O opositor russo Alexei Navalny voltou neste domingo (17) à Rússia, 150 dias depois de ser envenenado na Sibéria e levado para tratamento na Alemanha.
Navalny chegou ao aeroporto de Cheremetievo, um dos três principais de Moscou, às 20h15min (14h15 em Brasília). Seu avião, que partiu de Berlim, iria pousar em Vnukovo, outro aeródromo da capital a 55 km dali, mas foi desviado a 15 minutos da chegada.
Não houve nenhuma explicação para o fato, apesar de parecer óbvia. A empresa Pobeda, que fazia o voo, afirmou que houve problemas técnicos em três de seus voos - uma desculpa.
Navalny deixou o avião e falou, segundo sites russos, com pessoas na fila da imigração. Queixou-se do desvio, "que colocou pessoas em risco", e se disse "absolutamente feliz". Chegando à cabine, foi detido ao apresentar seus documentos. Havia grupos de oficiais do Serviço Penitenciário Federal da Rússia à espera de Navalny em ambos os aeroportos, segundo a mídia russa.
Em dezembro, o serviço havia dito que seria "obrigado" a deter Navalny porque sua saída prolongada do país violava os termos de uma sentença por fraude suspensa em 2014. O opositor, que teve alta em setembro, diz que o processo é persecutório.
O terminal de Vnukovo estava sob forte proteção policial devido à presença de apoiadores de Navalny, que foram impedidos de entrar no prédio. Eles enfrentaram o frio de 20 graus negativos no aeroporto, que fica 30 km a sudoeste da capital. Em Cheremetievo, não havia ninguém esperando Navalny além dos oficiais.
Houve prisões de ativistas, já que a concentração é proibida por lei, segundo o site de monitoramento de abusos legais OVD-Info, mas sem grandes enfrentamentos. Havia dezenas de apoiadores de Navalny, que atenderam seu chamado para ser recebido.
O ativista, que é advogado e blogueiro, acusa o presidente Vladimir Putin diretamente pela tentativa de assassinato, algo que o líder russo nega. Sua volta visa criar um momento político em favor de candidatos contrários ao governo de Putin na eleição parlamentar de setembro. Ele, que nunca teve apoio considerável segundo pesquisas independentes, ganhou notoriedade a partir de 2017, quando mobilizou milhares contra o Kremlin com uso intensivo de internet.
Aos poucos, desenhou uma estratégia eleitoral, entre uma prisão e outra. Conta com o sucesso relativo nos pleitos locais do ano passado para tentar galvanizar o sentimento anti-Kremlin para quaisquer candidatos que não sejam do partido de sustentação do regime, o Rússia Unida.
O caso deteriorou a boa relação de Putin com Angela Merkel, gerou ameaças de cancelamento de negócios energéticos, mas aos poucos a temperatura baixou. Os alemães precisam do gás russo e investem num megaprojeto no mar do Norte para dobrar sua capacidade de abastecimento.
O futuro de Navalny também poderá influenciar o início do relacionamento entre Putin e Joe Biden, o novo presidente norte-americano que assume na quarta-feira (20). Eles têm uma lista grande para tentar acertar a dinâmica entre as duas maiores potências nucleares do mundo.