Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Reportagem Especial

- Publicada em 06 de Agosto de 2023 às 16:03

Agenda ESG completa 20 anos em meio a desafios

Iniciativas tornam empresas mais bem preparadas para lidar com expectativas e exigências do mercado

Iniciativas tornam empresas mais bem preparadas para lidar com expectativas e exigências do mercado


/freepik/divulgação/jc
Meio ambiente, governança e social. Ou environmental, social and governance. Qualquer que seja a língua em que a sigla ESG esteja, ela significa boas práticas sustentáveis que empresas de capital aberto podem adotar, aliadas à gestão de risco. Outros tipos de companhias também têm ações voltadas à preservação do planeta.
Meio ambiente, governança e social. Ou environmental, social and governance. Qualquer que seja a língua em que a sigla ESG esteja, ela significa boas práticas sustentáveis que empresas de capital aberto podem adotar, aliadas à gestão de risco. Outros tipos de companhias também têm ações voltadas à preservação do planeta.
O termo ESG foi criado em 2004 pelo Pacto Global, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) com o Banco Mundial e tem como meta encorajar a adoção de políticas de responsabilidade social e corporativa e sustentabilidade em empresas.
Elas podem ser expressas em objetivos como equidade de gênero em todos os níveis de gerência, redução de emissão de carbono, aproveitamento total de resíduos sólidos e recursos, dentre outros que respeitem os direitos humanos e a sustentabilidade do planeta.
Quase duas décadas depois do termo, "as empresas brasileiras ainda não têm práticas totalmente implementadas, embora possuam potencial", analisa o presidente do grupo de Líderes Empresariais do Rio Grande do Sul (Lide-RS), Eduardo Fernandez.
As práticas de sustentabilidade adotadas em modelos de negócios auxiliam todo um ecossistema empresarial, adequando a cadeia produtiva aos requisitos globais. Isso significa que, além da empresa matriz, as práticas sustentáveis de seus fornecedores também são levadas em conta na hora da tomada de decisões em parcerias e contratos, explica o analista de risco de ESG da Sicredi, Erik Heinski.
A quantificação destas práticas é realizada por analistas de dados que fazem a análise de risco de uma empresa - e a implementação de ações sustentáveis conta pontos no mercado, além de acompanhar políticas de bem estar geral no ambiente de trabalho.

Leia mais: Cresce o movimento empresarial no caminho do capitalismo consciente

O Pacto Global da ONU, inclusive, define a adoção de iniciativas por uma companhia como a "indicação de solidez, custos mais baixos, melhor reputação e maior resiliência em meio às incertezas e vulnerabilidades".
Pela definição estrita, somente praticam o ESG empresas presentes atuantes no mercado financeiro, explica a professora Maira Petrini, da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul. Isso se deve por conta das ações imperativas que regulam o mercado, já que só a prática regulamentada pode ser considerada.
No Brasil, são duas as estratégias do mercado para a regulação, realizadas pela B3 - bolsa de valores brasileira - e pelo BTG Pactual - banco brasileiro de investimentos. Globalmente, a Black Rock - empresa de gestão de ativos e investimentos - também inclui métricas ESG em todas as suas análises de risco.
Embora só as empresas de capital aberto sejam consideradas para a análise de métricas, isso não impede as empresas ainda menores de realizar ações de sustentabilidade, continua Maira. Por meio destas práticas, elas podem aumentar seu nível de competitividade em mercados internacionais, por exemplo, além de alinhar seus propósitos com o desenvolvimento sustentável do planeta.
Além do incentivo de mercado, um levantamento realizado em 2019 pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), afirma que 87% dos brasileiros preferem empresas com práticas sustentáveis. O mercado consumidor, termina Maira, é um balizador importante para o comportamento das empresas.
Por maior que seja o papel do ESG no mundo, no Brasil, somente empresas vinculadas ao mercado financeiro - empresas de capital aberto, bancos e cooperativas de crédito - têm normas regulamentadas para práticas do ESG partindo do Banco Central. Desta forma, é necessária mais atenção de gestores públicos na hora de implementar políticas de regulação de entidades empresariais, indica Fernandez.
Mas a falta de entendimento não é presente somente no governo. A mentalidade de gestores é apontada como uma dificuldade na hora de aplicar essas práticas sustentáveis. "A grande dificuldade é que o tema é mais visto como custo do que como benefício", reclama Fernandez. Mesmo assim, qualquer empresa pode se inscrever no Pacto Global da ONU, caso tenha os requisitos necessários, e integrar a rede de 16 mil empresas no mundo. 

