Loraine Luz, especial para o JC*
Torcida pela ocorrência de temperaturas mais elevadas e disposição para inovar marcam o atual momento da indústria sorveteira. A força apelativa pelo puro prazer que a iguaria proporciona se junta o avanço da busca, pelos consumidores, por hábitos de vida saudáveis. O comportamento mais consciente avança a passos largos e não pode ser ignorado pelos fabricantes. Opções sem açúcar, sem lactose, veganas ou com menos gordura vêm ampliando o público dessa indústria. Com muitos créditos nesse sentido, os produtos tendo como base o açaí ganham cada vez mais destaque. No Litoral Norte sugere até um protagonismo, ou no mínimo empate. Bufês de açaí estão em evidência. Açaiterias se juntam a sorveterias no Litoral Norte, como na loja #açaí (foto), em Balneário Pinhal, de Gustavo Santos, que apostou na tendência nesta temporada.
Combinações variadas de sabor incrementam vendas de produtos baseados na matéria-prima que vem da Amazônia e possui forte apelo saudável
Loraine/Luz Especial/JCUma inovação de sabores apoiada na indulgência que caracteriza o consumo, uma diversificação de produtos que, por sua vez, visa atrair públicos interessados em hábitos mais saudáveis e, correndo por fora - ora se valendo de uma, ora de outra corrente - estão as opções baseadas no açaí. O setor de sorvetes tem expectativas positivas para a temporada 2025, ainda que, especialmente no Rio Grande do Sul, as temperaturas mais amenas em dezembro tenham ficado aquém do melhor cenário para fomentar o consumo.
O sabor açaí é o mais popular da indústria no País, com uma fatia de 55,4% do mercado, conforme o estudo "O sorvete quer falar: panorama da indústria do sorvete" realizado por Fispal Sorvetes, Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis (Abrasorvete) e Associação Gaúcha das Indústrias de Gelados Comestíveis e Afins (Agagel), divulgado em 2024. Mais de 177 empreendedores do setor foram entrevistados entre janeiro e março, com participação majoritária de empresas de São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Ceará e Bahia, abrangendo microempresas (46%), empresas de pequeno porte (25%), empresas de médio porte (3,3%) e grandes empresas (8%).
Além de ser lido como uma opção mais saudável, o fruto amazônico processado na forma cremosa - e podendo ser combinado a outros ingredientes saborosos - tem uma demanda constante o ano todo, o que ajudaria a explicar a aposta dos empreendedores neste produto. Conforme dados do IBGE, a produção brasileira de açaí cresceu 70% entre 2017 e 2023. No ano passado, superando empresas tradicionais como a Frooty, a Polpanorte, do interior do Paraná, assumiu a liderança no segmento no Brasil. A marca do Grupo Zeppone prevê receita de R$ 750 milhões em 2025. O faturamento em 2023 foi 30% superior ao ano anterior. No portfolio da empresa, estão produtos em formato de sorbets e de sorvete, combinados a cremes de paçoca, de aveia ou iogurte grego.
Dados de dezembro, da Scanntech, apontam que a empresa alcançou no Rio Grande do Sul um market share de 65% na categoria de açaí, consolidando a liderança na região.
"Percebemos um crescimento significativo na demanda por açaí na região nos últimos meses", afirma Carlos Bentim, diretor Comercial e de Marketing da Polpanorte, também como resultado de ações de marketing. "Um exemplo foi a implementação de freezers dedicados ao açaí em locais estratégicos, como áreas próximas aos sorvetes em atacados e varejo", comenta Bentim.
"Percebemos um crescimento significativo na demanda por açaí na região nos últimos meses", afirma Carlos Bentim, diretor Comercial e de Marketing da Polpanorte, também como resultado de ações de marketing. "Um exemplo foi a implementação de freezers dedicados ao açaí em locais estratégicos, como áreas próximas aos sorvetes em atacados e varejo", comenta Bentim.
"O açaí não é concorrente e sim mais um produto para ser comercializado dentro do nosso nicho. No Brasil, país continental, existe espaço para crescimento, se compararmos com outros países, e o açaí está contribuindo nisso", analisa Eduardo Weisberg, presidente da Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (ABIS). Para o representante da entidade, o momento é favorável para o setor, apesar da apreensão devido à alta do dólar, que pode impactar no custo de matérias-primas. O setor tem sido beneficiado pelo aumento da temperatura em meses de baixa temporada, assinala o presidente.
