Durante décadas as mulheres reclamaram da existência dos "Clubes do Bolinha", locais ou reuniões só com meninos ou homens, baseados nos personagens masculinos da revista com a turma da Luluzinha, mundialmente famosa personagem criada pela norte-americana Marjorie Henderson Buell, mais conhecida por Marje, em 1935. Nas histórias estava escrito na frente do Clube: Menina não entra. Aí Lulu, brincalhona, por exemplo, derramava um pote de melado na porta, só para implicar. Luluzinha tinha entre 8 e 10 anos, era esperta e teimosa, mas simpática e armadora de peripécias. Está agora com uns noventa e poucos anos e, pelo visto, vai viver por muito tempo ainda, ou para sempre, assim como Bolinha, Plínio, Aninha, Careca e outros imortais integrantes das histórias em quadrinhos. No Brasil Little Lulu e sua turma apareceram em 1955. Luluzinha foi considerada a garota mais famosa e amada do mundo. A Paramount fez 23 curtas-metragens com Lulu. Até hoje as expressões clube do Bolinha e clube da Luluzinha são utilizadas, para falar de encontros só com meninos/homens ou meninas/mulheres.
O fato é que hoje aumentaram os encontros, festas e atividades envolvendo apenas mulheres. Nada contra, claro, mas depois de décadas de reclamações a respeito de clubes de Bolinha, é de se pensar no assunto. Os clubes do Bolinha continuam, sem problemas. Democracia, respeito, liberdade e paz social é o que importa.
Os universos femininos e masculinos, bem como os respectivos interesses, sempre foram diferentes e a tal "guerra dos sexos" parece que chegará ao fim lá pelo quarto milênio. De mais a mais, hoje, segundo os especialistas, há dezenas de gêneros e aí falar em clubes de Bolinha e Luluzinha é meio superado. Há quem diga que, entre os "inimigos" tem havido muita diversão e comemoração nos campos de batalha da "guerra sexual". É boa ideia e constatação bem-humorada. É interessante pensar que as relações entre casais devem ser como jogar frescobol, jogo sem vencedores ou perdedores, ao invés de ser como partidas de tênis ou de outros esportes competitivos, onde um pensa que ganhou no final ou que conseguiu falar por último e ter, pretensamente, garantido sua superioridade.
Nessa questão de universos, gêneros e família, é bom lembrar que, segundo o IBGE, censo de 2010, no Brasil 50,06% das famílias não são mais compostas de pai, mãe e filhos. De lá para cá, com as transformações familiares, esse percentual deve ter crescido. Essas transformações nas famílias mostram que precisamos novos parâmetros de comportamento e que é preciso pensar em novas formas de convivência. Divisões muitas vezes não ajudam.
Em países nórdicos, por exemplo, existem normas e atividades, inclusive em escolas, para aproximar bolinhas e luluzinhas, que devem dialogar, conviver e aprender a fazer o serviço doméstico de modo igualitário. Convívio e diálogo no mesmo "clube" a partir da infância certamente produzem bons resultados para a vida adulta.