Pensar global, agir local

Mudanças climáticas precisam estar no foco das companhias e organizações

Mudanças climáticas precisam estar no foco das companhias e organizações


/TÂNIA MEINERZ/JC
Em um ano marcado por eventos climáticos extremos decorrentes do aquecimento global e de eventos intensificados pela ação humana, resta a pergunta do papel das empresas diante da crise climática emergente.
O professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e pesquisador em ESG Ricardo Alves comenta que os eventos climáticos extremos, como ciclones tropicais, secas e chuvas, ameaçam a produção de empresas e demais companhias, aumentando o risco delas no mercado. "Isso significa que as empresas que conseguem lidar com os efeitos do clima sinalizam para seus investidores que são empresas sólidas, seguras e compromissadas com o futuro do planeta", completa Alves.
Desta forma, as empresas devem realizar práticas adequadas tanto para a gestão dos riscos oferecidos pela emergência climática - se há desastres naturais que impossibilitam a produção de determinado objeto, este não integrará o mercado, por exemplo - quanto para a sua própria sobrevivência no ecossistema das companhias.
As companhias também devem estar preparadas para os próximos eventos climáticos, conforme diz o pesquisador. "Já que agora são três anos de chuva, deveria ser pensado em quais estratégias temos para minimizar os efeitos quando voltarem as secas", exemplifica Alves.
O ESG, então, significa intenso planejamento de empresas. Na mesma linha de pensamento, as análises de risco devem estar voltadas aos aspectos sociais, além dos ambientais. O professor cita casos de empresas que realizaram a gestão de crise por casos de atentado contra os direitos humanos em suas dependências.
Um exemplo comentado por ele é o do Carrefour - que, em novembro de 2021, uma das lojas na Zona Norte de Porto Alegre foi o palco do assassinato de um homem negro por dois seguranças terceirizados contratados pela multinacional.
Alves comenta que os efeitos da terceirização do trabalho fazem com que as empresas percam de vista o que ocorre em suas dependências - o que fere os princípios das práticas sustentáveis. Assim, esta forma de administração deve ser revista quando passa por cima de patamares aceitáveis.
Para mitigar os efeitos da crise climática, é necessário que os esforços estejam distribuídos por todos os cantos do globo terrestre. Assim, cada ponto local tem sua importância na hora de preservar a Terra. "É aquela frase: pensar global, agir local, não temos para onde fugir", completa o professor. Setores de movimentos ambientalistas reivindicam esta frase, adicionando o slogan de que não existe planeta B.

Leia mais: Capitalismo consciente vai muito além do lucro

Redes de produção crescem com práticas ambientais


/freepik/divulgação/jc
Além de instituições do mercado financeiro, as multinacionais - ou empresas de capital aberto - também devem se adequar às práticas ESG. As regulações impositivas são realizadas por instituições que incidem sobre as ações na bolsa de valores. Um exemplo delas é a Gerdau, empresa produtora de aço com matriz em terras gaúchas.
De acordo com informações da companhia, 71% da produção do aço é realizada a partir de materiais reciclados - a chamada sucata. Por parte da cadeia de produção, os fornecedores também são chamados a exercerem ações sustentáveis. "Estabelecemos novas cláusulas ESG para contratações realizadas pelo time de suprimentos no Brasil", explica Cenira Nunes, gerente geral de meio ambiente da Gerdau.
Nas atividades de justiça social, a meta estabelecida pela Gerdau para auxiliar na igualdade de gênero é ter 30% de mulheres em cargos de liderança em 2025. A ODS 5 da ONU é a relacionada à igualdade de gênero e tem como objetivo "garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública". A empresa também conta com um programa interno de fomento à diversidade e à inclusão, chamado Inspire Gerdau.
Outra multinacional com ações de sustentabilidade é a CMPC Empresas, que comprou a fábrica Celulose Riograndense e produz celulose na cidade de Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre, e tem atuação em outros locais do estado.
O diretor-geral da companhia, Mauricio Harger, conta que a sede de Eldorado do Sul serve como centro de reciclagem da empresa. "Lá, os resíduos são transformados em 13 novos produtos, que vão desde matéria-prima para fabricação de cimento, adubos e fertilizantes até insumos para painéis de madeira", complementa.
Em conformidade com os movimentos globais, a CMPC manifesta planos de diminuição do uso de água nos processos industriais - uma diretriz estabelecida pelos movimentos globais de preservação do meio ambiente para poupar os recursos naturais - até 2025 e planeja, até o fim de 2030, cortar pela metade a emissão de gases causadores de efeito estufa e aumentar em 100 mil hectares as áreas de conservação natural.