De acordo com dados da Scanntech, plataforma de inteligência de dados com soluções para indústria e varejo, houve aumento de vendas em 2023 atribuído ao clima, especialmente em setembro e novembro, na ordem de 16,3% em comparação ao mesmo período de 2022. Já no ano passado, no acumulado de janeiro a agosto, as vendas aumentaram 4% em relação ao mesmo período de 2023, em consequência das ondas de calor registradas em março, maio e junho. Conforme estudo da Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis (Abrasorvete), em parceria com a EJFGV (Empresa Júnior da Fundação Getúlio Vargas), 66,53% dos brasileiros consideram a temperatura na hora de decidir consumir ou não sorvete.
Entenda as diferenças
NI?GARA BRAGA /ESPECIAL/JC
- Sorbet: composto por água e polpa de frutas, livre de gorduras e de ingredientes de origem animal.
- Sorvete: tem creme de leite, leite, açúcar e, muitas vezes, ovos. Tem gordura e é bastante aerado.
- Gelato (italiano): similar ao sorvete, mas com menos creme de leite e mais leite, além de menos açúcar. Contém menos gordura e menos ar, por isso é mais denso.
- Sorvete americano: composição similar ao sorvete tradicional mas com mais gordura, o que o torna mais 'macio'.
- Sorvete expresso: parecido com o sorvete tradicional, mas tem menos gordura, servido diretamente de máquina.
Atividade está em estágio de consolidação e expansão
Eckhardt estima crescimento de 5% nas vendas deste ano sobre 2024
Abrasorvete/Divulgação/JCO mercado de sorvetes no País se encontra em um estágio de consolidação e expansão, e a expectativa é de crescimento já nos próximos meses: "Tivemos muitos investimentos em novas linhas de produtos e as frentes de calor devem ampliar consideravelmente as vendas. A perspectiva é de que, para 2025, haja um crescimento de cerca de 5% nas vendas de sorvetes em relação ao ano anterior", projeta o presidente da Abrasorvete, Martin Eckhardt.
O mesmo estudo apontou que o consumo anual de sorvete por brasileiro é de 9,1 litros, considerando todos os formatos. Para efeito de comparação: na Nova Zelândia, um dos principais centros de consumo no mundo, são em média 26 litros de sorvete por habitante/ano
A atual diretoria da Abrasorvete, empossada em 2023, lançou desde então a campanha 50 em 10, ou seja, a meta de ampliar em 50% o consumo brasileiro em dez anos. "É uma estimativa realista, baseada na realidade e potencial do setor", garante Eckhardt, fundador da marca gaúcha Sorvebom.
Duas pautas estão entre os principais desafios do setor. A primeira é a questão da sazonalidade, especialmente para os empreendedores do Sul do País. "De abril a setembro, as vendas têm uma queda acentuada. As empresas buscam combater essa sazonalidade com o implemento de produtos no seu mix. Grande parte das sorveterias já incorporou cafés e lanches em seus cardápios", comenta Marcelo Melatti, presidente da Associação Gaúcha das Indústrias de Gelados Comestíveis (Agagel).
A outra pauta diz respeito à redução da carga tributária de toda a cadeia produtiva. Sorvetes são frequentemente classificados como produtos "supérfluos" pela legislação tributária brasileira. Isso significa que eles estão sujeitos a alíquotas mais altas de impostos, como ICMS, PIS e Cofins. A questão inspirou a campanha Dia do Sorvete sem Imposto, que no ano passado chegou à terceira edição. Em 23 de setembro, Dia do Sorvete, as empresas participantes aplicam um desconto de 35% nos preços, valor equivalente ao imposto. "Os governos não tratam o sorvete como alimento", lamenta Weisberg, presidente da ABIS.
Conforme lembra Melatti, um dos avanços mais recentes no Rio Grande do Sul diz respeito à exclusão do ICMS Substituição Tributária (ICMS-ST) para sorvetes. O Decreto n° 57.577/2024 entrou em vigor a partir de 1º de junho. "Já realizamos inúmeros movimentos junto aos órgãos estaduais e federais, buscando a diminuição da carga tributária, hoje em torno de 35%. Portanto, há muito a evoluir para promover um ambiente mais competitivo e para que o produto seja mais acessível ao consumidor", reconhece o presidente da Agagel e proprietário da Doce Deleite Sorvetes, de Cachoeira do Sul.
