
62.79% dos turistas são oriundos do Rio Grande do Sul
13.48% são oriundos de Santa Catarina
36% turistas vêm de 10 cidades do Rio Grande do Sul
28% dos turistas de outros estados visitam mais de três cidades por dia
76% permanecem de um a três dias.

Municípios participantes e por ordem de maior volume únicos de turistas:
Porto Alegre
Gramado
Rio Grande
Caxias do Sul
Santa Maria
São Francisco de Paula
Torres
Bento Gonçalves
Pelotas
Passo Fundo
Nova Petrópolis
Canela
Santa Cruz do Sul
Garibaldi
Uruguaiana
Santana do Livramento
Lajeado
Novo Hamburgo
Erechim
Santo Ângelo
Cambará do Sul
São Miguel das Missões

O estudo apontou ainda as cidades de Pelotas, São Francisco de Paula e Garibaldi com os maiores crescimentos de fluxo de turistas. Na comparação de 2022 com 2019, os municípios registraram um aumento de 80.6%, 80.3% e 22.6%, respectivamente.


CENÁRIO DO TURISMO RURAL GAÚCHO - DIAGNÓSTICO 2019
Fonte: Câmara de Turismo Rural Setur-RS

Amostra: 342 Propriedades
24 Regiões Turísticas
93 Municípios
Destaques
Uva e Vinho: 23%
Vale do Taquari: 8%
Hortênsias: 5%
Economia
Tipo de Empreendimento
Propriedades Rurais: 67%
Microempresas: 21%
Pequenas Empresas: 7%
Outros: 5%
Desenvolvimento de Novos
Produtos a Partir do Turismo Rural
Sim: 61%
Não: 39%
Principais Atividades
Turismo: 40%
Agricultura: 33%
Produção Associada: 11%
Pecuária: 6%
Outros: 10%

Aumento na Venda de Produtos Agropecuários Devido ao Turismo Rural
Sim: 68%
Não: 24%
Não Sabe Avaliar: 8%
Caracterização Turística - Atividade Principal
Alimentação: 20%
Artesanato: 5%
Agroturismo: 19%
Intercâmbio /Estudo/Vivências: 5%
Espaço de Lazer: 14%
Rotas e Roteiros: 4%
Hospedagem: 10%
Aventura/Esporte/Ecológico: 3%
Enoturismo: 6%
Espaço para Eventos: 2%
Outros: 6%
Turismo Cultural: 6%

Possibilidade de Visitação / Participação nas Atividades Durante
Visitação Turística
* Não: 57%
Sim: 43%
Hospedagem
Oferta de Hospedagem: 28%
N° de Leitos RS: 1796
Destaques Hospedagens
Vale Germânico: 4%
Campos de Cima da Serra: 3%
Litoral Norte: 3%
Perfil do Trabalhador
Gênero
Homens: 52%
Mulheres: 41%
Não Informado: 7%
Equipe de Trabalho
Familiar: 73%
Não Familiar: 27%
Total de Trabalhadores Informados: 1561
Benefícios da Implementação do Turismo Rural na Propriedade
Renda Extra: 77%
Qualidade de Vida: 63%
Diversificação da Produção: 44%
Inclusão Social: 39%
Outros: 17%

*Ana Esteves é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Atuou como repórter setorista de agronegócios no Jornal do Comércio, Correio do Povo e Revista A Granja. Hoje, atua como assessora de imprensa e repórter freelancer. Também é graduada em Medicina Veterinária pela Ufrgs.

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