Leia mais: ESG entra nas prioridades dos operadores logísticos

 

Mercado financeiro tem normativas sobre ESG desde 2014

 Heinski diz que é preciso se adequar

Heinski diz que é preciso se adequar


/Felipe Vargas/Agencia Preview/Divulgação/JC
Foi em 2014 a primeira resolução do Banco Central para adequar as instituições financeiras na chamada Política de Responsabilidade Socioambiental. As empresas, para se adequar ao compliance, devem ter regularizado suas práticas até 2015.
"O mercado financeiro tem um controle muito grande dos fiscalizadores pela lei e pelos consumidores", comenta o analista de risco ESG Sênior da Sicredi, Erik Heinski. Essa é a aliança com o bem-estar social e com as práticas de economia verde que as empresas podem realizar.
Em convergência com pesquisadores da área, Heinski considera que essas práticas têm dois focos: o gerenciamento de riscos e o gerenciamento das práticas sustentáveis.
Os dois possibilitam, para a empresa, o acesso a novos mercados estrangeiros e a construção de relacionamento com outras instituições financeiras, já que a tendência é a expansão. Um relatório realizado pela Morningstar e pela Capital Reset apontou que fundos ESG captaram R$ 2,5 bilhões em 2020.
O trabalho de Heinski consiste na análise e levantamento de dados sobre ESG para a padronização das informações. Ele comenta que, desta forma, "é possível contemplar todo o ciclo de operação que se realiza".
A área de sua profissão, de acordo com estudo realizado pelo Fundo Econômico Mundial e pela Fundação Dom Cabral, é considerada como o "trabalho do futuro", com previsão de abertura de 1 milhão de vagas mundialmente até 2027 relacionadas à sustentabilidade.
Por meio de questionários de risco, estratégias de geoprocessamento, dentre outras táticas, os analistas podem avaliar o quanto as normas de ESG estão sendo cumpridas, além de conseguir planejar iniciativas sustentáveis para determinado local. Na hora de contratar fornecedores ou outros prestadores de serviços, a adoção de práticas sustentáveis devidamente quantificadas é um indicador positivo.
Questionado se as normas de regulação favoreceram a adoção de práticas ESG, Heinski assente. "Para continuarmos no mercado, tivemos que nos adequar", completa. Estas resoluções são inexistentes em outros ramos - e as empresas que realizam as ações se adequam por conta própria.
 

Pequenas e médias empresas integram ecossistema sustentável

 Maria Fernanda e Anna Laura  apontam a mudança de cultura como um desafio

Maria Fernanda e Anna Laura apontam a mudança de cultura como um desafio


/ANA TERRA FIRMINO/JC
Vendas de automóveis, consórcios e seguros são alguns dos serviços oferecidos pelo Grupo Sinosserra, empresa gaúcha com lojas em diferentes cidades do estado. Em Porto Alegre, na avenida Sertório, a loja Guaibacar, que faz a revenda de automóveis, é a terceira do grupo a implementar práticas sustentáveis.
Dentro do estabelecimento, o lixo produzido é separado de acordo com a coleta seletiva: metal, plástico, vidro, papel e orgânico. As peças e outros tipos de materiais sobrantes também são posteriormente reciclados por trabalhadores do entorno, o que integra as atividades de economia circular.
A loja também conta com a construção de 248 módulos de placas solares para a substituição da maioria da matriz energética da loja e para a diminuição da pegada de carbono, que é alta por conta da circulação de carros. As ações contam com um alto nível de planejamento.
Os painéis solares, para gerar o "payback" - retorno do investimento realizado na instalação das placas - devem demorar cerca de quatro anos, explica a gerente de bens e imóveis, Maria Fernanda Pezzi. "As práticas sustentáveis são uma questão de perpetuação no mercado. Se inicia com uma base mais estruturada, é mais fácil escalar", explica a gerente.
O projeto de economia circular visa recolocar os objetos que teriam um fim no descarte. Isto é, ao invés de ser realizada um percurso linear do resíduo - compra, uso, descarte -, este é reintegrado à cadeia produtiva por meio da reciclagem. Esta prática pode reduzir a quantidade de matéria-prima extraída da natureza, reduzindo os impactos ambientais e o desperdício.
Na GuaibaCar, a economia circular é realizada por parceiros, recicladores do entorno, galpões de reciclagem, que realizam a reciclagem de acordo com a especificidade do produto.
São vários parceiros: quem recolhe os resíduos perigosos e recicláveis, quem leva o thinner - um tipo de material inflamável -, quem faz coleta de óleo da resina e da funilaria, e o responsável pela logística reversa das embalagens do óleo.
Os projetos sociais já eram foco da empresa, comenta Anna Jacobs, analista de inovação. "O Grupo Sinosserra apresenta trabalho social praticamente desde a sua fundação. Faltava só aliar o pilar ambiental a isso", explica Anna.
Essa mudança de visão de negócios ocorreu no ano de 2021, quando a adoção de práticas sustentáveis foi formalmente integrada ao grupo. Tanto Anna quanto Maria Fernanda frisaram que os parceiros contratados para reciclar o lixo só foram admitidos após a checagem da "idoneidade do destino do lixo". Afinal, prezar por boas práticas sustentáveis é um trabalho que requer honestidade e transparência.
Mesmo com a mudança nas práticas da gestão, uma das maiores dificuldades na implementação de práticas ambientais, de acordo com Anna e Maria Fernanda, foi a mudança de cultura de algumas partes do corpo que integra a empresa. A resistência na mudança de mentalidade para pensar em sustentabilidade é algo a ser superado.