O perfil do mercado gaúcho
A bacia leiteira impulsiona laticínios, o que favorece a produção de sorvetes cremosos
Freepik/Divulgação/JCA bacia leiteira impulsiona laticínios, o que favorece a produção de sorvetes cremosos. O mercado gaúcho sempre se destacou pelo sorvete à base de leite, com sabores intensos de chocolate e doce de leite, ao contrário de outras regiões do Brasil onde sabores de frutas à base de água são preferidos. O clima influencia o consumo, com queda na época mais fria; porém, temperaturas médias mais altas têm favorecido o consumo ultimamente.
Na Obah, de Porto Alegre, a produção aumenta em cerca de 40% a 50% na época mais quente do ano.
A Tamy, em Bagé, chega a pausar a produção nos dois meses mais frio do inverno gaúcha. Depois, até o auge do verão, a produção aumenta em até 95%.
Em Pelotas, a Sorvetes Tamaju amplia os trabalhos em 200% aproximadamente, enquanto a DoBom, de Três Passo, ampla em 400% em relação ao inverno. A alta temporada, que inicia em outubro e vai até março, representa cerca de 70% do faturamento da Sorvebom, de Lajeado. A Sabory, de Encantado, também aumenta a produção em 70%.
São 392 fábricas de sorvetes no Estado, com maior concentração na Capital. É o segundo Estado com mais empreendedores (15,8%) no país, atrás de São Paulo (com 27%). Mais de 80% das fabricantes são microempresas; e há 162 atacadistas.
Roger Klafke, especialista do Sebrae RS no mercado de A&B (alimentos e bebidas), destaca que o setor oferece muitas oportunidades para os pequenos empreendedores, pois são vários modelos de negócios que podem se enquadrar na cadeia produtiva, seja no fornecimento de insumos, na fabricação, na distribuição ou na venda ao consumidor final.
A Região Sul é o terceiro mercado brasileiro para o segmento, com 15%, segundo a Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (ABIS). O Sudeste lidera com 52% do total, seguido pelo Nordeste, com 19%. Não há dados recentes sobre quanto o setor movimenta a economia gaúcha. O mercado gaúcho representa mais de 5% do mercado nacional, segundo a ABIS.
A Trivialy é a única gaúcha no ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) 2024 das Líderes de Vendas, realizada em parceria com a NielsenIQ. Aparece em quarto lugar no TOP 5 Região Sul. A planta de pasteurização da empresa, em Viamão, é capaz de produzir 192 mil litros de sorvete por dia.
Fontes: ABIS, Abrasorvete, Agagel e Sebrae RS
Fontes: ABIS, Abrasorvete, Agagel e Sebrae RS
O consumo brasileiro de sorvetes
Brasileiros consomem cerca de 45 picolés por ano
Freepik/Divulgação/JC- 9,1 litros por pessoa é a projeção de consumo médio anual do brasileiro.
- 5,94 litros por pessoa é o consumo médio anual de sorvete de massa, especificamente.
- 3,19 litros por pessoa é o consumo médio anual de picolé, especificamente (cerca de 45 unidades).
- 25 a 44 anos é a faixa etária mais representativa entre os consumidores de sorvete no País, pois 25,20% têm entre 25 e 34 anos, e 24,67% têm entre 35 e 44 anos.
- 17,7% dos entrevistados afirmaram que não substituem o sorvete por outras sobremesas
- 69,6% dos consumidores escolhem sorveterias para adquirir o produto, seguidas pelos supermercados (54,8%) e, após, por restaurantes e cafeterias (28,13%)
- 73,47% preferem o formato de massa (as "bolinhas"), seguido por picolé, com 13,20%, e pelo formato soft (casquinhas de fast food), com 10,93%.
- 64,40% dos entrevistados elegem o sorvete como sobremesa, seguido por 60,27% que consomem o produto em passeios. Outros 21,20% adotam a iguaria como lanche.
- 60% dos entrevistados consumidores de sorvete, aproximadamente, são de famílias com renda de até 2 salários mínimos.
