Porto Alegre, segunda-feira, 03 de setembro de 2018.
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Jornal do Com�rcio

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Gen�tica

Not�cia da edi��o impressa de 03/09/2018. Alterada em 02/09 �s 00h00min

Mercado dita vai e vem da presen�a de ra�as na Expointer

A italiana Chianina, que marcava presen�a nas d�cadas de 1970 e 1980, desapareceu da feira nos �ltimos 20 anos

A italiana Chianina, que marcava presen�a nas d�cadas de 1970 e 1980, desapareceu da feira nos �ltimos 20 anos


/FRANCO VANNINI/VISUALHUNT/JC
Ana Esteves

A Expointer � a grande vitrine da gen�tica pecu�ria do Estado. � de Esteio que saem os grandes campe�es que viram refer�ncia zoot�cnica para produ��o de descendentes excelentes nas suas fun��es, seja para produ��o de carne e leite, seja para brilhar nas pistas de provas equinas.

Nesse cen�rio, muitas ra�as chegam, se consolidam e se destacam na vitrine, pelos palcos dos leil�es e pelas pistas de julgamento. Outras t�m passagem r�pida, v�m pelos chamados "modismos", participam de poucas edi��es e n�o voltam mais.

� o mercado que dita as regras do vai e vem das ra�as na Expointer, seja a esp�cie que for. Entre os bovinos de corte est�o as que se consolidaram e j� viraram tradi��o, como as ra�as Angus, Hereford e Devon; as que foram moda e reduziram expressivamente a participa��o, como o Charol�s e o Limousin; e as que simplesmente sumiram, como a Chianina, ra�a italiana que era�presen�a constante nas d�cadas de 1970 e 1980, mas que desapareceu a partir de 1997.

A superintendente da Associa��o Nacional dos Criadores Herd-Book Collares (ANC), S�lvia Freitas de Freitas, nota que entre as ra�as com maior n�mero de animais inscritos est�o aquelas que, na d�cada de 1990, come�aram um trabalho de melhoramento e marketing. "Hoje, o consumidor quer qualidade de carne, como encontramos nos cortes de Angus e Hereford. H� uns anos, o foco era volume de carne e rendimento de carca�a, por isso se apostava tanto no Charol�s, tanto que, nas d�cadas de 1970 a 1990, falava-se nos campos brancos do Rio Grande do Sul, uma refer�ncia � pelagem desses animais", disse.

Segundo S�lvia, os criadores de Angus e de Hereford perceberam mais cedo as demandas do mercado por uma carne mais gourmet e, rapidamente, iniciaram um trabalho de sele��o. Os programas de carne certificada contribu�ram muito para o crescimento das ra�as, atrav�s de a��es de marketing expressivas. "Charol�s e Devon tamb�m v�m fazendo um trabalho de certifica��o importante, mas ainda est�o restritos a Santa Catarina", diz. De acordo com a superintendente da ANC, as associa��es de ra�as que trabalham com cruzamentos t�m, cada vez mais, publicado seus resultados, pois s�o eles que v�o convencer o produtor de que determinado tipo de animal � bom para cruzamento ou para ser criado puro.

O presidente da Farsul, Gede�o Pereira, destacou o "modismo do Charol�s" de quem, em 1988, inscreveu o n�mero recorde de 443 animais e, hoje, apenas 62. Nos anos de 1980, essa ra�a suplantou as brit�nicas. Era chamada de o "gado de prata que vale ouro".

Segundo Gede�o, os criadores faziam cruzamento entre Charol�s e zebu�nos que resultavam em um animal irregular. "N�o faziam cruzamento, e sim 'misturamentos'. Tamb�m teve o Santa Gertrudis, ra�a sint�tica e que tamb�m foi modismo", recorda. De acordo com o presidente da Farsul, as modas e suas misturas fizeram com que gado perdesse padr�o, ficando um "azebuado ordin�rio, cruzado com Charol�s que n�o era nem o Canchim (ra�a bovina sint�tica)", disse.

O programa de "rebritaniza��o" das ra�as ga�chas come�ou em 1990 para dar mais qualidade e maciez � carne produzida no Estado. As associa��es de Angus e Hereford fizeram conv�nios com frigor�ficos, que passaram a remunerar melhor pelo diferencial. "Hoje, os campos s�o dominados por gado vermelho (Red Angus), preto (Aberdeen Angus) e cara branca (Hereford)", diz Gede�o.