Centro de Porto Alegre entra na rota da sustentabilidade

Pop Center passou a integrar recentemente o Pacto Global da ONU e investe em energia solar renovável

Pop Center passou a integrar recentemente o Pacto Global da ONU e investe em energia solar renovável


/ANA TERRA FIRMINO/JC
O Shopping Pop Center está localizado no coração de Porto Alegre. O prédio da Avenida Mauá, 1651, conta com 800 lojas e surge como uma alternativa do comércio não regularizado de rua da cidade, já que tradicionalmente serve como posto a ambulantes, camelôs e outros comerciantes de rua.
A CEO do estabelecimento, Elaine Deboni, comenta que o propósito do Pop é "transformador, mas sofre preconceito porque é criado por pessoas discriminadas na sociedade". O "S" de "social" da sigla de boas práticas sustentáveis, avalia Elaine, está presente desde a fundação do prédio. O que faltava era integrar ao projeto a parte de sustentabilidade relacionada ao meio ambiente.
O Pop Center passou a integrar recentemente o Pacto Global da ONU. Isso significa que é uma das empresas que cumprem com as normas sustentáveis. Para isso, foram instalados painéis solares no terraço, em uma parceria com os lojistas, e realizada a reciclagem de resíduos sólidos. As informações da loja é que o shopping cumpre com 10 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Até projetos de residências artísticas são realizados nas dependências do shopping, "com o propósito de levar a arte e a cultura para todos", argumenta Elaine.
Para estar em redes de desenvolvimento sustentável, a empresa conta, além da geração de energia limpa, com um plano de reciclagem dos resíduos sólidos - do conceito de economia circular. A CEO comenta que mais da metade do lixo produzido em loja é reciclado por cooperativas, recicladores autônomos e empresas contratadas.
 

Conceito faz parte de um debate global sustentável

Maira diz que, mesmo que práticas não sejam obrigatórias, elas são valorizadas pelo público consumidor

Maira diz que, mesmo que práticas não sejam obrigatórias, elas são valorizadas pelo público consumidor


/TÂNIA MEINERZ/JC
As práticas de ESG fazem parte de um debate global pelo desenvolvimento sustentável do planeta, mas não são todas as empresas que têm os requisitos necessários para implementar. "O ESG, na prática, é um recorte dentro desse grande guarda-chuva que olha especificamente para o mercado financeiro", declara a professora da Escola de Negócios da Pucrs Maira Petrini. Ela reclama que essa confusão na delimitação dos termos leva muitos a não entenderem.
No recorte do mercado, Maira explica que o gestor de ativos valoriza as ações porque, na ponta da cadeia, o público consumidor pressiona as empresas a terem práticas ambientais e sociais. Ela comenta que a mudança de cultura vem junto com a mudança das gerações.
Mesmo que as empresas menores não realizem, por definição, ESG, elas podem implementar ações sustentáveis e voltadas ao meio ambiente para que, no futuro. "As práticas sustentáveis ajudam a valorizar o negócio dela quando for realizar a abertura de capital", explica a professora. Ela comenta que, quando realiza consultorias para startups e microempreendedores - formas de empresa que não têm ações pulverizadas - os conceitos são explicados e que, mesmo que as empresas não abram o capital, as práticas sustentáveis são valorizadas pelo público consumidor.
 