FONTE: Pesquisa da Abrasorvete em parceria com a EJFGV (Empresa Júnior da Fundação Getúlio Vargas), divulgada em setembro de 2024
Agenda ativa
Pelo menos dois eventos são destaque no setor
nos próximos meses
nos próximos meses
De 8 a 10 de abril, a 9ª edição do maior encontro de Sorvetes da América Latina — CLASH 2025 - Congresso Latino-Americano de Sorvetes-Helados, em São Paulo, acontece dentro da Anuga Select Brazil, que é a maior feira de alimentos e bebidas das Américas. É uma parceria com a ABIS (Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes).
Em julho, como iniciativa da Agagel, associação gaúcha, acontece a Jornada do Sorvete 2025 nos dias 9 e 10 na cidade de Bento Gonçalves. Mais detalhes podem ser conferidos em www.agagel.com.br.
Maioria das fábricas de sorvete gaúchas já produz o seu açaí
A Sorveteria Doce Deleite, de Cachoeira do Sul, criou o bufê de açaí
Doce Deleite/Divulgação/JCO consumo de açaí generalizado e o interesse por produtos mais saudáveis estão entre as mudanças mais significativas no mercado gaúcho nos últimos anos, segundo o presidente da Associação Gaúcha das Indústrias de Gelados Comestíveis (Agagel), Marcelo Melatti.
Do ponto de vista do negócio, ele afirma que há mais franquias, investimentos em espaços atrativos (instagramáveis) e criação de produtos ligados ao que é tendência entre crianças e jovens. Este também é o panorama esperado para a temporada 2025.
"São tendência do mercado os sorvetes com redução de açúcar e gordura. Os açaís mesclados também ganharam espaço nesta temporada com diversos sabores misturados com sorvetes e frutas", afirma o dirigente. A Agagel reúne mais de 45 associados, de diferentes partes do Estado.
Ex-presidente da entidade por quatro anos e segunda geração da família à frente da Gut Sorvetes, fundada em 1992 em Candelária, Gian Lisboa acrescenta uma transformação no comportamento do consumidor gaúcho: "Antes tinha muito sorveteiro que vinha de fora e acabava pegando uma fatia grande do mercado. Hoje, vejo que o consumidor aposta no produto gaúcho. Temos um dos melhores sorvetes do Brasil e acho que o consumidor está priorizando o que é daqui".
O apelo saudável, o consumo em qualquer época do ano e como chamariz para novos frequentadores de sorveterias explicam o crescimento da oferta de produtos com açaí. Para as entidades representativas do setor e empreendedores do ramo, a iguaria não é concorrente do sorvete tradicional.
"O açaí hoje representa uma fatia importante do setor de gelados comestíveis no Estado, mesmo que com um pouco de atraso em relação ao resto do País. A maioria dos fabricantes de sorvete gaúchos já produzem o seu açaí. O que anteriormente era visto como concorrência acabou se tornando um novo nicho a ser explorado pela indústria", explica Melatti.
Melatti comemora novo nicho
AGAGEL/Divulgação/JC
O fenômeno se espalha pelo Estado. "O açaí foi bem aceito pelo nosso público, o avanço das novas açaiterias não são um problema, pois nossas vendas alavancaram", afirma Alessandra de Jesus Agliardi, proprietária da tradicional sorveteria Gelf´s, em Capão da Canoa. "De baixa caloria e com uma das menores porcentagens de açúcar do mercado gaúcho , nosso açaí em pouco tempo se tornou o produto mais querido e vendido da empresa. O sabor desbancou o napolitano, que liderava por 20 anos", afirma André Da Croce, diretor da Tamy Sorvetes, de Bagé.
A linha de açaí é uma das que mais cresce na Sorvebom, de Lajeado. E o sabor continua sendo a aposta da DoBom, de Três Passos: "As vendas crescem a cada ano. Buscamos criar produtos diferentes com essa fruta, como picolés recheados, com coberturas e potes com tamanhos diferentes.", pontua Everton Luis Vivian, sócio proprietário da empresa.
Para esta temporada, a Doce Deleite, de Cachoeira do Sul, apostou na inclusão do bufê de açaí junto com o tradicional bufê de sorvetes. Consciente do aumento do consumo do açaí, a Trivialy, de Viamão, produz o seu próprio açaí, com investimento em maquinário desde 2015. Os frutos vêm congelados em carretas diretamente do Pará para compor a linha especial da empresa, em potes e picolés, incluindo opção zero açúcar.
