Empreendedores, que há décadas apostam na iguaria, tornaram a cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre uma referência

Diga xis: três negócios que vivem do lanche em Canoas


Empreendedores, que há décadas apostam na iguaria, tornaram a cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre uma referência

Cada cidade é conhecida por um motivo. Porto Alegre tem o pôr-do-sol do Guaíba, Erechim é a capital da amizade, Bento Gonçalves é o berço dos vinhos. Canoas é a cidade do xis. E não é folclore. Projeto de lei aprovado em 2015 pela Câmara Municipal, denominou Canoas como a cidade do típico xis gaúcho. A data, celebrada no dia 28 de maio, é um orgulho para as empreendedoras e empreendedores que enxergaram no lanche uma possibilidade de negócio.
Cada cidade é conhecida por um motivo. Porto Alegre tem o pôr-do-sol do Guaíba, Erechim é a capital da amizade, Bento Gonçalves é o berço dos vinhos. Canoas é a cidade do xis. E não é folclore. Projeto de lei aprovado em 2015 pela Câmara Municipal, denominou Canoas como a cidade do típico xis gaúcho. A data, celebrada no dia 28 de maio, é um orgulho para as empreendedoras e empreendedores que enxergaram no lanche uma possibilidade de negócio.
Circulando pela rua Dr. Barcelos é possível ver muitos locais que oferecem o lanche. Esse cenário, segundo Luciano Gradaschi, 62 anos, era muito diferente há alguns anos. Proprietário da Taberna do Gato 2, ele conta que o xis faz parte da história da sua família. Quem começou na empreitada, no início dos anos 1980, foi o seu irmão mais velho Luis Antônio Gradaschi. “Fomos os primeiros a chegar aqui na rua. Ele abriu um trailer nessa esquina para vender xis e foi quando ficou famoso. A partir daí, os irmãos vieram para trabalhar junto e, hoje, nós cinco vivemos do xis.” Em 2000, ele abriu o seu empreendimento próprio em sociedade com o irmão Ricardo Estevão Gradaschi. O local, na rua Dr. Barcelos, nº 921, é fruto dos lucros do lanche. “Cheguei até aqui porque tive visão de mercado. Na época, o xis dava muito dinheiro e nós construímos esse prédio de quatro andares só com os lucros.”
LUIZA PRADO/JC
Mas se o passado foi próspero, o presente não está sendo tão generoso. O título recebido pela cidade fez com que aumentasse a oferta de locais de xis. “Houve uma divulgação muito grande de Canoas como a cidade do xis. Onde tu vai, hoje, tem um xis. Quando chegamos na Dr. Barcelos, não tinha nenhum estabelecimento de alimentação. Hoje tem 32 e, desses, mais de 10 são só de xis. É muita gente”, explica Luciano. Para aumentar a clientela, ele passou a servir buffet de a la minuta no almoço. “Mas, mesmo assim, eu tenho concorrentes bem mais poderosos, fica difícil competir com eles”, pondera Luciano, que vende, em média, 60 almoços por dia.
Para manter a competitividade, Luciano afirma que o segredo é ter bom preço e qualidade. O valor do xis varia de R$ 15,00 a R$ 22,50; já o buffet, custa R$ 18,00. Apesar da grande quantidade de estabelecimentos que oferecem o lanche na cidade, ele acredita que o desafio está em competir com locais não regularizados que também servem xis. “A maioria acompanha o meu preço ou colocam um pouquinho mais. Mas tem uma concorrência muito desleal, que são os xis clandestinos. Meu padeiro me conta que tem meses que vende mais pão para as pessoas que fazem tele-entrega clandestina que para os tradicionais”, conta Luciano. A Taberna 2 comercializa em torno de 100 unidades do lanche por dia. Como foi um dos primeiros a chegar na rua, ele acredita que acaba servindo de referência para os outros e que a relação entre eles é de uma concorrência saudável. “Eles vêm aqui, eu vou no deles. Não é porque nós somos concorrentes que vamos ser inimigos. Cada um tem que botar a criatividade para viver do seu negócio.”

