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Internacional

- Publicada em 29 de Abril de 2021 às 12:56

Navalny aparece mais magro, cansado e de cabeça raspada em 1º vídeo após greve de fome

Ativista está preso desde janeiro, acusado de violar os termos de sua liberdade condicional

Ativista está preso desde janeiro, acusado de violar os termos de sua liberdade condicional


Moscow's Babushkinsky district court press service/HANDOUT/AFP/JC
Alexei Navalny, 44, principal opositor de Vladimir Putin, voltou a fazer denúncias contra o sistema judiciário e contra o presidente russo nesta quinta-feira (29), durante sua primeira aparição em vídeo desde que encerrou uma greve de fome, na semana passada, após 24 dias.
Alexei Navalny, 44, principal opositor de Vladimir Putin, voltou a fazer denúncias contra o sistema judiciário e contra o presidente russo nesta quinta-feira (29), durante sua primeira aparição em vídeo desde que encerrou uma greve de fome, na semana passada, após 24 dias.
O ativista, cujas declarações e rede de apoiadores vêm gerando dores de cabeça ao Kremlin, perdeu 22 kg nesse período, segundo um de seus advogados. Nesta quinta, ele participou por vídeo de uma audiência no caso em que é acusado de difamar um veterano russo da Segunda Guerra Mundial.
Navalny disse que foi levado para tomar banho e parecer "decente" durante a audiência. "Eu me olhei no espelho. Claro, sou apenas um esqueleto horrível", disse ele, acrescentando que agora pesava 72 kg, o mesmo peso de quando estava na escola.
Sobre sua alimentação, o opositor disse que tinha conseguido comer apenas quatro colheres de mingau na quarta-feira (28) e que tomar 10 colheradas seria um avanço. "Há quatro dias que peço um pouco de maçã, mas a questão ainda não foi resolvida", disse ele, insinuando maus-tratos que estaria recebendo na prisão. "Mas mingau - o quanto você quiser."
Visivelmente mais magro, com a cabeça raspada e parecendo cansado, Navalny manteve o tom desafiador e partiu para o ataque a Putin, reiterando acusações de corrupção, e ao Judiciário, exigindo que os promotores responsáveis pelo seu caso sejam levados à Justiça criminal.
"Quero dizer à querida corte que seu rei está nu", disse ele em referência ao líder russo. "Milhões de pessoas já estão gritando sobre isso, porque é óbvio. Sua coroa está pendurada e escorregando. Seu rei nu e ladrão quer continuar governando até o fim. Mais 10 anos virão, uma década roubada virá."
Navalny está preso desde janeiro, acusado formalmente de violar os termos de sua liberdade condicional ao sair do país, ainda que a saída tenha ocorrido sob uma justificativa médica -ele estava em coma.
Em fevereiro, no entanto, ele foi considerado culpado de difamar um militar russo que combateu na Segunda Guerra e que participou de um vídeo em apoio às reformas constitucionais no ano passado -um referendo autorizou a mudança que deu a Putin o direito de concorrer a mais dois mandatos no Kremlin e permanecer no poder até 2036.
Navalny descrevera as pessoas que aparecem no material promocional como traidores e lacaios corruptos, mas se defendeu dizendo que os comentários não foram dirigidos especificamente contra o veterano -na Rússia, é crime ofender aqueles que são considerados heróis de guerra.
A pressão crescente sobre Navalny, além de ter levado à sua prisão, também se traduziu em centenas de detenções a pessoas que participaram de manifestações contra o governo de Putin e operações policiais nas sedes das organizações ligadas a ele e até nas casas de seus colaboradores, o que a oposição denuncia como uma perseguição judicial com o objetivo de silenciá-la.
Nesta quinta, Leonid Volkov, um dos principais aliados de Navalny, publicou um vídeo no YouTube em que anuncia a suspensão das atividades de escritórios regionais da Fundação Anticorrupção (FBK, na sigla em russo), fundada pelo opositor.