Confira tendências e comportamento do setor
Sorvebom levou o Doce de Leite Mumu para o portfólio graças à parceria
Sorvebom/Divulgação/JCMesmo sendo um produto de indulgência, a indústria está atenta à busca por opções mais saudáveis pelos consumidores - neste âmbito, entram os chamados sorvetes funcionais, apresentados em feiras recentes do ramo, assim como gelatos cetogênicos ou sorvetes proteicos.
Nesta pegada saudável, a TetraPak, uma das principais fornecedoras de sorveterias, tem opções sem glúten para as casquinhas. E, alinhando-se à tendência de sustentabilidade e do crescimento de alimentos plant-based, disponibiliza uma pasta-base para sorvetes feita de amêndoas 100% rastreadas, orgânicas e livre de transgênicos. O local de produção é certificado e garante zero desperdício de matéria-prima, minimização do consumo de água e uso de energia sustentável.
Ainda de olho em novos públicos, o segmento vegano, vegetariano e zero lactose são áreas chave de desenvolvimento para as fabricantes, conforme destacado por 29% dos entrevistados no estudo "O sorvete quer falar", da Abrasorvete. Setor fitness (13%), de produtos funcionais (10%), público infantil (8%) e até o mercado pet (4%) também estão na mira dos investimentos da indústria nacional.
A saudabilidade norteia as inovações em matéria-prima e composição, mas não somente. Produtos premium ou linhas gourmet, agregando ingredientes como pistache, avelã, caramelos salgados e frutas regionais (é aqui que o açaí ganha força) ou exóticas, também estão no radar. A aposta em sabores ou combinações mais sofisticadas atrai consumidores com paladar mais exigente e pode melhorar a margem de lucro. Coberturas inovadoras e mais cremosas diversificam as atrações em sorveterias, podendo ser usadas em bolos, cafés e outras bebidas ou sobremesas geladas.
Reunir sorvete e confeitaria (como donuts e brownies) é uma tendência mostrada durante a Sigep 2024, a maior feira de gelados comestíveis do mundo, realizada ano passado em Rimini (Itália). Sorvetes à base de queijo (como ricota, mascarpone e cheese cake) e sabores florais (lavanda, por exemplo, em caldas ou recheios) também apareceram.
Collabs e parcerias entre marcas também são tendência. Já há vários exemplos na indústria nacional ou gaúcha. A Froneri, uma joint-venture entre Nestlé e R&R voltada ao segmento de sorvetes, anunciou em dezembro a chegada dos picolés inspirados em bombons clássicos da Garoto. A mesma Froneri já tinha lançado, com a Mondelez, um mini bombom de sorvete de baunilha coberto com biscoito Oreo.
Em outubro do ano passado, a Sorvetes Rochinha, tradicional marca paulista, se uniu à Pipó, pioneiro no segmento de pipocas gourmet, no lançamento do primeiro picolé de pipoca do País, combinado sorvete de iogurte, cobertura de chocolate branco e pipoca doce vermelha caramelizada. A gaúcha Sorvebom, de Lajeado, colocou bem recentemente no mercado o sabor Doce de Leite Mu-Mu, um produto desenvolvido em collab com a também gaúcha Neugebauer, dentro de uma linha premium.
As novidades no Estado
Sorvebom, que produz sorvetes e picolés, aposta em ações como logística reversa e captação de água da chuva
Sorvebom/Divulgação/JCDoBom (Três Passos): o açaí é a aposta desta temporada em picolés recheados, com coberturas e potes com tamanhos diferentes. Flocos, chocolate e napolitano são os sabores que mais vendem. Atuam no Noroeste.
Doce Deleite (Cachoeira do Sul): investiu na inclusão do bufê de açaí junto com o de sorvetes tradicionais, sendo 8 variedades de açaí mesclados com frutas e sorvetes. Os campeões de venda são o doce de leite com flocos e o ninho trufado. Atua na Região Central.
Gemelli (Lajeado): os lançamentos são na linha de picolés cremosos e de frutas. O sabor de maior sucesso é o napolitano, seguido do flocos.
Obah Sorvetes (POA): linha de sabores refrescantes e tropicais, como abacaxi, morango e uva, com menos açúcar, atendendo às tendências de consumo saudável. Os sabores de mais sucesso da marca são o pistache e o morango com leite condensado. Produtos encontrados em Capão da Canoa e Tramandaí.