A manutenção de um negócio tradicional

“A mesmice atrai”. O Xis Rei, tradicional lancheria de Canoas, que conta com dois pontos na cidade, tem como filosofia, nas palavras de Ieda Roos, sócia do empreendimento, a busca pelo simples todos os dias.
Há quase quatro décadas fazendo xis, Ieda conta que uma das filhas contesta. “Mãe, vocês não inventam nada, não fazem nada de diferente, tem que fazer alguma coisa”, reproduz. Mas a prioridade no Xis Rei é justamente fazer o mesmo de sempre. “O cliente vem para comer aquilo que ele conhece e espera que esteja daquele jeito.”
Ieda afirma que para ela e seu sócio, Adair Dalmoro, o xis deu casa, carro e um bom encaminhamento para os filhos: todos possuem um negócio próprio e algum imóvel. Alguns, inclusive, investiram no ramo alimentício. O filho de Adair é proprietário da Hamburgueria Labareda e a filha de Ieda é dona do Enzu’s Lounge Bar.
Aberto de segunda à segunda, o Rei tem média diária de saída, durante a semana, de 200 xis. No final de semana os números ficam entre 500 e 600 ao dia. De segunda à segunda no local, Ieda quase não tem vida social. “Não existe, mas eu não reclamo. É o que eu sei fazer e eu gosto.”
LUIZA PRADO/JC
Nos locais que vendem xis em Canoas, a maionese é muito importante. No Rei não é diferente. Daquelas verdinhas, batidas com algum tempero. O pão também é tido como um referencial no local. “Mas o segredo mesmo é a mão, não tem o que dizer além disso. Por isso eu não largo o osso”, argumenta Ieda.
É de se esperar também que, com quase quatro décadas em atividade, haja boas histórias. “Tem um joão-de-barro que todo ano vem comer aqui. Tem até um vídeo na nossa página do Facebook. A gente brinca que nem passarinho resiste ao nosso xis”, orgulha-se Ieda.

Cia do Xis nasceu para atacar o movimento do Fórum

Este ano é especial para a família que administra a Cia do Xis, na rua Doutor Barcellos, nº 1.152, em Canoas. O negócio completa duas décadas só naquele endereço, mas a relação dos empreendedores com o lanche começou antes disso.
Foi o irmão de Roberto Cornelli, 56 anos, o Olmar, de Encantado, que contagiou os parentes. Na mudança para a Região Metropolitana de Porto Alegre, há mais de 40 anos, o clã todo confiou no xis para gerar sustento. E funcionou: Roberto conseguiu criar os filhos, oferecer estudos, faculdade, comprou carro e casa a partir dos lucros do pão com hambúrguer e salada.
Mesmo com todas essas conquistas, Roberto é quem comanda a chapa do empreendimento todas as noites. E, segundo sua esposa, a Regina, 52, que cuida do administrativo, esse é um dos segredos para o sucesso. Quanto menos houver troca de pessoal, melhor, pois a clientela se acostuma com o modo de preparo. Por isso mesmo, há funcionários há mais de 30 anos na empresa.
No início, os irmãos e primos eram sócios das lanchonetes. Com o tempo, cada um ficou com a sua marca. Roberto quis abrir na Doutor Barcellos quando soube que construiriam um fórum por ali. Bingo: em dias de audiência, as vendas vão às alturas. “Depende de quem está sendo julgado”, diverte-se Regina. Ela conta, inclusive, que advogados usam as cadeiras de plástico do estabelecimento para prestar seus serviços. E até a juíza inclui a típica iguaria canoense em sua dieta.
A Cia do Xis foi escolhida, também, por um grupo de motoqueiros como ponto de encontro toda quarta-feira. Conforme Michel Bagatini, 31, sobrinho de Regina e Roberto, e filho de Neli, dona da receita da maionese da casa (que trabalha junto no restaurante), são vendidos entre 300 e 350 xis por dia. Os preços variam entre R$ 16,00 e R$ 27,00.
Embora os números continuem otimistas, Roberto assume não ser fácil a vida que escolheu. “Tenho que trabalhar”, é a justificativa que usa, revelando que sai do ambiente sempre de madrugada.
Quando lhe questionam como é estar em um mercado tão competitivo, já que Canoas é considerada a cidade do xis, Roberto cita uma frase que ouviu de um jornalista dia desses. “O melhor xis é aquele que fica perto da casa da pessoa”, repete ele. 
LUIZA PRADO/JC