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Cultura

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Edi��o impressa de 08/06/2018. Alterada em 07/06 �s 23h45min

Otto Guerra em prosa e imagem

Cineasta no casar�o que abriga sua produtora, no bairro Rio Branco

Cineasta no casar�o que abriga sua produtora, no bairro Rio Branco


MARCO QUINTANA/JC
Em comparação com as adaptações de roteiro para o longa-metragem, escrever a autobiografia se constitui num desafio ainda maior para Otto Guerra. Habituado à linguagem dos quadrinhos, o autor admite que, para ele, "manejar as palavras é um atoleiro", mas as versões provisórias de Nem doeu, distribuídas aos amigos para colher opiniões, mostram que soube encontrar alternativas no tête à tête com as palavras. Otto escreve num ritmo de tirar o fôlego, recorrendo a uma linguagem com figuras em movimento, como se estivesse adaptando à literatura um de seus roteiros de animação - no caso, sua vida. Assim, o leitor é conduzido por um redemoinho de imagens às cenas que emergem de sua memória. "Decidi colocar minha cara à tapa, além de expor também outras personagens, que surgiram a partir do mergulho na profundeza de meus abismos."
Em comparação com as adaptações de roteiro para o longa-metragem, escrever a autobiografia se constitui num desafio ainda maior para Otto Guerra. Habituado à linguagem dos quadrinhos, o autor admite que, para ele, "manejar as palavras é um atoleiro", mas as versões provisórias de Nem doeu, distribuídas aos amigos para colher opiniões, mostram que soube encontrar alternativas no tête à tête com as palavras. Otto escreve num ritmo de tirar o fôlego, recorrendo a uma linguagem com figuras em movimento, como se estivesse adaptando à literatura um de seus roteiros de animação - no caso, sua vida. Assim, o leitor é conduzido por um redemoinho de imagens às cenas que emergem de sua memória. "Decidi colocar minha cara à tapa, além de expor também outras personagens, que surgiram a partir do mergulho na profundeza de meus abismos."
A maioria das pessoas aludidas tem os nomes alterados, a começar pelo alter ego do autor, Lotário - corruptela de otário, além de citação ao melhor amigo do mágico Mandrake (Lothar). Já o escritor pernambucano Marcelino Freire, autor de Angu de sangue e Contos negreiros (a quem Otto deu carona até Cruz Alta, onde ambos participaram de um evento sobre literatura underground, em 2016) ganha o pseudônimo de Suspiro Mendes.
Aliás, o convite para proferir a palestra na terra de Erico Verissimo representou mais um fator para deflagrar a ideia de escrever o livro, embora num primeiro momento tenha se sentido pouco à vontade numa roda literária: "Pessoal, lamento, sou uma fraude, não sou escritor e os roteiros dos filmes que dirigi não são meus", disse Otto para a plateia, em diálogo reproduzido na autobiografia pela boca do personagem Lotário.
Ninguém aflora com mais intensidade dos precipícios da memória do artista do que a mãe, Alba, uma dos poucas personagens com nome verdadeiro em Nem doeu. Com ela, Otto nutriu pela vida afora um "egoísta, vigoroso e violento amor", do qual herdou - quando Alba faleceu, há cinco anos - um cachorro eunuco, símbolo quase perfeito para o relacionamento entre mãe e filho. "Metaforicamente, ela arrancou as bolas dos filhos também bem cedo", reclama. Para justificar a sentença, ele menciona frases que escutava da mãe a seu respeito na infância: "Quem olha o meu filho não dá nada, mas é um gênio" ou "O que esse meu filho tem de feio tem de inteligente".
Nascido na Capital, Otto foi levado com poucos dias de vida para a estância da família no Alegrete. Numa tarde gelada, a mãe enrolou o bebê num amontoado de mantas e pelegos para conduzi-lo, numa carreta de boi, de uma edificação à outra da extensa propriedade. Ao chegar ao destino, quando desenrolou o emaranhado de cobertas, Alba percebeu que nada havia ali - sem que percebesse, a criança tinha escorregado e caído na estrada. "Correram para resgatar o presuntinho pelado", conta Otto.
As lembranças destacam, sobretudo, momentos em que Otto, adolescente, sentia vergonha da mãe, como quando ela lhe passava nacos de carne por baixo da mesa da churrascaria para pagar apenas uma refeição no espeto corrido. Ou quando, com 13 ou 14 anos de idade, ele se via obrigado a buscá-la, embriagada, em botecos. "Hoje, percebo que eu era preconceituoso. Deveria ter sido menos rude com ela." O pai, Félix, morreu por volta dos 40 anos de idade ao sofrer um ataque cardíaco durante o ato sexual. "Os indianos dizem que, ao chegar ao orgasmo, a pessoa tem uma pequena morte. No caso do pai, foi uma grande morte", comenta Otto, sem perder a piada.
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