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Cultura

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Edi��o impressa de 08/06/2018. Alterada em 07/06 �s 23h45min

Contador de hist�rias

Otto se alfabetizou ao ler revistas em quadrinhos, j� que n�o havia livros em casa

Otto se alfabetizou ao ler revistas em quadrinhos, j� que n�o havia livros em casa


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Otto Guerra se alfabetizou ao ler revistas em quadrinhos, já que não havia livros em casa. Muito tempo depois, Nídia Guimarães, viúva do escritor Josué Guimarães, se transformaria em tutora intelectual do rapaz. "Até conhecer Nídia, eu tinha feito uma série de filmes sem ter lido praticamente nenhum livro, só quadrinhos. Ela me indicou obras de literatura", relata.
Otto Guerra se alfabetizou ao ler revistas em quadrinhos, já que não havia livros em casa. Muito tempo depois, Nídia Guimarães, viúva do escritor Josué Guimarães, se transformaria em tutora intelectual do rapaz. "Até conhecer Nídia, eu tinha feito uma série de filmes sem ter lido praticamente nenhum livro, só quadrinhos. Ela me indicou obras de literatura", relata.
A "tara" por contar histórias o acompanha desde criança, quando encenava textos improvisados, em cima da eletrola da sala de estar. "Eu era o autor, o ator, o diretor e também o público. O mundo caindo ao redor e eu encantado nesse universo imaginário, mergulhado nas minhas toscas e ingênuas HQs", relembra. O garoto taciturno e introvertido passava o veraneio em Tramandaí trancado no apartamento, desenhando "bonecrinhos", como dizia Alba. Levado pela mãe para almoçar no restaurante Miramar, empacou diante da vitrine de uma tabacaria para exigir a compra de um exemplar da revista de Tintin, personagem do belga Hergé. No Miramar, com a publicação em mãos, decidiu que seria um contador de histórias desenhadas: "Se ele (Hergé) vivia de fazer HQs, eu poderia viver também", pensou, enquanto sorvia o resquício morno do Nescafé que sobrara na xícara de Alba.
Alguns anos depois, ao colocar em prática o plano, o desenhista principiante zanzava pelo Centro da cidade com avisos pendurados no corpo - junto ao peito, "Compro ouro velho"; nas costas, "Faço caricaturas". Aos 19 anos, enquanto cursava Comunicação Social na Pucrs, filmou a primeira animação em Super 8, o curta Ernesto, sobre um funcionário público que, ao destravar uma gaveta emperrada, voa pela janela. Só depois da revelação percebeu que as imagens estavam de cabeça para baixo - havia gravado com a câmera virada.
Por sinal, mesmo depois de consagrado, Otto jamais desacreditou da máxima de que, "muitas vezes, os defeitos representam a melhor parte do filme". Talvez seja exagero, mas o que está por trás da crença é a ideia de que a falta de condições ideais de produção propicia a criação de novas linguagens. Em Rocky & Hudson, por exemplo, devido aos parcos recursos, foi obrigado a usar material reciclado. Por causa disso, vincos dos acetatos refletiam brilhos indesejados, especialmente nas cenas gravadas no castelo do vilão Doutor Brain. A solução foi acrescentar um áudio de trovões para que os reflexos se transformassem em faíscas elétricas, ampliando o clima de terror.
Em outra cena, devido a um equívoco de filmagem, o carro parecia se mover em marcha à ré. Como não havia negativo suficiente para refazer a ação, Otto improvisou uma fala de Silverado, o cavalo dos caubóis: "Merda de filme, o carro tá andando pra trás!".
Rocky & Hudson é um marco do cinema brasileiro, justamente em função da escassez de longas-metragens de animação - antes, só haviam sido lançados no País, neste formato, Sinfonia amazônica, de Anélio Latini Filho (1951); Presente de Natal, de Álvaro Henrique Gonçalves (1971); e Piconzé, de Ypê Nakashima (1972), além das adaptações da Turma da Mônica de Maurício de Sousa. "Rocky & Hudson legitimou a gente como produtores de animação", avisa Otto.
Antes de abrir sua própria produtora, Otto trabalhou no estúdio do argentino Félix Follonier, criando animação para comerciais. A primeira mostrava uma casquinha de sorvete de morango tentando refugiar-se inutilmente do sol abrasador embaixo de uma palmeira. O astro-rei afastava as folhas e lambia a "fugitiva", antes de exclamar: "Luigi, irresistível!". Na produtora de Follonier conheceu José Maia, com quem trabalha até hoje - Maia é sócio da Otto Desenhos Animados. Ao explicar a sintonia, Otto enuncia: "Ele é caprichoso e dedicado. Eu, preguiçoso e pragmático".
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