"Estamos oficialmente dissolvendo a rede Alexei Navalny", disse Volkov, indicando, no entanto, que alguns escritórios de outros grupos ligados ao adversário do Kremlin manterão suas atividades de forma independente.
A dissolução das organizações obedece a uma decisão da Justiça que, na segunda-feira (26), determinou a suspensão com base em um processo em que os promotores pedem o banimento definitivo dos grupos, sob acusação de extremismo. O Judiciário russo é nominalmente independente, mas as decisões frequentemente estão alinhadas aos interesses do Kremlin.
O termo "extremismo" tem uma definição muito ampla na lei russa e permite às autoridades lutar contra organizações de oposição, facções racistas ou terroristas, como o Estado Islâmico, bem como grupos religiosos como as Testemunhas de Jeová.
O fim da FBK e de outros grupos ligados a Navalny ainda não é certo, já que a Justiça, em tese, ainda está analisando o caso para uma decisão definitiva. Se condenadas, as organizações ficarão proibidas de participar das eleições, organizar protestos ou publicar qualquer conteúdo na internet. Além disso, as autoridades terão poder legal para prender seus colaboradores e congelar suas contas bancárias.
"Manter o trabalho da rede de Navalny em sua forma atual é impossível: isso imediatamente levaria a sentenças criminais para aqueles que trabalham na sede, que colaboram com eles e para aqueles que os ajudam", disse Volkov.
Ainda segundo seus aliados, Navalny também é alvo de um novo processo criminal, segundo o qual ele teria criado uma organização sem fins lucrativos que infringe direitos de cidadãos russos.
A FBK é conhecida por apontar casos de corrupção da elite política russa. Uma das produções da organização acusa Putin de possuir um luxuoso palácio às margens do Mar Negro. O vídeo publicado em janeiro de 2020 teve mais de 11 milhões de visualizações no YouTube e forçou Putin a negar a acusação.
Blogueiro e advogado, Navalny surgiu na cena pública nos protestos contra Putin em 2012. No ano seguinte, candidatou-se a prefeito de Moscou e conquistou 27% dos votos. Mas foi em 2017 que ele apareceu para o mundo, ao comandar via internet a convocação de uma jornada de protestos que uniu milhares nas ruas. Devido a acusações judiciais, foi impedido de concorrer contra Putin em 2018.
Passou então a uma outra tática: fomentar qualquer candidatura em nível regional contrária ao Rússia Unida, o partido governista. Ele logrou sucessos simbólicos nos pleitos locais de 2019 e 2020, e sua volta à Rússia era vista como uma preparação para o embate das eleições parlamentares de setembro. Agora, com ele preso, há a expectativa de que sua esposa, Iulia Navalnaia, ganhe destaque na oposição a Putin.
Navalny foi envenenado em agosto de 2020 e acusou diretamente Putin pela tentativa de assassinato. Ele foi tratado em Berlim, onde os médicos afirmaram ter encontrado em seu corpo traços de Novitchok, famoso veneno utilizado pelos serviços secretos russos.
Depois, Navalny divulgou a gravação de um trote que deu em um dos agentes do FSB (Serviço Federal de Segurança, sucessor da KGB) apontados como autores do ataque -nele, o espião acredita falar com um superior e admite ter colocado veneno na cueca do ativista no quarto de um hotel. O Kremlin nega qualquer envolvimento, e Putin ironizou que, se a Rússia quisesse matar Navalny, o teria feito.
O opositor foi preso em janeiro, ao voltar à Rússia depois de receber tratamento na Alemanha contra o envenenamento. O ativista é acusado formalmente de violar os termos de sua liberdade condicional ao sair do país, ainda que a saída tenha ocorrido sob uma justificativa médica -ele estava em coma.
Navalny teve uma sentença de prisão por fraude comutada em 2014, em uma ação que classifica como perseguição judicial. A Justiça russa confirmou em fevereiro a sentença do ativista anticorrupção. No total, foi condenado a três anos e meio de prisão, dos quais já cumpriu dez meses em regime domiciliar.