Brasil ainda não avança na pauta como deveria

Fernandez adverte que a agenda ESG não é modismo, e sim uma grande necessidade do mercado internacional

Fernandez adverte que a agenda ESG não é modismo, e sim uma grande necessidade do mercado internacional


/TÂNIA MEINERZ/JC
Embora o ESG tenha três pilares importantes na sigla Ambiental, Social e Governança, algumas práticas empresariais focam somente no primeiro. Essa é a avaliação do presidente do Grupo de Líderes Empresariais do Rio Grande do Sul (Lide-RS) e empresário, Eduardo Fernandez.
Ele menciona também sobre o desconhecimento, por parte de setores empresariais, dos termos de mercado de crédito de carbono, gestão de resíduos, gestão de eficiência energética, trabalho com a diversidade para geração de impactos em comunidades. Isso tudo, ao invés de ser visto como algo que pode melhorar o futuro das empresas, é considerado muito dispendioso, na contramão mundial das tendências de mercado.
No cenário do Rio Grande do Sul, Fernandez avalia que as empresas gaúchas que trabalham somente no mercado regional estão num nível abaixo de implantação de práticas do resto do mundo. "Não é um modismo, as grandes discussões globais estão baseadas nos temas ambientais, sociais e de governança", argumenta.
Caso a empresa queira entrar em mercados internacionais que são regulados por práticas de ESG - como é o caso de setores produtivos da Europa, por exemplo - sua exportação pode ser barrada se não estiver adequada aos parâmetros.
 

Regulamentações do mercado para ESG

  • Índice Brasil ESG: O Índice S & P/B3 Brasil ESG é um índice amplo que procura medir a performance de títulos que cumprem critérios de sustentabilidade e é ponderado pelas pontuações ESG da S & P DJI. O índice exclui ações com base na sua participação em certas atividades comerciais, no seu desempenho em comparação com o Pacto Global da ONU (UNGC em inglês) e também em empresas sem pontuação ESG da S & P DJI.
Fonte: B3
  • BTG Pactual: O BTG Pactual lançou o ETF (ESGB11), fundo de índice negociado em bolsa que considera aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) das empresas constituintes. O ESGB11 replica a carteira do índice S & P/B3 Brasil ESG.
Fonte: Pacto Global
  • Black Rock: A maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock, com mais de US$ 6 trilhões em carteira, passou a incluir em 2020 métricas ESG, transversalmente, em todas as suas análises de riscos.
Fonte: Pacto Global

Explicando conceitos

  • Agenda 30: A Agenda 2030 da ONU é um plano global para atingirmos em 2030 um mundo melhor para todos os povos e nações. A Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York, em setembro de 2015, com a participação de 193 estados membros, estabeleceu 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. O compromisso assumido pelos países com a agenda envolve a adoção de medidas ousadas, abrangentes e essenciais para promover o Estado de Direito, os direitos humanos e a responsividade das instituições políticas.
Fonte: Supremo Tribunal Federal.
  • Pacto Global da ONU: O Pacto Global não é um instrumento regulatório, um código de conduta obrigatório ou um fórum para policiar as políticas e práticas gerenciais. É uma iniciativa voluntária que fornece diretrizes para a promoção do crescimento sustentável e da cidadania, por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras.
Fonte: Pacto Global

Quais são os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)?

As práticas de ESG estão relacionadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
  1. Erradicação da pobreza: Erradicar a pobreza em todas as formas e em todos os lugares
  2. Fome zero e agricultura sustentável: erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável
  3. Saúde e bem-estar: Garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
  4. Educação de qualidade: Garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
  5. Igualdade de gênero: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas
  6. Água potável e saneamento: Garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água potável e do saneamento para todos
  7. Energia limpa e acessível: Garantir o acesso a fontes de energia viáveis, sustentáveis e modernas para todos
  8. Trabalho decente e crescimento econômico: Promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos
  9. Indústria, inovação e infraestrutura: Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
  10. Redução das desigualdades: Reduzir as desigualdades no interior dos países e entre países
  11. Cidades e comunidades Sustentáveis: Tornar as cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis
  12. Consumo e produção responsáveis: Garantir padrões de consumo e de produção sustentáveis
  13. Ação global contra a mudança do clima: Adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos
  14. Vida na água: Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
  15. Vida terrestre: Proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda da biodiversidade
  16. Paz, justiça e instituições eficazes: Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis
  17. Parcerias e meios de implementação: Reforçar os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável
Fonte: Organização das Nações Unidas (ONU)