Grandes destaques de edi��es passadas, hoje, apresentam participa��o reduzida em Esteio

 O Charol�s, que chegou a dominar o pavilh�o dos bovinos de corte, sofreu queda de inscri��es diante das brit�nicas
O Charol�s, que chegou a dominar o pavilh�o dos bovinos de corte, sofreu queda de inscri��es diante das brit�nicas
/MATHEUS PICCINI/ESPECIAL/JC

O veterin�rio-chefe do Servi�o de Exposi��es e Feiras da Secretaria da Agricultura (Seapi), Jos� Arthur Martins, lembra que, na d�cada de 1980, o Charol�s era o bovino de corte com maior n�mero de inscri��es na Expointer, seguido pelo Santa Gertrudis. Em 1982, a feira chegou a contar com 566 exemplares de Charol�s, um recorde na categoria de bovinos de corte at� hoje n�o superado. "Mas, por quest�es de manejo alimentar, falta de sangue novo na ra�a e de novos criadores, essas ra�as come�aram a cair." Na edi��o de 2018, apenas 62 charoleses estiveram na feira.

A ra�a de corte Shorthorn foi outra que reduziu muito o n�mero de animais inscritos na Expointer - de 29 animais, em 1987, ano em que obteve maior n�mero de inscritos, para apenas nove nesta edi��o. "� considerada a ra�a m�e da bovinocultura ga�cha, mas, hoje, apenas um criador a traz para Esteio para manter a tradi��o", afirma a superintendente da Associa��o Nacional dos Criadores Herd-Book Collares (ANC), S�lvia Freitas de Freitas. A especialista diz que a redu��o da participa��o dos criadores tamb�m � influenciada pelos altos custos para participar da feira, al�m de sofrerem com o reflexo da crise econ�mica.

Martins lembra os casos "de marketing bem feito", como o Limousin. "S�o ra�as que entram, fazem barulho e quase somem. Na d�cada de 1990, o Limousin chegou a botar 150 animais na feira, e neste ano, foram 24 inscritos. S�o ra�as que t�m poucas varia��es de sangue, e alguns criadores acabam enjoando delas", explica.

O veterin�rio destacou, ainda, a redu��o do n�mero de b�falos na feira deste ano devido � baixa demanda de mercado. Em 1987, a Expointer contou com 101 b�falos inscritos, e, na feira de 2018, apenas oito foram ao parque.

Nos equinos, morfologia cede espa�o para funcionalidade

Provas funcionais, como o Freio de Ouro, do Crioulo, mudaram o foco do setor
Provas funcionais, como o Freio de Ouro, do Crioulo, mudaram o foco do setor
/FELIPE ULBRICH/ABCCC/DIVULGA��O/JC

A participa��o de cavalos na Expointer come�ou bem modesta. Em 1970, apenas 138 equinos foram inscritos. O crescimento teve um ritmo inicial lento, mas, a partir de 1986, a feira j� contava com mais de 900 cavalos, e os n�meros nunca mais baixaram desse patamar, chegando a 1.404 exemplares em 2006. Em 2018, foram inscritos 918 equinos.

O veterin�rio Jos� Arthur Martins diz que a flutua��o dos equinos na Expointer se deve, em grande parte, a uma mudan�a de perfil da mostra: antes, era a morfologia que se destacava; agora, s�o as provas funcionais. "Os criadores v�m com foco na funcionalidade, sejam de �rabe, Apaloosa, Quarto de Milha ou Crioulo. Provas como o Freio de Ouro est�o suplantando a morfologia, e, talvez, em pouco tempo, a Expointer tenha que se adaptar a esse perfil, criando novo regulamento para funcionalidade."

Os modismos tamb�m marcam participa��es, como no caso de Puro Sangue Ingl�s (PSI), Raflinger, Friesian e Morgan, que tiveram passagens r�pidas por Esteio. "Os criadores trazem como novidades, mas, se n�o tem retorno, acabam n�o voltando." Outras ra�as, como o Percheron, oscilam, v�o e voltam. Entre as aus�ncias deste ano est� o Mangalarga Marchador. Por outro lado, entre as ra�as que est�o se afirmando est� o Campeiro.

Novo perfil produtivo reflete no mercado do gado leiteiro

Neste ano, pela primeira vez na hist�ria, as inscri��es da Jersey (foto) na exposi��o superaram as do Holand�s
Neste ano, pela primeira vez na hist�ria, as inscri��es da Jersey (foto) na exposi��o superaram as do Holand�s
/CLAITON DORNELLES/JC

A concorr�ncia do mercado produtivo leiteiro tem feito com que muitos produtores optem por animais com maior const�ncia e rusticidade na hora de produzir leite. O crescimento da participa��o da ra�a Jersey - que, pela primeira vez, teve inscri��es maiores do que a Holand�s na Expointer - e das ra�as zebu�nas, como o Gir-leiteiro e suas cruzas, como o Girolando, � reflexo desse cen�rio.