Sabory (Encantado): a aposta é no sabor pistache e picolés especiais com novas coberturas. Os destaques são os potes Marta Rocha e chocolate trufado, que podem ser encontrados em todo o Litoral Norte.
Sorvebom (Lajeado): são novidade o Fruttis (framboesas congeladas e cobertas com chocolate branco e chocolate ao leite), Mag Bombom e Mini Mag (pack com 8 mini picolés extrusados de baunilha com cobertura de chocolate). A Linha Premium também tem novos sabores: Bicancotella, Chocolove, além do Doce de Leite Mu-Mu. Está presente no Litoral em sorveterias e açaiterias, além de duas lojas franqueadas, em Tramandaí e em Capão da Canoa.
Tamaju (Pelotas): as apostas são os produtos zero calorias ou lights, além do açaí. Os sabores mais pedidos são o napolitano e o flocos. Pode ser encontrada no Litoral Sul.
Tamy (Bagé): a novidade deste verão é o sorvete no palito inspirado no biscoito Oreo. O sabor mais vendido na empresa é de açaí, seguido pelo napolitano. Atendem sul, centro e oeste do Estado. Planejam estar no Litoral em breve, garante o diretor, André Da Croce.
Trivialy (Viamão): os sabores de chocolate belga e napolitano, ambos à base de aveia, são as novidades na linha vegana. Entre os potes, as apostas estão nos sabores tropical e triplo chocolate, Maxxi pudim e menta com chocolate. Para os fãs de picolé, os lançamentos são o de Milho,e o napolitano zero açúcar. No Litoral Norte, os produtos podem ser encontrados em mercados, padarias e lojas de conveniência.
Apostas locais para o verão 2025 refletem tendências mundiais
Gian Lisboa destaca o sucesso do sabor pistache na Gut Sorvetes
GUT/Divulgação/JCPipoca com sorvete: a novidade apareceu nas edições 2024 da Sigep e da ISM, realizadas em Rimini (Itália) e Colônia (Alemanha), respectivamente, no ano passado. A Sigep é a maior feira de gelados comestíveis do mundo, e a International Sweet & Snacks (ISM) 2024 é a mais importante feira global de segmentos da confeitaria, incluindo sorvetes.
A combinação pode ser conferida em uma das mais tradicionais sorveterias do Litoral Norte gaúcho, a Gelf's, em Capão da Canoa, precursora do modelo bufê.
"Estamos investindo nesta novidade e acreditamos que será tendência", comenta a proprietária, Alessandra de Jesus Agliardi.
Na Gelf's a cobertura pipoca com caramelo caiu no gosto da freguesia
Gelfs/Divulgação/JC
Com 40 anos completados no ano passado, a Gelf's aumenta sua produção em cinco vezes na temporada de verão. Estão em Capão três lojas, além da fábrica. Pistache e Ninho trufado são os sabores de maior sucesso da marca. Para o verão de 2025, ela resume as novidades:
"Na loja, melhoramos o externo, trocamos as mesas e cadeiras para proporcionar mais conforto para nossos clientes. Nos produtos, temos cobertura de calda quente de pistache e chocolate dark casquinha e cascão de sorvete expresso. No bufê, temos novas coberturas de pipoca caramelizada e pipoca com chocolate".
Estudo de 2024 da Fispal Sorvetes em parceria com a Abrasorvete e a Agagel destaca a sustentabilidade entre as áreas prioritárias para investimentos futuros, refletindo uma tendência mundial na indústria de alimentos e bebidas. Os consumidores estão mais atentos ao impacto ambiental e social dos produtos que consomem.
Marcando presença no Litoral Norte pela terceira oportunidade, agora com um centro de distribuição em Imbé, a Gut é pioneira no Estado em priorizar questões de sustentabilidade. É da marca o Biogut, um pote biodegradável que decompõe em 12 anos. "O carro-chefe realmente são os nossos produtos que vão na embalagem verde", destaca Gian Lisboa, CEO da empresa fundada pelos pais dele, há 42 anos em Candelária. São 700 pontos de venda no Estado.
"Num aterro sanitário, o pote tradicional de plástico demora até 450 anos para se decompor. O nosso pote é um símbolo que representa todas as ações sustentáveis que a empresa tem", conclui. O BioGut foi pensado em 2018.