O caso Navalny

2012 - Alexei Navalny, blogueiro e advogado, surge na cena pública em protestos contra o presidente russo, Vladimir Putin
2013 - Candidata-se à Prefeitura de Moscou e conquista 27% dos votos; Serguei Sobianin foi eleito com 51,37% dos votos
2017 - O opositor ganha notoriedade mundial ao comandar via internet a convocação de uma jornada de protestos que levou milhares às ruas da Rússia; comissão eleitoral do país impede Navalny de concorrer contra Putin na eleição do ano seguinte por condenação, em 2013, de desvio de recursos em uma província
20 de agosto de 2020 - Navalny é internado em hospital da Sibéria por passar mal durante voo para Moscou e fica em coma; sua porta-voz diz que ele foi vítima de envenenamento, mas o chefe do centro médico diz que o diagnóstico é uma doença metabólica causada pelo baixo nível de açúcar no sangue
22 de agosto de 2020 - Após pressão, médicos recuam, e o opositor é transferido para um hospital em Berlim, na Alemanha
24 de agosto de 2020 - Médicos alemães responsáveis pelo tratamento de Navalny confirmam o envenenamento por uma substância que atua no sistema nervoso
2 de setembro de 2020 - Alemanha afirma que o líder opositor foi envenenado com Novitchok, grupo de agentes neurológicos desenvolvido pela União Soviética nos anos 1970 e 1980 e substância da mesma família do veneno identificado pelo Reino Unido, em 2018, no envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal; Kremlin nega envolvimento
7 de setembro de 2020 - Navalny sai do coma induzido, mas ainda depende da ajuda de um respirador artificial
15 de setembro de 2020 - Opositor publica primeira foto da recuperação em redes sociais, em que diz não precisar mais de aparelhos para respirar
23 de setembro de 2020 - Hospital dá alta para Navalny, que permanece na Alemanha
17 de dezembro de 2020 - Sob acusação, Putin diz, em tradicional entrevista coletiva anual, que se os serviços secretos da Rússia quisessem envenenar o líder opositor, "provavelmente teriam acabado com ele"
21 de dezembro de 2020 - Navalny divulga a gravação de um trote que deu em um dos agentes do FSB (Serviço Federal de Segurança, sucessor da KGB) apontados como autores do ataque no qual o espião acredita falar com um superior e admite ter colocado veneno na cueca do ativista no quarto de um hotel
17 de janeiro de 2021 - Líder opositor deixa a Alemanha, volta para Rússia e é preso ao desembarcar no aeroporto de Moscou, pois sua saída prolongada do país violou sua liberdade condicional de uma sentença por fraude suspensa em 2014
23 de janeiro de 2021 - Milhares vão às ruas na Rússia contra a prisão de Navalny em atos em cerca de cem cidades que acabam com ao menos 2.500 detidos
31 de janeiro de 2021 - Mais 5.600 manifestantes pró-Navalny são detidos em novos protestos
2 de fevereiro de 2021 - Justiça russa reativa sentença de 3,5 anos contra Navalny por violação da liberdade condicional; como já havia ficado 10 meses preso em casa após uma condenação inicial, ele cumprirá os dois anos e oito meses restantes numa colônia penal; audiência gera protestos no país e ao menos 1.200 são detidos, segundo ONG
5 de fevereiro de 2021 - Rússia expulsa diplomatas da Alemanha, da Suécia e da Polônia, sob acusação de que eles teriam participado de protestos em janeiro contra a prisão do líder opositor
8 de fevereiro de 2021 - Alemanha, Suécia e Polônia reagem e também expulsam diplomatas russos de seus países
14 de fevereiro de 2021 - No Dia dos Namorados na Rússia, apoiadores de Navalny organizam atos de protesto à luz de velas
20 de fevereiro de 2021 - Opositor sofre dupla derrota judicial após corte negar recurso contra sua prisão e o considerar culpado em caso de difamação contra um veterano da Segunda Guerra Mundial, aplicando multa de 850 mil rublos (R$ 61,8 mil) por calúnia e difamação
24 de fevereiro de 2021 - Navalny deixa centro de detenção em Moscou para ser transferido para colônia penal a 200 km da capital russa; segundo a agência de notícias russa RIA, ele chegou ao local quatro dias depois, em 28.fev
12 de março de 2021 - Líder opositor é transferido para outra colônia penal, sem conhecimento dos advogados
25 de março de 2021 - Navalny acusa guardas da colônia penal a 100 km de Moscou de o privarem de sono durante a noite, prática que ele compara à tortura, e terem negado acesso a tratamento médico adequado
31 de março de 2021 - O opositor inicia uma greve de fome por condições da prisão
17 de abril de 2021 - Médicos que o acompanham a distância disseram que ele poderia sofrer uma parada cardíaca a qualquer momento, devido à falta de nutrientes em seu corpo
19 de abril de 2021 - Navalny é transferido para unidade hospitalar
23 de abril de 2021 - O opositor encerra greve de fome, após 24 dias
26 de abril de 2021 - Justiça determina suspensão de atividades de organizações ligadas a Navalny
29 de abril de 2021 - Navalny faz primeira aparição em vídeo após fim da greve de fome, e seus apoiadores anunciam dissolução de organizações ligadas ao ativista
Folhapress
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