"S�o ra�as mais r�sticas e menos predispostas a terem quebra do leite. Produzem menos, mas com mais const�ncia, ganham na manuten��o de produtividade", afirma o veterin�rio Jos� Arthur Martins. O Gir-leiteiro e o Girolando tamb�m t�m tido participa��o importante na feira, mantendo um n�mero alto de inscritos. "N�o s�o modismo, pois t�m obtido boa aceita��o, � uma gen�tica tropical que com gado de regi�o temperada tem funcionado muito bem no Centro do Pa�s", disse.

Outra ra�a que quase desapareceu e que, agora, est� voltando com for�a � a Normando, por uma readequa��o de aptid�o. "� considerada uma ra�a de duplo prop�sito que n�o funcionou bem como ra�a carniceira e que, agora, volta com for�a e foco na produ��o leiteira de qualidade", disse S�lvia Freitas de Freitas da ANC.

Da l� � carne, gosto do consumidor gerou mudan�as nos ovinos

 Ovelhas laneiras, como a Corriedale, lideravam as primeiras feiras
Ovelhas laneiras, como a Corriedale, lideravam as primeiras feiras
/MARCO QUINTANA/JC

Os ovinos voltados para a produ��o de l� - como Corriedale, Ideal e Merino Australiano - lideravam as inscri��es da Expointer nas d�cadas de 1970 e 1980. No entanto, a partir da d�cada de 1990, come�ou a ascens�o das ra�as de carne Texel, Hampshire e Ile de France. Nos �ltimos 10 anos, de uma m�dia anual de 800 ovinos inscritos na feira, 150 eram das ra�as de l�, e o restante, das de carne.

A mudan�a atendeu aos apelos do mercado, com maior foco em carne de qualidade, e n�o em l�. "Houve uma �poca em que a l� era a soja da propriedade, era o que sustentava a est�ncia. Continuamos produzindo l�, cujo valor de mercado tem aumentado, mas h� uma demanda forte do consumidor pela carne gourmet, por isso o destaque dessas ra�as na Expointer", disse o superintendente do registro geneal�gico de ovinos da Associa��o Brasileira dos Criadores de Ovinos (Arco), Edemundo Ferreira Gressler.

De acordo com Gressler, ao longo das d�cadas houve pouca oscila��o nas ra�as ovinas participantes da feira, com algumas tentativas de trazer exemplares novos, como foi o caso da Lacaune e da Santa In�s, ambas com aptid�o leite. "Temos temperaturas e sistema de produ��o muito particulares, e nem todas as ra�as conseguem se desenvolver. Tentaram introduzir a Merilin, a Polypay e a Bergamacia, mas n�o temos expertise para lidar com elas", recorda.

Tr�s ra�as est�o se consolidando: Dorper e White Dorper para carne, e Naturalmente Coloridas Texel - esta passou de seis inscritos, em 2012, para 45 em 2018. "S�o animais que est�o sendo selecionados e v�o ganhando status", diz Gressler.

Wagyu consolida participa��o e dobra inscritos em 2018

Mercado est� interessado no bovino japon�s, afirma Marco Andras
Mercado est� interessado no bovino japon�s, afirma Marco Andras
/LUIZA PRADO/JC

Uma ra�a que chegou discreta, com poucos animais, e que, hoje, marca presen�a e desperta o interesse dos criadores ga�chos � a Wagyu. Conhecida como caviar bovino, a ra�a, de origem japonesa, estreou em Esteio em 2012 com apenas oito animais e foi consolidando sua participa��o, com 15 animais inscritos em 2017 e 33 neste ano.

"� o mercado que vai determinar se uma ra�a fica ou se ter� participa��o passageira na Expointer, e o mercado para carne de Wagyu s� cresce. Os consumidores est�o cada vez mais exigentes, e os criadores, muito curiosos sobre a ra�a", afirma o criador e diretor de marketing da Associa��o Brasileira dos Criadores de Wagyu, Marco Andras. Toda produ��o do Estado vai para S�o Paulo, onde � comercializada como carne gourmet, com os quilos da picanha e do entrecot cotados de R$ 300,00 at� R$ 1 mil.

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