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Porto Alegre, domingo, 27 de maio de 2018.
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Not�cia da edi��o impressa de 28/05/2018. Alterada em 27/05 �s 21h13min

Engenheiro da Nasa d� li��es de gest�o para empresas

San Mart�n desembarca pela primeira vez no Brasil em evento na Capital

San Mart�n desembarca pela primeira vez no Brasil em evento na Capital


/PMI/DIVULGA��O/JC
Patricia Knebel
Alejandro Miguel San Martín ficou conhecido por seu trabalho como engenheiro-chefe do Sistema de Orientação, Navegação e Controle nas últimas missões para Marte. Sua contribuição mais conhecida é o sistema Sky Crane, usado na missão Curiosity para a descida do rover, um veículo robusto responsável pela exploração no planeta Marte. No início de junho, o engenheiro argentino da Nasa e professor de ciências estará em Porto Alegre para participar do 13º Congresso de Gestão, Projetos e Liderança, que acontece entre os dias 4 e 6, no Centro de Eventos da Pucrs. A ação é capitaneada pelo Project Management Institute do Rio Grande do Sul (PMI-RS) e tem organização conjunta com os demais capítulos regionais do PMI no Brasil. Nesta entrevista, San Martín fala sobre algumas das experiências que tem vivido no espaço, seus próximos projetos e também o que uma missão como a de Marte pode ensinar sobre a gestão das empresas. O congresso do PMI deve reunir mais de mil pessoas, e entre os painelistas confirmados também estão o chinês Jack Hsieh, que foi chefe da equipe de gerenciamento de projetos da Sony Ericsson; o especialista em gestão de projetos e atual diretor executivo da Brightline Initiative, Ricardo Vargas; e o alpinista profissional Cristiano Müller, um dos poucos a conseguir escalar o Monte Everest. As inscrições para o evento podem ser feitas pelo site www.cbgpl.org.br/inscricoes.
Jornal do Comércio - Qual é o maior desafio de coordenar um projeto como a missão a Marte?
Alejandro Miguel San Martín - O maior desafio foi executar minha visão sobre o projeto quando cada um dos engenheiros que trabalhavam para mim tinha suas próprias ideias, às vezes diferentes das minhas. Estamos falando de engenheiros altamente qualificados e experientes, todas as qualidades que procurei nos membros da minha equipe. Para enfrentar esse desafio, tive que fazer algumas coisas. A primeira delas foi estudar para me tornar um especialista em cada uma das diferentes especialidades dos meus engenheiros, algo fundamental para ganhar o respeito deles. O segundo passo foi explicar claramente a minha visão e, em terceiro lugar, ouvir com cuidado e com uma mente aberta as objeções da equipe sobre as minhas ideias, e, a partir disso, adaptar ou mudar sem problemas de ego quando eles estavam certos. O quarto passo é saber perceber, nas situações em que não havia consenso sobre um tema específico, se eu deveria insistir na minha visão, explicando claramente porque insisti nesse caminho. Essa última medida é a mais delicada, porque é importante que cada engenheiro se sinta dono, responsável e orgulhoso de seu produto, e essa medida pode comprometer isso. Felizmente, depois de um começo em que aprendemos a trabalhar em equipe, raramente precisei chegar a isso. Manter uma visão, arquitetura e estética de design com um grupo diversificado de engenheiros se transformou em um grande desafio que me consumiu intelectual e emocionalmente durante os oito anos de trabalho da Curiosity.
JC - Como a gestão eficiente de projetos contribui para o sucesso de missões da Nasa?
San Martín - O que distingue as missões espaciais - seja da Nasa, seja de outras agências espaciais - de outras atividades do empreendimento humano é que, nas missões espaciais, não há margem para erros. Por exemplo, o dia da descida da Curiosity em Marte foi a primeira vez que o sistema foi testado na íntegra. Em Terra, testamos exaustivamente diferentes partes da nave, como motores e radar, mas, para avaliar o comportamento de todas as partes juntas no ambiente marciano, tínhamos apenas simulações feitas por computador. Naqueles sete minutos da descida - que apelidamos de os sete minutos de terror -, estava em jogo US$ 2,5 bilhões, o custo da missão. Enfrentamos esse momento sabendo que, mesmo se fizéssemos 99,9% do trabalho bem, o 0,1% que viéssemos a fazer errado poderia nos custar a missão. Desenvolvemos uma cultura empresarial que, na minha opinião, é a chave para o nosso sucesso.
JC - Quais são as lições de gerenciamento que uma missão como essa pode oferecer às empresas?
San Martín - Nessas missões, fica clara a importância do trabalho em equipe, a integridade, a honestidade, o respeito e a comunicação clara para cima e para baixo. Também é extremamente importante que qualquer membro da equipe tenha a oportunidade de expressar sua opinião e que ela seja considerada. Essa cultura da Nasa também não pune aqueles que têm a coragem de informar à equipe que cometeram um erro, desde que, naturalmente, não seja o resultado de violação de regras, a preguiça ou o orgulho. A transparência é fundamental e vale para todos. Essa cultura, da qual temos muito orgulho e a qual tentamos manter e cultivar, é muito aplicável e fundamental para todas as empresas. Acho que isso é algo que é muito bem conhecido, mas, mesmo assim, por alguma razão, algumas companhias não conseguem implementá-lo, pelo menos em algum grau. Nós, da Nasa, não temos essa opção.
JC - O que há de mais moderno no desenvolvimento de sistemas de controle para veículos de exploração hoje?
San Martín - Com a Curiosity, implementamos, pela primeira vez em Marte, orientações atmosféricas guiadas para reduzir a área de pouso, o que nos permitiu pousar em lugares estreitos, mas cientificamente importantes, como o Crater Gale - o objetivo da Curiosity. Essa técnica foi desenvolvida pela Nasa nos anos 1960 para que as cápsulas Gemini e Apollo pousassem perto dos porta-aviões, e tivemos que adaptá-la para a atmosfera de Marte. Outro desenvolvimento importante foi o Skycrane, um sistema de descida que se assemelha a um helicóptero transportando uma carga, que, no nosso caso, é o Curiosity Rover. Essa técnica inovadora nos permite depositar o veículo lentamente nas suas rodas, pronto para o trabalho. Na próxima missão a Marte, em 2020, vamos levar um rover com as mesmas características da Curiosity, mas novos e mais avançados instrumentos científicos. Teremos um novo sistema de navegação automática que, durante a descida, vai captar imagens com uma câmera e, em seguida, compará-las com um mapa da superfície de Marte que leva a bordo para determinar com precisão a sua localização no planeta. O conhecimento da sua localização permitirá que a nave determine o local mais próximo e seguro para pousar usando outro mapa a bordo que registre essas informações.
JC - Qual é o seu próximo grande projeto?
San Martín - Sou consultor em várias missões, mas a maior parte do meu tempo está sendo dedicada ao estudo para colocar uma nave na superfície da Europa, a lua de Júpiter, que tem mais água líquida do que a Terra. O interesse científico é que a presença de água líquida e outros elementos torna possível que haja vida hoje naquela lua. Saber se a vida se originou apenas na Terra ou se é algo comum no universo é uma das grandes questões da humanidade, e a Europa poderia ser o melhor lugar em nosso sistema solar para nos permitir responder a essa pergunta. O desafio é enorme, mesmo quando comparado a uma descida a Marte.
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