"Foi batendo na mesma tecla que a gente conseguiu fazer com que as pessoas entendessem o potencial. A consciência está mudando e eu fico muito feliz por fazer parte disso", comenta Lisboa. A Gut tem como campeões de preferência os sabores chocolate e flocos. Entretanto, ele afirma que essa tradição vem perdendo força nos últimos anos, com destaque para os sabores açaí, pistache e Ninho trufado.
O que impulsiona o mercado nacional, segundo a Abrasorvete
Utilização de confeitos se tornou obrigatório nos bufês
Sergejs Rahunoks/racool studio/freepik/jcInovação: a indústria tem investido em novos sabores, texturas e ingredientes, buscando surpreender paladares mais exigentes.
Diversificação: há opções para todos os gostos e necessidades entre os produtos oferecidos, incluindo veganos, sem lactose e com ingredientes funcionais, entre os quais, os sorvetes protéicos.
Facilidade de acesso: há investimentos em diferentes canais de venda, como supermercados, lojas especializadas, food trucks e aplicativos de delivery, a fim de facilitar o acesso dos consumidores aos produtos.
Desafios
Conforme estudo da Fispal Sorvetes em parceria com a Abrasorvete e a Agagel, a sazonalidade é a principal preocupação para 56,7% dos respondentes da pesquisa divulgada ano passado "O sorvete quer falar: panorama da indústria do sorvete".
95% do mercado brasileiro de sorvete é composto de empreendedores que ainda são novos no setor, segundo a Abrasorvete.
R$ 15 bilhões é o faturamento anual do setor, de acordo com dados da ABIS (Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes).
300 mil é a estimativa de colaboradores ligados direta ou indiretamente ao setor, segundo a ABIS. São mais de 11 mil empresas no país.
Curiosidades gerais
Açaí conquista espaço no mercado de sorvetes do RS
Freepik/Divulgação/JCO TasteAtlas divulgou em 2024 um ranking com os 100 melhores sabores icônicos no mundo. Pela segunda vez consecutiva, o sorvete de açaí da Sorveteria Cairu, de Belém (PA), está entre os escolhidos (36ª lugar) . E o de tapioca, da sorveteria Da Ribeira, de Salvador (BA), ficou na 37ª posição.
No final de 2023, a marca mineira de sorvetes Sol & Neve informou ter lançado o primeiro sorvete cocriado com inteligência artificial, o SN3V3 IA. O comando a um chatbot online foi criar um sorvete tipicamente brasileiro. O resultado: sorvete de cacau brasileiro com castanha de caju caramelizada com rapadura e finalizada com geleia de pimenta dedo de moça.
US$ 111,62 bilhões é o tamanho estimado do mercado de sorvetes no mundo. O setor deve atingir US$ 135,60 bilhões até 2029, segundo relatório da Morder Intelligence (mordorintelligence.com).
28,4 litros por pessoa ao ano é a média de consumo de sorvetes na Nova Zelândia, país que mais consome o produto no mundo, de acordo com o World Population Review. Em segundo lugar, vêm os EUA.
80% da quota de mercado global de máquinas de sorvete é da Itália, líder mundial na exportação de equipamentos de alto desempenho.
No final de 2023, a marca mineira de sorvetes Sol & Neve informou ter lançado o primeiro sorvete cocriado com inteligência artificial, o SN3V3 IA. O comando a um chatbot online foi criar um sorvete tipicamente brasileiro. O resultado: sorvete de cacau brasileiro com castanha de caju caramelizada com rapadura e finalizada com geleia de pimenta dedo de moça.
US$ 111,62 bilhões é o tamanho estimado do mercado de sorvetes no mundo. O setor deve atingir US$ 135,60 bilhões até 2029, segundo relatório da Morder Intelligence (mordorintelligence.com).
28,4 litros por pessoa ao ano é a média de consumo de sorvetes na Nova Zelândia, país que mais consome o produto no mundo, de acordo com o World Population Review. Em segundo lugar, vêm os EUA.
80% da quota de mercado global de máquinas de sorvete é da Itália, líder mundial na exportação de equipamentos de alto desempenho.
*Loraine Luz é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), atua como freelancer desde 2007, depois de 12 anos de experiência em redação de jornal impresso